Killswitch Engage no LAV – Lisboa ao Vivo: Energia imparável entre agressividade e emoção
O LAV – Lisboa Ao Vivo recebeu uma das noites mais intensas do ano para os amantes do metal. A icónica banda norte-americana Killswitch Engage chegou à capital portuguesa com um concerto estrondoso, acompanhada por duas potentes formações: Decapitated e Fit for an Autopsy. Com a sala completamente cheia e a energia no máximo, foi uma noite em que os mosh pits não deram tréguas e a comunhão entre palco e plateia foi total.
Texto: Sandra Pinto
Fotos: Luís Pissarro
Infelizmente não nos foi possível ver a atuação dos Employed to Serve, mas, num dos momentos mais intensos da noite, os Decapitated tomaram de assalto o palco do LAV – Lisboa Ao Vivo, trazendo consigo a precisão gelada e a brutalidade técnica que fizeram da banda um nome incontornável no death metal europeu. Oriundos da Polónia, tornaram-se conhecidos desde o final dos anos 90 pela sua impressionante destreza instrumental e maturidade composicional, ainda que tenham começado a carreira enquanto adolescentes. Com mais de duas décadas de percurso e uma discografia que ajudou a definir os contornos do death metal técnico moderno, a banda liderada por Wacław “Vogg” Kiełtyka (único membro original) não deixou margem para dúvidas: continuam afiados, brutais e relevantes. Em palco, a sua performance é uma verdadeira demonstração de força milimétrica, onde cada riff, batida e breakdown são executados com uma precisão quase mecânica, mas nunca desprovida de emoção. O vocalista Rafał Piotrowski, há mais de uma década no comando vocal, revelou-se mais uma vez um líder carismático e imponente, controlando a multidão com presença e intensidade. A resposta do público foi à altura: headbanging constante, circle pits explosivos e uma entrega que fez da sala um verdadeiro campo de batalha sonoro. Apesar das tragédias que marcaram o seu percurso — incluindo a perda do baterista original e irmão de Vogg, Witold “Vitek” Kiełtyka, em 2007 —, os Decapitated ressurgiram mais fortes, transformando a dor em energia criativa. O concerto no LAV serviu como prova viva dessa resiliência e evolução, demonstrando que a banda continua a ser uma referência incontornável no metal extremo. Mais do que um simples concerto, a atuação dos Decapitated foi uma experiência física e emocional: uma descarga de técnica, peso e entrega total, que deixou Lisboa marcada pela força de uma banda que sabe como ninguém conjugar o caos com o controlo absoluto.
Em noite de peso absoluto no LAV, os norte-americanos Fit for an Autopsy trouxeram uma autêntica tempestade sónica a Lisboa, reafirmando o seu estatuto como uma das bandas mais respeitadas da cena deathcore moderna. Com quase duas décadas de carreira e uma discografia que tem vindo a ganhar profundidade e ambição, o grupo liderado pelo guitarrista e produtor Will Putney apresentou-se com uma precisão cirúrgica e uma fúria emocional desconcertante. Desde o primeiro acorde, o ambiente tornou-se denso e opressivo — e era exatamente isso que a banda queria. Com um som brutal mas meticulosamente construído, os Fit for an Autopsy provaram que o deathcore pode ser tanto devastador como inteligente. As guitarras alternavam entre riffs arrasadores e momentos mais atmosféricos, enquanto a bateria mantinha um ritmo impiedoso que parecia colapsar o chão sob os pés dos presentes. O vocalista Joe Badolato mostrou-se em total controlo, alternando entre guturais cavernosos e gritos lancinantes, comunicando com o público entre os temas com uma mistura de empatia e provocação. A intensidade emocional das letras — abordando temas como desigualdade, colapso social e desespero existencial — foi amplificada pela forma como a banda se entrega ao palco: sem filtros, sem pausas, com a brutalidade como linguagem comum. Os Fit for an Autopsy provaram que estão no auge da sua criatividade e performance ao vivo. Mais do que uma atuação agressiva, ofereceram uma verdadeira experiência imersiva, onde som e fúria se fundiram numa mensagem poderosa. Uma atuação memorável que reafirma a importância do grupo como uma das forças mais relevantes do metal extremo contemporâneo.
O momento mais aguardado da noite chegou com Killswitch Engage, e a expectativa foi amplamente superada. Com Jesse Leach nos vocais — de regresso à banda desde 2012, depois de uma ausência de quase uma década —, o grupo norte-americano ofereceu um concerto que misturou celebração, intensidade emocional e uma ligação profunda com o público português. Formados em 1999, em Massachusetts, os Killswitch Engage são considerados um dos pilares do metalcore moderno, fundindo o peso do death metal melódico com a sensibilidade do hardcore e um sentido melódico marcante. A banda alcançou sucesso global nos anos 2000 com álbuns como Alive or Just Breathing (2002) e The End of Heartache (2004), tornando-se presença constante nos grandes palcos e festivais internacionais. As suas letras, frequentemente introspectivas e de cunho motivacional, criaram uma base de fãs profundamente conectada à sua mensagem. No LAV – Lisboa Ao Vivo, a banda mostrou estar em plena forma, com um alinhamento que percorreu toda a sua carreira e que revelou também faixas do seu mais recente álbum, editado em 2025. O público reagiu com uma energia contagiante, cantando em uníssono, promovendo circle pits espontâneos e acompanhando cada refrão com uma devoção quase cerimonial. A interação entre a banda e a plateia foi um dos pontos altos da noite. Jesse Leach, visivelmente emocionado, abordou temas como a saúde mental e a resiliência, criando momentos de verdadeira comunhão. Ao seu lado, o guitarrista Adam Dutkiewicz — sempre irreverente e bem-humorado — manteve o tom leve entre músicas, criando um equilíbrio entre a agressividade do som e a leveza do espírito. O concerto terminou com uma explosão de entusiasmo, num encore que trouxe toda a sala ao rubro e selou uma noite de pura catarse coletiva. Em palco, os Killswitch Engage demonstraram porque continuam a ser uma das bandas mais queridas e respeitadas do metal moderno — não apenas pela sua música poderosa, mas pela forma como a vivem e a partilham com o seu público.
Com três bandas em sintonia absoluta com o seu público e com atuações irrepreensíveis, esta noite provou que o metal está mais vivo do que nunca. O LAV foi palco de suor, gritos, riffs memoráveis e comunhão — tudo aquilo que se espera de um concerto de metal de alto nível.
Decapitated
Fit for an Autopsy
Killswitch Engage