The Pineapple Thief fizeram um LAV cheio até à porta viajar pelas ondas mais progressivas do rock

Eram muitos os amantes do rock mais progressivo que encheram o LAV – Lisboa ao Vivo para assistir ao concerto dos The Pineapple Thief. Tal como uma máquina de elevada qualidade, nada falhou. Os músicos demonstraram um profissionalismo à prova de bala, trazendo à sala de concertos da capital uma prestação que deixou os fãs (e os menos fãs) do género completamente rendidos.

Texto: Sandra Pinto
Fotos: Luís Pissarro

Randy McStine, guitarrista dos Porcupine Tree, foi o convidado de honra da primeira parte do concerto. O alinhamento da sua apresentação surpreendeu, tal como surpreendeu a tremenda versatilidade do músico.  Ao fazer looping de vocais e guitarra, Randy foi construindo camadas de som. Ao adicionar um sequenciador old-school, houve ao nosso lado que jurasse a pés juntos ter sentido, aquando do solo, um toque de que Edgar Froese fazia em meados doas anos 70 com os Tangerine Dream. Ao adicionar o ritmo a coisa muda de figura. McStine toca versões acústicas de duas músicas das suas colaborações com Marco Minnemann – Activate e Big Wave  – mostrando em cada uma delas os seus iluminados e límpidos dotes vocais. Logo ali deu para perceber porque foi recrutado por Steven Wilson. Tal como o seu antecessor em Porcupine Tree, John Wesley, também Randy McStine é um músico de muitos talentos, que viaja de forma extremamente hábil, na órbita dos maiores nomes do género progressivo.

The Pineapple Thief apresentaram-se bem dispostos perante a multidão que lotava completamente a sala presenteando todos com um som glorioso e incrivelmente mixado, sem dúvida nenhuma do melhor que temos visto por ali. Após o anúncio agora obrigatório, mas ainda assim muito bem-vindo, de que não filmem o concerto,  Bruce Soord e companheiros dão início a uma verdadeira viagem musical na qual todos embarcámos. Obviamente que grande parte dos olhos ( e ouvidos) de uma considerável parte da audiência estavam cravados no baterista superstar, Gavin Harrison.  Reconhecido pelo seu trabalho na bateria dos King Crimson, com os “ladrões de ananases” recebe os mais do que merecidos créditos pela co-autoria com Bruce de todos os temas que fizeram jornada. Claro que também o próprio som da banda certamente não seria o mesmo sem a sua mestria como o rei das baquetas progressivas. Longe de ser um músico exibicionista, Harrison pega na imensa bateria e usa-a como se fosse um instrumento feito apenas de um elemento. Com um exímio sentido de timing, surge sem falhas de forma impecável numa perfeita sintonia com o baixista Jon Sykes.

Na guitarra nada parece perturbar Beren Matthews. O músico assume muitas das linhas da guitarra principal e contribui para harmonias precisas de três partes. O seu estatuto na banda não é muito claro, uma vez que não sendo ele um elemento permanente, a verdade é que teve uma enorme contribuição na elaboração do álbum mais recente. Enquanto tudo isso se passa ao mesmo nível, eis que surge  isso, o tecladista Steve Kitch dignamente instalado no seu próprio pódio ao fundo do palco.

Grande parte da obra da banda parece ser dominada por canções melancólicas sobre relacionamentos nem sempre (ou poucas vezes) felizes, mas a verdade é que existe em cada uma delas uma ressonância mais profunda, sendo a faixa-título de Versions of the Truth um caso exemplar de um momento em que a própria realidade parece estar sob ataque de múltiplos quadrantes. Fugindo da  exposição ao mainstream, The Pineapple Thief encontraram em definitivo o seu público fiel. Mas, pelo que nos foi dado ver nesta noite do LAV, se continuam a crescer, o estatuto de “segredo mais bem guardado” do rock progressivo pode bem estar em risco!

Randy McStine


The Pineapple Thief

 

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