Entrevista: “Não reinventamos a roda; prestamos homenagem aos Deuses do Aço”, Ladon Heads

Os Ladon Heads são uma das bandas mais promissoras da nova vaga de heavy metal tradicional em Portugal. Formados em 2022, mas com raízes profundas nas sonoridades clássicas do género, a banda apresenta agora o seu primeiro longa-duração, Steel for Fire, editado pela Lost Realm Records. Com riffs épicos, vozes possantes e um imaginário lírico digno das grandes batalhas do metal, os Ladon Heads trazem-nos uma proposta crua, direta e honesta, sem perder de vista a herança dos seus ídolos, nem o futuro do estilo.

Por Sandra Pinto

Estivemos à conversa com a banda para perceber melhor de onde vem este fogo sagrado, como foi o processo de criação do disco, e o que podemos esperar daqui para a frente.

Os Ladon Heads formaram-se em 2022, mas o vosso som parece ter raízes profundas no heavy metal clássico. O que vos atraiu no metal tradicional e como decidiram construir a vossa música em torno desse estilo?
Boas pessoal, antes de mais muito obrigado pelo interesse e por nos receberem, é um prazer! Bem, todos nós desde que começamos a ouvir metal colamos em muitas das maiores bandas do som clássico do Heavy Metal como Judas Priest, Iron Maiden, Motorhead, Wasp etc Pessoalmente (Infernando) comecei a entrar mais na nova vaga de heavy tradicional algures por 2018 com bandas como Cauldron, Axxion, Skull Fist, Enforcer e assim. Isto foi uma porta de entrada para todo um novo mundo de bandas antigas que não saíram do underground e que hoje são alguns dos nossos heróis como Manilla Road, Omen, Cirith Ungol, Crimson Glory, Warlord, Grim Reaper e imensas outras que seriam demasiadas para mencionar ahah O que nos atrai neste som é difícil descrever, é daquelas coisas que se sentem. Claro que dá para especificar as melodias, o poder dos riffs, as vozes, os solos e tudo o que envolve a música. Mas a verdade é que acima de tudo este estilo tem uma certa “aura” algo transcendente, que faz levantar os pelos dos braços e arrepia a espinha (rissos) Acho que foi assim que pelo menos para mim foi assim que senti o chamamento do Heavy Metal.

Referiram bandas como Omen, Manilla Road e Cirith Ungol como influências. Como misturam essas influências com o vosso som único para o tornar apelativo para os ouvintes de hoje?
Como mencionei, mais do que um estilo musical há uma certa aura difícil de descrever nestas bandas que nos levam numa viagem épica e que gostaríamos de um dia conseguir replicar à nossa maneira. Usamos temas líricos semelhantes, usamos riffs na mesma “onda” mas estas bandas são irrepetíveis. Portanto a nossa tentativa e “falhanço” em chegar lá é o que se calhar nos torna diferentes e “únicos”, não é bem propositado.

“Steel for Fire” apresenta um som cru e sem compromissos. Podem falar sobre o processo de capturar essa energia e espírito em estúdio?
Sim, sem dúvida que no estilo que tocamos é muito importante ter uma produção mais crua, menos polida. Hoje em dia é mais fácil que nunca ter uma produção a soar mega perfeita, bem polida, e ainda que isso faça todo o sentido para muitas pessoas e muitas bandas, sinto que no caso do heavy metal tradicional o torna meio robótico e estéril. Quisemos fugir disso a todo o custo e ter algo mais “humano” mais “raw” e mais na veia dos nossos heróis mencionados. Acho que parte da aura que falei anteriormente vem um pouco daí, de sentir diferentes forças na batida da bateria, palhetadas diferentes, micro segundos de fuga ao “click”, fica a soar mais verdadeiro, pelo menos aos meus ouvidos.

As vossas demos foram bem recebidas na cena underground. Como foi ver faixas como “Master of Sorcery” e “Blood Soaked Field” evoluírem e serem oficialmente lançadas neste álbum completo?
Bem como foram as primeiras demos acabaram por não sair em lançamento físico. Quando estávamos em conversações com o André da Lost Realm Records sobre o lançamento do álbum mencionamos que tínhamos estas malhas que tinham apenas sido lançadas digitalmente. Ele mostrou-se interessado em adicioná-las como “faixas bónus” ao álbum e nós adoramos a ideia pois caso contrário talvez elas nunca tivessem oportunidade de sair em formato físico.

Em “Steel for Fire”, incluíram sete músicas novas juntamente com versões remasterizadas das vossas demos originais. Sentem que o álbum consegue equilibrar bem o material novo com os vossos primeiros trabalhos?
Acho que o material novo é melhor (risos). A verdade é que ainda somos todos muito verdinhos, e as malhas novas existem à praticamente o mesmo tempo que as anteriores, simplesmente numa primeira fase não deu para gravar tudo. Em retrospetiva até acho que foi pelo melhor porque com o tempo sinto que evoluímos um bocadinho e então creio que as novas tiveram melhores performances de todos. Para além disto sinto que as captações especialmente da bateria (feita com o André Ribeiro no Wizard Studio) ficaram melhores. Continuo a gostar muito das demos e por esse motivo é que também as quisemos incluir no álbum mas acho que o ponto alto serão as “novas”.

O álbum é descrito tanto como uma homenagem às lendas do metal como um grito de guerra para o futuro. O que significa para vocês a expressão “grito de guerra para o futuro” e como isso molda o tom do álbum?
Acredito vem simplesmente da grande vontade que temos de fazer parte da cena do Heavy Metal mais tradicional. O Heavy Metal não está morto nem nunca esteve, mesmo que em algumas fases da sua história tenha sobrevivido apenas no underground. E por nós está tudo bem com isso, desde que ele continue a existir. Nós só queremos dar o nosso contributo para ele continuar a existir. Se conseguirmos trazer uma pessoa para este mundo incrível que de outra forma não teria contacto, já valeu a pena. Se conseguirmos dar um concerto ou um álbum agradável aos fãs de longa data deste estilo já valeu a pena. E acima de tudo gostamos muito de fazer música e tocá-la para as pessoas, por isso independentemente do que acontecer para a frente já valeu a pena.

“Birth by Hellfire” é o vosso mais recente single. Qual é a história por detrás desta faixa e de que forma reflecte os temas do álbum?
O álbum conta uma história desde o início até ao fim. Se quiserem ter acesso à história integral do álbum todo, lançamos uma sequência de posts nas nossas redes a falar sobre a história faixa por faixa. A Birth by Hellfire introduz-nos uma entidade divina que tem o poder de controlar a luz (e tudo o que ela envolve, como por exemplo as estações do ano). É filho de uma Deusa, nascido no fogo e é um ser imortal, ainda que isso seja mais um fardo que uma dádiva. Depois de na primeira música terem sido introduzidos um grupo de aldeões que atravessavam um inverno rigoroso e no desespero decidiram ir até ao inferno lutar contra este ser divino. A partir desta introdução das personagens principais a história desenrola-se, há uma grande batalha, há tortura e uma profecia que não sabemos se se irá materializar.

Tiveram a oportunidade de trabalhar com o produtor Lex Thunder em “Steel for Fire”. De que forma a sua visão e experiência influenciaram o som do álbum e o que aprenderam com esse processo?
De uma forma muito impactante! O Lex está dentro do heavy metal underground há alguns anos e compreendeu na perfeição o som que nós procurávamos. Com a facilidade que mencionei de ter produções super polidas, por vezes pode ser difícil explicar a um produtor que queremos um som mais cru, e que “menos é mais”. No caso do Lex como ele está por dentro da cena nem foi preciso dizer muito (risos). Foi muito fácil trabalhar com ele em todos os aspetos e especialmente na captação de voz foi muito bom ter ali ao lado um dos melhores vocalistas portugueses. Deu-me muitas ideias sobre a colocação, harmonias e até algumas melodias. É, sem dúvida, o quinto elemento da banda.

Desde a formação em 2022, os Ladon Heads têm vindo a ganhar atenção rapidamente. Como têm vivido essa recepção crescente por parte dos fãs e como é ter já um público tão dedicado?
Acho que tem acontecido de uma forma muito orgânica. Os nossos fãs são maioritariamente nossos amigos que fazem questão de nos apoiar e isso é muito gratificante. Acho também que o heavy metal tradicional (na sua veia mais underground) está longe de ser um estilo popular em Portugal, e se por um lado isso pode significar um potencial público menor, o público que existe é extremamente dedicado e está constantemente em busca de novas bandas. Isso faz com que as bandas (como nós) que estão a dar os primeiros passos sejam rapidamente bem vindas à cena deste nicho e chegam às pessoas que gostam do estilo com alguma rapidez. Pelo menos connosco isso aconteceu e acho que é algo que tende a acontecer a outras bandas também. Depois existe também a facilidade de ligações entre bandas, porque a cena é pequena. Há bandas portuguesas que adoro e que conhecia antes de começarmos Ladon Heads e que até nos influenciaram bastante no nosso som e que hoje em dia conhecemos pessoalmente, trocamos ideias e mantemos contacto. Esta é sem dúvida uma das coisas que tem sido mais especial para nós nesta jornada.

Com o lançamento de “Steel for Fire” prestes a acontecer, o que esperam que os ouvintes retirem do álbum, especialmente aqueles que vão ouvir Ladon Heads pela primeira vez?
Bem, temos apenas de agradecer darem-nos uma chance e ouvirem o álbum. Hoje em dia existem tantas opções de entretenimento, existe tanta música a ser lançada todos os dias, com tanta qualidade que apenas nos resta ser gratos por dedicarem uns 40 minutos a ouvir o que adoramos fazer. Se tiverem feedback é muito bem vindo e podem contactar-nos diretamente nas nossas redes, quer tenham gostado quer tenham críticas (ou ambas em simultâneo!). O que nós nos propusemos a fazer com este álbum é um disco de heavy metal, direto e cru. Portanto o que esperamos que retirem do álbum é alguma confirmação de que o heavy metal está vivo, e bem ou mal feito está em todo lado – mesmo num país onde o género não é tão popular. Não estamos a reinventar a roda nem nada que se pareça, estamos a prestar homenagem aos nossos ídolos e a dar o nosso pequeno contributo  para manter a chama acesa.

A cena do metal tradicional está a evoluir, mas continua a haver uma forte presença de sonoridades clássicas. Onde é que os Ladon Heads se enquadram no panorama atual do metal e que papel gostariam de desempenhar no seu futuro?
Nós estamos aqui maioritariamente para ajudar à festa, contribuir para a existência de uma cena de heavy metal e manter a chama viva. Não consigo prever o futuro mas para já pelo menos o objetivo é manter a essência do som clássico, essa é a nossa identidade – não temos pretensões de alterar o que para nós é sagrado ahah Quanto ao papel de Ladon Heads no futuro do heavy metal acho que passa exatamente por isso, ser mais uma banda de heavy metal, mais uns servos dos Deuses do Aço. Não será um papel de destaque mas acredito que também é um papel importante (risos).

Por fim, o que se segue para os Ladon Heads depois do lançamento de “Steel for Fire”? Têm planos para digressões ou novos lançamentos?
Na verdade, não temos planos muito definidos a médio/longo prazo. Teremos o concerto de apresentação do álbum no Buraco Pub em Ovar dia 28 de Novembro e dia 13 de Dezembro estreamo-nos em Lisboa para a primeira edição do Heavy Duty Fest (um festival dedicado exclusivamente ao heavy metal tradicional). Um dos nossos principais objetivos durante o próximo ano é tocar no máximo de lugares possível a promover o álbum e estamos já a brincar com algumas ideias que se poderão materializar em malhas para o segundo álbum. Mas ainda estão numa fase muito embrionária, acho que pode demorar um bom bocado (risos). Muito obrigado por nos receberem, foi um prazer!

You May Also Like

“A arte tem o poder de transformar, de inspirar. Eu uso a fotografia para contar histórias que sensibilizem e inspirem mudanças”, Luís Godinho, fotógrafo

Annisokay no LAV- Lisboa ao Vivo: a energia do metalcore sacudiu a capital

Entrevista: “A efemeridade é a omnipresença do efémero, tudo é demasiado e rapidamente transitório”, EVOLS

Porto Prog Night: a viagem sensorial ao mundo do Rock Progressivo acontece já este sábado

error: Conteúdo protegido. Partilhe e divulgue o link com o crédito @lookmag.pt