À volta das letras com Maria Amélia Martins-Loução

Maria Amélia Martins-Loução é bióloga, professora catedrática aposentada de Ciências da Universidade de Lisboa, investigadora no Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Globais e presidente da Sociedade Portuguesa de Ecologia. Doutora em Biologia e agregada em Ecologia, tem um mestrado em Comunicação de Ciência. Lançou agora o ensaio «Riscos Globais e Biodiversidade» onde defende que a perda de biodiversidade é ainda mais alarmante do que as alterações climáticas.

Estivemos à conversa com Maria Amélia Martins-Loução não só para perceber todas as problemáticas que aborda nesta obra, como para conhecer o seu percurso académico.

Como surgiu o seu interesse pela ciência e, mais concretamente, pela biologia?

Desde muito cedo o que mais me atraía era a ciência, a vida, como é que ela se forma e se regula. Inicialmente, pensei em seguir a vontade do meu pai e ir para Medicina, mas rapidamente dei comigo a escolher Biologia. Aliás, lembro na altura ter realizado os testes psicotécnicos para me sugerirem o que escolher e fiquei espantada porque listaram todos os cursos desde Medicina, Biologia, Química, Física, terminando em Matemática. Ao meu irmão indicaram apenas Medicina. Na altura, fiquei muito aborrecida por não ter sabido responder correctamente… achava que a culpa tinha sido minha que tinha baralhado a avaliação.

Conte-nos um pouco o seu percurso académico?

O meu percurso foi simples. Sempre fui muito boa aluna, desde a primária, pelo que, quando cheguei à Faculdade de Ciências, não tive qualquer dificuldade em fazer o curso com uma média “muito” elevada (16), para a altura. Quando cheguei ao fim, concorri ao ensino – era um pro-forma – mas nem me preocupei, nem fui indagar por não ter sido colocada. Isto porque, ainda antes de ter defendido o relatório de estágio, fui convidada para assistente na Faculdade. Nessa altura não havia concursos e os docentes entravam por convite. Aliás, eu já tinha entrado dois anos antes como monitora e por isso foi um passo normal passar a integrar os quadros da Faculdade, sempre de forma provisória. Só muitos anos mais tarde passei a efetiva, depois de ter defendido a minha tese e ter estado ainda algum tempo a mostrar se merecia a integração nos quadros da Universidade. Ao contrário do que se passa atualmente, eu só terminei o doutoramento em 1985, apesar de ter entrado como docente em 1972. Nesses anos a carreira fazia-se a pulso, sem grandes condições laboratoriais, sem acesso a grandes revistas, a livros recentes, embora a biblioteca fosse muito boa e nos permitisse pedir – pelo correio – cópias dos artigos. Levava tudo muito mais tempo e nem sentíamos problemas com isso. As aulas também eram um desafio constante, com práticas novas, visitas de estudo para preparar, porque nessa altura as aulas não se limitavam ao laboratório. As possibilidades de ir para o estrangeiro eram escassas; primeiro as dispensas de serviço eram difíceis de conseguir e o financiamento tinha de ser muito objetivo e ter um plano de trabalho detalhado.

Havia o Instituto Nacional de Investigação Científica e a Gulbenkian. Qualquer deles financiava longas estadias para desenvolvimento do doutoramento no estrangeiro e a seleção era muito rigorosa. Apesar de ter usufruído de financiamento por parte das duas entidades em alturas diferentes, eu queria mostrar que conseguiria realizar o doutoramento em Portugal. Depois de quase oito anos a seguir uma linha de trabalho, sem grandes resultados inovadores, acabei por desistir e mudar de pergunta científica para uma área que, nessa altura, estava no topo das preocupações internacionais: a fixação de azoto por bactérias e sua interação com as plantas. Arranjei então um compromisso entre fazer parte do doutoramento em Salamanca e o restante em Lisboa. Tive de construir e organizar as condições laboratoriais à semelhança do que tinha no estrangeiro. Nessa altura, já tinha dois filhos e era muito duro para mim estar muito tempo fora. Salamanca, para além de na altura ter um laboratório de referência internacional nessa área, tinha um comboio – o Sud Express – que me permitia vir com alguma frequência, mesmo à custa de inúmeros sacrifícios, pessoais e financeiros. Quando terminei a parte prática e comecei a redigir a tese, recebi um convite para defender o trabalho na Universidade de Salamanca. Recusei, era para mim um orgulho defender na Universidade de Lisboa, onde se contava pelos dedos de uma mão os doutoramentos em Biologia, defendidos nas duas últimas décadas. Ironia do destino; hoje, sou um dos casos de endogamia da Universidade já que entrei jovem e não mais saí. Não se atende a todo o percurso académico, ao facto de ser mulher, em idade fértil e às circunstâncias do desenvolvimento científico do país, à época. Pelo facto de ser casada com filhos nunca abdiquei de fazer estadias no estrangeiro, antes e depois do doutoramento, o que me permitiu aumentar as colaborações com laboratórios e investigadores de renome internacional.
Felizmente que contei sempre com o apoio incondicional dos meus pais bem como a compreensão e suporte do meu marido. Ao longo do meu percurso estabeleci sempre as prioridades até chegar ao topo da carreira académica como professora catedrática. Nessa altura, com grupo de investigação organizado e estabilizado, achei que estaria na altura de fazer serviço público e daí ter anuído em ser presidente de departamento da Faculdade de Ciências.

Daí, passei para a direção do Jardim Botânico, presidência do Museu Nacional de História Natural e finalmente vice-reitora da Universidade de Lisboa. Só deixei de dar aulas no meu segundo ano de mandato de vice-reitora, mas continuei sempre a desenvolver e a alargar o meu grupo de investigação. Também nunca perdi a oportunidade de sair para o estrangeiro, onde partilhava conhecimentos e estabelecia ligações para o meu grupo de investigação. Se no início, na Faculdade de Ciências, lancei e aprofundei a área das interações planta-microrganismo ao nível dos indivíduos e comunidades, posteriormente, no Jardim Botânico, dediquei-me à conservação de espécies vegetais, dentro e fora do seu habitat e a desenvolver programas de educação não formal direcionada às escolas. Ao longo do meu percurso coordenei diferentes projetos, nacionais e internacionais, redes internacionais e com isso angariei diferentes prémios internacionais. Em Portugal, fui reconhecida como Mulher de Ciência pela Agência Ciência Viva, que muito me honra. Ao fim de 43 anos de docência aposentei-me e resolvi de novo estudar, sempre com o objetivo de aprender coisas diferentes mais ligadas com a comunicação e a educação. Foi assim que me matriculei no mestrado em Comunicação de Ciência da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova. Era o grau que me faltava, mestre, que muito me orgulha. Atualmente, tenho-me dedicado mais a escrever e a dinamizar a SPECO.

Nunca pensou seguir outro caminho que não este?

Pensei, sim. Quando estava desesperada, sem resultados inovadores no âmbito da minha primeira linha de doutoramento, pensei em ir para Medicina. Nessa altura era-me fácil, tinha antigos colegas que o fizeram, já que havia equivalência direta da Biologia lecionada em Ciências, faltando apenas a Anatomia para passar para o 4º ano. Mas, depois, o gosto pelas aulas, pelo ambiente e investigação em que estava inserida falaram mais alto.

E a ecologia, onde entra ela na sua vida?

Pois talvez tenha sido por isso que acabei mesmo por permanecer em Ciências. Sempre me apaixonou compreender porque é que certas plantas ou animais se adaptavam melhor a determinados habitats. O que levava alguns a conseguirem viver em áreas inóspitas. Como se mantinham as relações entre os organismos quando está tudo em mudança. Por outro lado as décadas de 70 a 90, do século XX, catapultaram a Ecologia como área moderna da ciência.
As questões científicas que se colocavam eram inúmeras e, por isso, procurar perceber porque é que nem todas as plantas estabelecem simbioses com bactérias fixadoras de azoto atmosférico, acabou por me fascinar. Utilizei a alfarrobeira como planta mediterrânica modelo e compreendi que, ao contrário do que na altura se dizia nos livros, as plantas podem preferir diferentes formas de azoto. Respostas à pergunta inicial ficaram por responder, mas contribuí para algum conhecimento sobre a natureza das interações entre plantas e microrganismos. Ainda hoje, ao fim de mais de 35 anos, e apesar de muitos avanços no conhecimento, há muito para compreender. Estou certa que esse conhecimento vai ter enorme impacto na eficiência da produção agrícola.

Para si o que é ser ecologista?

Prefiro responder antes o que é ser ecóloga, ou seja, um profissional, um investigador, que trabalha na área de ecologia. Os ecólogos têm, ou procuram ter, uma visão holística sobre o ambiente, sobre os ecossistemas. Quando defendem determinadas ações de gestão ou criticam certas estratégias políticas fazem-no baseados em conhecimento científico, deles ou dos grupos especialistas que consultam. Ou seja, rebatem ações e/ou aconselham outras com base em resultados obtidos através de estudos científicos. Um ecólogo é um cientista. Um ecólogo pode ser um ecologista, ou seja pode defender ações de verdadeiro atentado contra o ambiente, mas sempre com base em conhecimento científico. Mas um ecologista não é necessariamente um ecólogo quando defende ou critica pela causa, pelo movimento, por detrás de uma causa, sem ter noção cabal do que se sabe do ponto de vista científico. Felizmente que a maioria das ONGs portuguesas possuem quadros técnicos científicos, especialistas em diferentes áreas. Não se pronunciam sem conhecimento credível por detrás. Procuram, antes, ser responsáveis na defesa da salvaguarda dos recursos naturais e não de interesses públicos ou pessoais.

É hoje muito diferente do que era ser ecologista quando começou a sua carreira?

Foi precisamente na altura que comecei a interessar-me pela investigação ecológica que se demarcaram as duas vertentes da ecologia: a científica, introvertida e o movimento apostado em denunciar tudo o que o Homem estava a fazer ao ambiente. A partir da década de 60, a disparidade de igualdades era muito grande e o impacto do crescimento e desenvolvimento económico do pós-guerra sobre o ambiente começou a ser visível. Desabrocharam, nessa altura, dois grupos: um, influenciado por Rachel Carson e Barry Commoner, apostados em denunciar o impacte negativo do Homem no ambiente e outro, mais científico e profundo, liderado por Eugene Odum e Paul Ehrlich, que incluíam, nos seus estudos, o Homem como outra espécie da natureza. Eu era aluna universitária quando surgiu esta quase separação, que nessa altura nem se entendia como tal, já que eram todos biólogos. Claro que li os “Limites do Crescimento”, do Clube de Roma e a “Primavera Silenciosa”, de Rachel Carson. Mas o livro de cabeceira da Ecologia era o “Odum” como intitulávamos. Habituámo-nos a ser um pouco delatores de problemas mas, como cientistas introvertidos acabámos por investir no conhecimento muito mais do que no movimento. A carreira universitária e científica era (e é) muito exigente e deixava pouco espaço para outras lides que não a construção de um curriculum científico credível e estável. Mas lembro a constituição da LPN (Liga para a Proteção da Natureza), que abracei desde logo, e sempre apoiei as suas denúncias até porque conhecia – conheço e respeito – a maior parte dos seus dirigentes. E posteriormente a SPECO (Sociedade Portuguesa de Ecologia). Esta ajudei a constituir e organizar, por ser mais uma sociedade científica que privilegia a partilha do conhecimento científico, a formação e não tanto uma organização apostada em defender uma causa.

Por que surgiram os problemas ambientais?

Os problemas ambientais surgiram quando o Homem deixou de ser caçador/coletor e aprendeu a trabalhar a terra e a produzir o seu alimento. Foi a partir dessa altura que o Homem começou a domesticar a natureza e o ambiente. À medida que o conhecimento e a tecnologia foram evoluindo, mais impactos surgiram. O caso mais paradigmático foi a descoberta dos fertilizantes. Com a descoberta, por Fritz Haber, do processo químico capaz de extrair azoto da atmosfera, reacção realizada apenas por algumas bactérias, e o desenvolvimento industrial do mesmo por Carl Bosch, deu-se uma enorme revolução. O processo Haber-Bosch, como passou a ser denominado, permite justificar o aumento da população mundial. Nessa altura o Homem apropriou-se da produtividade da terra e libertou-se de uma das barreiras que mais impedia a produção.

Podiam as sociedades evoluir sem originar esses problemas?

Dificilmente. Ao “fixar-se” num local, o Homem está a alterar o padrão de comportamento “normal”, comparativamente aos outros organismos vivos.
Enquanto espécie animal, o Homem desenvolveu capacidades diferentes que lhe permite uma supremacia, reconhecida de forma egocêntrica. O que fez tem justificação: pretendia desenvolver conhecimentos e criar ferramentas inovadoras para melhorar as condições de vida, dele e dos seus. Isto cria a ideia ingénua de seres invencíveis. A evolução do modelo económico vigente a nível mundial e a bitola por que se rege, faz o resto. A natureza, pelo contrário, é lenta nas respostas, vai-se adaptando, moldando, mas quando reage é porque as alterações são abruptas e muitas vezes irreversíveis. Como a resposta não é imediata, raramente confere um sentimento de culpa ao Homem pelo ato executado, passado. Enquanto indivíduos não agimos por querer; somos antes impelidos a tomar determinados comportamentos como a maioria faz. Cada um destes pequenos atos egoístas vão sendo amplificados à medida que a população mundial aumenta. É uma bola de neve difícil de derreter ou desfazer.

Na sua opinião quais os maiores riscos que a biodiversidade corre hoje?

A insensibilidade, o desinteresse e a ignorância.
As populações são cada vez mais urbanas e a terra, ou casa de origem de pais ou avós, está cada vez mais distante e afastada da realidade do dia a dia. O “natural” é trazido para a urbe de forma artificial. Não são as espécies autóctones ou silvestres que são trazidas, são outras, as exóticas que crescem rapidamente dando a ilusão de equilíbrio de uma paisagem natural. Como já não há conhecimento do que é natural e silvestre, o que se oferece, se for cuidado e agradável, não cria outra necessidade. Quem não conhece não ama, nem sente a falta, é insensível.
Por outro lado, os parques são usados maioritariamente para praticar exercício físico, para as crianças ou os animais poderem correr ou brincar. A prática de andar, parar para ler ou pensar, é muito pouco usual nos países latinos. Por outro lado são pouco visitados, ou usados, para “ver”, conhecer a vegetação ou os animais que dela dependem, porque isso não é interessante nem motivo de conversa. São sistemas artificiais ou artificializados que cumprem as características de espaços verdes mas à custa de muita água; bem, cuja quantidade está a diminuir. Isto não gere preocupação por parte da grande maioria dos cidadãos, cujo tempo é pouco para usufruir plenamente destes espaços. Se eles estiverem verdes e limpos é quanto basta, não há interesse por mais. Muito menos dos espaços naturais, das áreas protegidas, cujo acesso é pouco conhecido e de acessibilidade difícil, sem indicações claras.
A falta de conhecimento, a ausência de informações dos media sobre o significado e papel da biodiversidade, de publicidade de parques e reservas mal geridos e desacompanhados, de avisos, ou chamadas de atenção fazem o resto.

Estão os humanos alerta o suficiente para esses perigos?

Não, infelizmente. O vulgo cidadão tem o que necessita. E se necessita algo premente, é de casa, comida, saúde. A ligação desses bens primários com a biodiversidade e as consequências da sua falta para a casa, comida, bem estar e saúde não são conhecidos.

Por que sentiu necessidade de escrever Riscos Globais e Biodiversidade?

Precisamente para chamar a atenção que há mais riscos para além das alterações climáticas e que a solução para os problemas ambientais que hoje e futuramente nos afetam, não se resolvem apenas com a neutralidade carbónica. Se continuarmos a ignorar a necessidade de impedir a perda de biodiversidade, dificilmente conseguiremos minimizar os riscos climáticos. Para além das emissões provenientes da queima dos combustíveis fósseis, tem sido a alteração dos ecossistemas para áreas urbanas ou produtivas a potenciar os aumentos de gases com efeito de estufa.
A perda de biodiversidade afeta o clima: a desflorestação, a erosão do solo, o declínio dos corais, são promotores de emissão de dióxido de carbono. O aquecimento global afeta a variabilidade genética, a riqueza de espécies e os ecossistemas. Ou seja, alterações climáticas e biodiversidade estão interligadas. Por isso, a conservação da biodiversidade deve ser assumida como ferramenta de minimização das alterações climáticas.

Quais os objetivos deste livro?

Este livro tem como objetivo realçar a ligação entre diferentes riscos globais e a biodiversidade, como ferramenta para minimizar os presentes problemas ambientais. Tem ainda um outro fim que é o de divulgar estes temas, começar a falar para o grande público destes problemas eminentes que não podem ser ignorados. Estes são assuntos que deviam ser amplamente discutidos por todos para serem ouvidos, fazerem parte do léxico comum.

Corremos mesmo o risco de desaparecer?

De acordo com a evolução geológica do planeta as alterações que se perspetivam em termos de movimentos de massas continentais e oceânicas, vão originar períodos climáticos pouco “simpáticos” para a sobrevivência humana. Mas, antes disse acontecer, poderão surgir catástrofes, um pouco como as que se têm sentido em algumas partes do mundo, que irão resultar em inúmeras perdas humanas. Mas, a capacidade de resiliência da espécie humana é grande, capaz de superar graves problemas, e um dos exemplos foi o da pandemia que recentemente nos afetou e foi capaz de alterar todo o nosso comportamento de vida na sociedade. Poderemos voltar um dia ao “quase” normal, mas dificilmente teremos as mesmas atitudes e comportamentos. Será que isto nos alertou para alguma coisa? Era bom haver mais discussões sobre o assunto, falar e discutir sobre as causas da pandemia, desta e de outras epidemias que afetam e abalam a saúde pública. Tudo está relacionado com o modo como “penetramos” e alteramos os ecossistemas naturais.

Que conselhos deixa a quem estiver a ler esta entrevista e tenha o desejo de ajudar a resolver estes problemas?

Que procure saber mais sobre biodiversidade: o que é, para que serve, onde a podemos “ver” e como conservar. Importa também consciencializar que nós, enquanto indivíduos, podemos alterar o nosso ambiente e dar o exemplo, a nível local, de uma cidadania ativa e informada.

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