Tindersticks no Coliseu de Lisboa. A elegância intemporal das boas canções

Contam-se pelos dedos das duas mãos as vezes que já vimos os Tindersticks ao vivo, mas a verdade é que de cada vez há sempre algo de novo para sentir e para contar. O que permanece imutável é a elegância das boas canções.

Texto: Sandra Pinto
Fotos: Luís Pissarro

Em 2021 a banda inglesa chegou a Portugal pela mão da Locomotiva Azul, a quem, obviamente, todos os fãs devem o devido agradecimento. O pretexto desta visita era a celebração dos 30 anos de vida do coletivo, devidamente assinalados com um álbum, Past Imperfect: The Best of Tindersticks 92-21, onde estão concentrados os grandes temas que fazem parte, mais do que a história dos Tinderstick, da nossa própria história.

Sexta-feira 13. Dia que para os supersticiosos é de pouca sorte, foi neste mês de maio um dia de muita sorte e felicidade para todos os que praticamente enchiam a sala de espetáculos lisboeta. A emoção apoderou-se de todos mal Stuart Staples entra em palco. De chapéu, o qual nunca tirou, apesar do calor que se fazia sentir no Coliseu, o vocalista fez-se acompanhar de David Boulter, nas teclas, Neil Fraser, na guitarra, Dan McKinna, no baixo e Earl Harvin Jr, na bateria. A grande surpresa, foi a presença da orquestra que, sem dúvida, veio dar um ambiente ainda mais intenso e emotivo a cada canção do alinhamento.

Este percorreu a já longa carreira da banda fundada em 1992, tendo pontuado em instantes memoráveis de pura poesia. Vivendo da música em contraposição com o silêncio, a música dos Tindersticks não envelhece, antes permanece dona e senhora de uma elegância imutável. Desde sempre acarinhado pelo público português, o grupo de Nottingham trouxe a palco a magia das suas canções que vivem no fino equilíbrio entre a densidade e a melancolia. O resultado chega até nós em forma de canções cheias de diferentes texturas envolvidas por uma beleza estonteante que inundam a essência de quem as ouve.

A voz de Staples entra sem pedir licença por cada poro da nossa pele, a qual se arrepia quando os violinos decidem chorar as suas notas sobre as palavras cantadas. Sussurros de poesia, canções como, Another Night In, Travelling Light ou Medicine adensam-se em elevadas concentrações de emoção que sublimam a alma dos que as escutam.

Façamos a justa referência a quem esteve em palco a acompanhar os Tindersticks e que trouxe uma riqueza ainda maior a um concerto já de si digno da gruta do Ali Babá: Lucy Wilkins (violinista em ‘Tindersticks II’ e ‘Curtains’), Calina de la Mare (violinista em ‘Tindersticks II’, ‘Curtains’, ‘Simple Pleasure’, ‘Waiting for the Moon’), Rob Spriggs (guitarrista em ‘Tindersticks II e Curtains’), Sarah Willson (violoncelista em ‘Tindersticks II’, ‘Curtains’, ‘Simple Pleasure’, ‘Waiting for the Moon’, ‘Across Six Leap Years’ e ‘No Treasure but Hope’), Gina Foster (cantora em ‘Across Six Leap Years’, ‘The Something Rain’ e no mais recente ‘Distractions’) e o saxofonista Terry Edwards.

Muita estrada foi calcorreada pelos Tindersticks desde o aclamado primeiro disco, The First Tindersticks Album, de 1993. Ao longo desse caminho não foram pedras que foram guardando, mas aplausos com os quais têm vindo a construir, não um castelo, mas uma história de sucesso da qual, se nos é permitido, também nós fazemos parte. Nós e todos quantos os guardam num lugar especial no coração. Cheers Tindersticks, e como diz o povo “que venham mais 30”, connosco por perto.

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