ERP Remember Cascais 2013

Level 42

Durante duas noites Cascais reviveu a década de 80 com a actuação de seis nomes que fizeram parte da história da música daqueles 10 anos. A segunda edição do ERP Remember Cascais revelou-se um sucesso, com muita alegria e nostalgia qb à mistura.

A primeira noite ficou marcada pela actuação do português José Cid (concerto que devido a compromissos profissionais não tivemos oportunidade de ver) e dos ingleses Level 42 e Roger Hodgson.

Oriundos da Ilha de Wight, no Reino Unido, os Level 42 marcaram os anos 80 com uma mão cheia de hits. Com uma entrada algo apoteótica, foram extremamente bem recebidos pelo público, o que levou o vocalista Mark King a tirar o chapéu num evidente sinal de agradecimento pelo acolhimento. Contagem decrescente e começam os acordes da primeira música «Heaven In My Hands», logo seguida de «To Be With You Again». Visivelmente feliz, Mark King atira com um «olá, nós somos os Level 42, e é muito bom estar aqui na vossa linda vila de Cascais».

Com visitas pontuais a trabalhos mais recentes, como Retroglide, editado em 2006, o concerto dos ingleses primou mesmo pela execução dos êxitos de antigamente, pois como disse o vocalista «já chega de experimentalismo, vamos voltar a 1985, quando eu era mais bonito, mais jovem e mais feliz»!
«Running In The Family» foi um dos pontos altos da prestação dos Level 42, logo seguido de «Seconds in Love”. No fim Mark King afirmou, «foi muito bom estar aqui», a nós parece-nos que o público também gostou que eles estivessem estado.

Roger Hodgson > Nuno Pinheiro e Lino Machado

Quem não se lembra do programa Febre de Sábado de Manhã apresentado por Júlio Isidro e que semanalmente levava milhares a ficarem colocados aos aparelhos radiofónicos? Foi uma das épocas douradas da rádio em Portugal, quando o sucesso dos programas levava a que começassem a ser transmitidos fora do estúdio, como aconteceu com o referido programa de Júlio Isidro. A lembrar esses tempos, o apresentador subiu ao palco do ERP Remember Cascais para apresentar Roger Hodgson, vocalista dos Supertramp.
«Os dinossauros ainda estão vivos», referiu o apresentador, «lembro-me do concerto destes senhores (Supertramp) no Pavilhão do Dramático de Cascais e de me surpreender com o som que apresentaram ao vivo ser igual ao som que conhecia através dos discos», afirmou, fazendo referência à banda oriunda de Londres. «Só há dois tipos de música, a boa e a má. Convosco deixo Roger Hodgson», conclui Júlio Isidro.

Co-fundador dos Supertramp, Roger Hodgson mostrou ser ainda possuidor de uma voz invejável, facto audível logo desde a primeira música, a conhecidíssima «Take The Long Way Home». Mostrando-se muito contente, o músico referiu ser este o último concerto da tounée europeia, «é muito bom estar aqui, apesar dos tempos difíceis que Portugal está a viver, vamos esquecer isso durante as próximas duas horas», desafiou Hodgson, concluindo com um convite «vamos viajar no tempo».

A viagem passou por canções como «School», devidamente acompanhada pelo público, seguida de «Jeopardy», do álbum In the Eye of the Storm, o primeiro da carreira a solo de músico, e «Lovers in the Wind», música que levou o casal que se encontrava ao nosso lado a fechar os olhos, deixando-se ir no embalo da música, certamente, rumo às memórias e recordações de outros tempos. Foi uma noite de emoções fortes aquela que se viveu em Cascais ao som destes hits dos anos 80, como «Breakfast In America» ou «Lady». Visivelmente agradado com a entrega por parte do público, Roger Hodgson afirma «vocês deviam vir comigo na tournée à volta do mundo». Como ninguém parecia querer ir embora o música pergunta «vocês ficam acordados até tão tarde todas as noites?», o que originou uma salva de palmas.

Tempo ainda para dedicar uma música ao fã Pedro Santos, a Fanny, a fã que veio da Noruega com o único intuito de assistir ao concerto de Roger Hodgson, e a Miguel, seguidor que celebrava nessa noite 46 anos. Com o concerto a chegar ao fim tempo para uma emocionante interpretação de «Dreamer» seguido do encore com «Give a little bit» e, claro, « It’s Raining Again», com a prestação de Roger Hodgson a terminar em clima de festa. Pura e sentida celebração da música de uma banda que tantos ali mostraram não só apreciar como sentir saudades. «See you again soon…i hope» afirmou o músico, que se despede com um emocionado «God bless you».

O pontapé de saída desta edição terminou de forma alegre e descontraída ao som de alguns dos sucessos da música dos anos 80 seleccionados pelos Palmeiras Gang, duo composto por Nuno Pinheiro e Lino Machado que animou ainda mais esta primeira noite do festival ERP Remember Cascais.

Opus > GNR

Para a segunda noite o cardápio musical era composto por mais três bandas, Opus, GNR e Waterboys. Noite fria, tal como a anterior, onde o vento se fez notar, seria aquecida e bem pela música, sobretudo dos GNR e dos Waterboys. Vindos da Áustria, o ponto alto da actuação dos Opus foi a cover de «Don´t stop me» dos Queen, e o seu maior hit, «Life is life».

Foi claramente para nós o melhor concerto desta edição do ERP Remember Cascais. Falamos da prestação dos portugueses GNR. A demonstrar uma boa forma incrível, a banda oriunda do Porto mostrou do que é feito o bom rock português, fazendo desfilar pelo palco de Cascais alguns dos seus maiores sucessos, os quais puseram todos a cantar recordando uma década de ouro também para a música nacional.

«Buonanotte Cascais», cumprimenta Rui Reininho, que demonstrou não só estar com uma voz impecável, mas com um sentido de humor apuradíssimo, características que lhe reconhecemos ao longos dos anos e que claramente refinou com a idade. «Sete Mares» abriu as hostilidades musicais da noite, seguida de «Sexta-feira», «Efectivamente» e «Vídeo Maria».

Irónico, Rui Reininho pergunta ao público «gostaram daqueles austríacos que tocaram em playback?», revelando que os membros dos Opus «estavam lá atrás todos contentes a dar os parabéns uns aos outros», concluindo com um «assim também eu!» Ai percebemos que já tínhamos saudades de ver os GNR e Rui Reininho ao vivo. O alinhamento deste reencontro com Cascais, onde, recorda Reininho, «há muitos anos vimos um concerto com a Adelaide Ferreira e os UHF», prosseguiu com «Cabra Cega», «Ana Lee» e «Popless». Tempo ainda para «Dunas» e para um encore com a interpretação de «Quero que vá tudo pró inferno», um original de Roberto Carlos.

Waterboys > Ambiente

Verdade que depois da fabulosa prestação dos GNR a fasquia estava muito alta, quando os Waterboys entraram em palco. Atacaram com «Strange Boat», logo seguida de «Fisherman’s Blues», de 1988. Simpático, Mike Scott cumprimenta dizendo «é um prazer estar aqui» e pedindo ajuda para dizer a palavra Cascais, nome que revelou ser para ele difícil de pronunciar.

«The girl in the swing», «The Pan Within» e «Don’t bang the drum» trouxeram a Cascais alguns dos pontos altos da carreira da banda escocesa, em especial ao lembrar o excelente trabalho de 1985, This Is The Sea. Sem deixar o público recompor-se entre músicas, todas elas portadoras de um ADN forte em nostalgia e saudades, Mike Scott avança de voz firme rumo ao hino «A Girl Called Johnny» fazendo com que dos milhares de rostos se soltasse um sorriso sincero e rasgado, enigmático o quanto bastasse para percebermos que a cada um correspondiam boas lembranças. «All of the moon» não fechou o concerto dos Waterboys, mas podia, pois foi, efectivamente, o ponto mais alto da prestação dos homens da água.

Texto: Sandra Pinto
Fotos: Luís Pissarro

You May Also Like

Entrevista: “Pôr o dedo na ferida faz parte da nossa identidade musical”, Cara de Espelho

Under the Doom 2025: quando as sombras dançaram e as trevas inundaram o coração de Lisboa

Interview: “They called us witches; we became a band”, The Charmers

Entrevista: “Cada álbum é um capítulo de uma história que ainda está a ser escrita”, Letters From a Dead Man

error: Conteúdo protegido. Partilhe e divulgue o link com o crédito @lookmag.pt