Eles voltaram…e Lisboa parou: pós-punk, suor e emoção com os Chameleons no RCA Club
Com mais de 40 anos de vida, a banda de Manchester continua intensa e relevante ao vivo, com a voz de Mark “Vox” Burgess a emocionar, riffs atmosféricos a ecoar e novo material a somar ao legado. Chameleons continuam a dar concertos plenos de energia, com uma enorme qualidade sonora. O impacto foi evidente no público que esgotou a sala de concertos lisboeta.
Texto: Sandra Pinto
Fotos: Luís Pissarro
Foi uma atmosfera densa e emocional, aquela que recebeu os Chameleons no RCA Club. Com uma afluência esgotada e um entusiasmo latente, a banda entregou no RCA Club uma performance impecável, com guitarras cristalinas, arranjos impecáveis e momentos improvisados que surpreenderam. Num estilo pós‑punk intenso, as notas chorosas dos anos 80 ecoaram sobre a multidão: sublinhe-se que o concerto se inseriu numa digressão que celebra 40 anos de carreira da banda.
A riqueza do alinhamento bebeu da conjugação entre clássicos, como Swamp Thing, e a nova música Where Are You?, além do aparecimento de medleys inesperados durante as músicas. De facto, impossível não destacar o riff de Swamp Thing, que, absolutamente magnetizante, deixou a plateia absorvida na performance. Pontuado por uma energia viva e uma proximidade com o público, o concerto acedeu a outra dimensão com a voz de Mark “Vox” Burgess ainda poderosa e emotiva, com a clareza típica do pós‑punk. Já as guitarras aportaram o RCA com uma atmosfera hipnótica baseada em riffs intensos e eco reverberante.
Íntimo e intenso, o concerto foi vivido como uma viagem nostálgica pelos clássicos do pós‑punk, mas sem nunca perder de vista a relevância contemporânea. Não há dúvidas: tantas décadas depois os Chameleons mantêm relevância no palco, impressionando quer fãs antigos quer novos. Para ver ou rever aqui a entrevista que fizemos a Mark “Vox” Burgess antes do concerto.
A abrir a noite estiveram os Decline and Fall, banda formada por Armando Teixeira (ex‑Balla, Ik Mux, Bizarra Locomotiva, Da Weasel), Hugo Santos (Process of Guilt) e Ricardo S. Amorim (Moonspell, autor literário). Tendo emergido como um projeto dark‑wave/post‑punk com forte pedigree nacional, a banda foi, claramente, a escolha certa para começar a noite. Em abril passado, lançaram “Scars and Ashes”, álbum onde aprofundam a abordagem dark‑wave, oferecendo temas com camadas sonoras densas e melancólicas.
No palco do RCA Club deram uma performance envolvente, ideal para preparar o público para a explosão pós‑punk da banda britânica Chameleons. Ao combinar uma presença cénica com um ambiente sonora qb cinematográfico, a estética dark-wave/post-punk dos Decline and Fall revelou-se certeira. Teclados, guitarras densas e batidas rítmicas construíram uma atmosfera sombria e impactante, à qual a voz de Armando Teixeira trouxe profundidade. Apesar de “jovem”, a banda apresenta-se como uma proposta post-punk/dark-wave com qualidade e ambição. Tendo já demonstrado que são capazes de criar atmosferas densas e emocionalmente profundas, os Decline and Fall conseguiram, na sua atuação, ser um suporte sólido, consistente e perfeitamente adaptado ao ambiente intenso do concerto dos Chameleons. Para ver ou rever aqui a entrevista que fizemos ao Decline and Fall.
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