“Olhar para trás é lembrar o menino que acreditava que a música podia mudar vidas”, Kimi Djabaté sobre o concerto de celebração de 25 anos de carreira
O músico guineense Kimi Djabaté celebra um marco notável — 25 anos de carreira — com um concerto especial no dia 18 de outubro, na Voz do Operário, em Lisboa. Este espetáculo será uma viagem vibrante pela sua trajetória artística, reunindo temas emblemáticos dos quatro álbuns que lançou até hoje. No palco, Kimi dividirá espaço com convidados de luxo como Janeiro, JP Simões, Karyna Gomes, Márcia, Norberto Lobo, Patche di Rima e Selma Uamusse — amigos e artistas que refletem a diversidade e a força das conexões musicais que ele construiu ao longo de um quarto de século.
Por Sandra Pinto
Ao olhar para trás, Kimi expressa uma profunda gratidão pelo percurso, lembrando o menino da Guiné-Bissau que sonhava com a música como força transformadora. Conhecido como um griot moderno, ele mantém viva a tradição ancestral do contador de histórias, mesclando balafon, gumbé, afrobeat, jazz e blues com uma naturalidade que traduz sua vivência e identidade cultural. Para ele, a música é uma ponte entre o passado e o presente, uma arma poderosa capaz de mudar mentalidades, abrir corações e unir povos. Com este concerto, Kimi não só celebra o que já construiu, mas reafirma seu compromisso de seguir sonhando e cantando a liberdade do seu povo.
Celebras agora 25 anos de carreira com um concerto muito especial. Que sentimentos te atravessam ao olhar para trás e ver tudo o que já construíste?
Sinto uma enorme gratidão. Foram 25 anos de muita luta, mas também de muita alegria. Olhar para trás é lembrar o menino da Guiné-Bissau que sonhava com a música e acreditava que ela podia mudar vidas. Hoje sinto que vivi muitas histórias, aprendi com cada passo e continuo com o mesmo amor e energia para seguir em frente.
Vais partilhar o palco com vários convidados, como Janeiro, Karyna Gomes e Selma Uamusse. Como escolheste estes artistas e o que significa esta partilha para ti?
Cada um deles tem uma ligação especial comigo, não só pela música, mas pela amizade e pela admiração. São artistas que respeito profundamente e que representam diferentes formas de expressão da nossa cultura. Partilhar o palco com eles é celebrar a união, a amizade e a diversidade.
És muitas vezes descrito como um griot moderno. Como é que essa herança tradicional se manifesta na tua forma de compor e de estar na música hoje?
O griot é o contador de histórias, o guardião da memória do povo. Essa herança está presente em tudo o que faço. Mesmo quando uso sons modernos ou produções contemporâneas, a base continua a ser a tradição, o respeito pela palavra, pela história e pela mensagem. Ser griot hoje é manter viva a ponte entre o passado e o presente.
A tua música cruza balafon, gumbé, afrobeat, jazz e blues. Como encontraste este equilíbrio entre tradição africana e sonoridades contemporâneas?
Esse equilíbrio aconteceu naturalmente. Cresci a ouvir todos esses sons. A minha raiz está na música tradicional da Guiné, mas a vida levou-me a escutar o mundo, o jazz, o blues, o afrobeat. Eu não penso em misturar, apenas deixo a música falar. Ela encontra o seu próprio caminho.
O álbum Dindin teve grande reconhecimento internacional. Como recebeste essa resposta tão positiva da crítica e do público fora de Portugal?
Foi uma alegria enorme. Quando fazemos um disco, nunca sabemos como será recebido. Dindin nasceu do coração, com mensagens sobre liberdade, amor e esperança. Saber que essas canções tocaram pessoas em tantos países mostrou-me que a música é realmente uma linguagem universal.
Temas como liberdade, justiça e educação estão muito presentes nas tuas canções. Achas que a música ainda tem força para mudar mentalidades?
Acredito profundamente nisso. A música sempre foi uma arma poderosa, pode abrir os olhos, unir pessoas e despertar consciências. Mesmo que não mude o mundo inteiro, muda o coração de alguém, e isso já é um grande começo.
Trabalhaste com artistas como Mory Kanté, Waldemar Bastos e até Madonna. O que levas dessas experiências para a tua própria criação musical?
Cada encontro deixou uma marca. O Mory ensinou-me muito sobre a força da tradição, o Waldemar sobre a alma e a profundidade, e a Madonna sobre a disciplina e a entrega total à arte. Levo comigo a humildade de aprender sempre, porque cada artista tem uma luz única.
Fixaste-te em Lisboa há muitos anos. Que papel teve Portugal na tua evolução artística e pessoal?
Portugal foi uma grande escola. Aqui encontrei espaço para crescer, conhecer outras culturas e misturar sons. Lisboa tem uma energia muito especial é uma cidade de encontros, de pontes entre mundos. Tudo isso influenciou muito a minha música e também a minha maneira de ver a vida.
Com 25 anos de palco, o que mudou na forma como te relacionas com o público — seja na Guiné, em Portugal ou noutros países onde atuas?
Hoje sinto uma ligação ainda mais forte. Com o tempo aprendi a escutar mais o público, a sentir a energia de cada lugar. Em qualquer palco, gosto de criar um momento de verdade, de partilha. A música é isso: uma conversa entre quem toca e quem ouve.
Este concerto na Voz do Operário celebra o passado, mas também aponta para o futuro. Que sonhos ou projetos tens agora no horizonte?
Este concerto é um ponto de viragem. Celebro o caminho feito, mas já penso no que vem a seguir. Tenho novas músicas a nascer, novas colaborações em vista e a vontade de continuar a levar a minha mensagem o mais longe possível. O futuro é continuar a sonhar e a cantar a liberdade do meu povo.
18 de outubro, na Voz do Operário, em Lisboa
Os bilhetes estão disponíveis em bol.pt e nos locais habituais.