Melody Gardot encanta no regresso a Portugal no edpcooljazz
A caminho de Oeiras, ouve-se no rádio a sugestão cultural: o concerto de Melody Gardot no EDP Cool Jazz, onde, pasme-se – considera o locutor – esta noite há mesmo jazz.
Não houve só jazz. Houve blues, um pouco de funk e muita soul. Melody Gardot deslumbra no regresso muito esperado a Portugal. Há uma empatia grande entre a artista americana e o público português, visível assim que entra em palco e cumprimenta o público na língua local. O sotaque aproxima-se do brasileiro em alguns momentos, mas a confiança é forte e a presença de Melody impositiva. Arrebata o público e ainda só vamos na primeira música.
A artista tem andado a apresentar “Currency of Man”, álbum lançado em junho e o quarto longa duração. Para a tour chamou uma mão cheia de bons músicos. Os solos de saxofone que entoam pelos Jardins do Palácio Marquês de Pombal dão corpo às batidas dengosas que nos hipnotizam os movimentos.
Melody entra a rasgar. Para além dos saxofones, há guitarras que crescem, há todo um poder inesperado neste jazz. É então que Gardot recolhe ao piano. Ensaia algumas notas e anuncia um tributo ao compatriota Ornette Coleman, lenda do jazz que o mundo chorou em Junho. Tem início um momento solene em que a cantora recorda “Song for Che”, de Charlie Haden. Em 1971, Haden dedicava “Song for Che” aos movimentos de libertação em Angola, Moçambique e na Guiné, com o quarteto de Coleman. No dia seguinte, Haden foi detido pela PIDE.
O momento ganha significado por termos ficado a saber hoje que as autoridades angolanas carregaram sobre manifestantes em Luanda. Protestavam contra a detenção de 15 activistas, facto que parece estar distante desta plateia. Fiquemo-nos pela música.
Foi ao piano que Melody Gardot passou largos momentos antes de voltar ao centro do palco para entregar ao público português algumas das suas músicas mais conhecidas, entre as quais se encontram temas que falam da alma portuguesa. No seu trabalho de 2012, “The Absence”, Melody incluiu os temas “Lisboa” e “Amália”, compostos em Lisboa. As afinidades são grandes e a satisfação de estar em solo português é evidente. Melody Gardot celebra com o público uma nova fase da sua vida musical.
A primeira parte do concerto ficou a cargo de Pierre Aderne, amigo de Melody Gardot, que compôs com a artista na capital portuguesa, “Limoeiro”.
Nascido em França, criado no Brasil, a música de Pierre Aderne fala em várias línguas e faz-nos escorregar noite adentro. Como acontece com Melody, as ligações de Aderne a Portugla são vastas. Chama ao palco o acordeonista João Barradas e, mais tarde, o guitarrista/contrabaixista António Quintino; para António Zambujo, fez a música “Guia”.
Antes do final, toca ainda a sua versão de “Garota Ipanema”, um clássico reinventado por um dos nomes sonantes da nova geração do jazz.
Texto: Filipa Moreno
Fotos: Raquel Lopes








