Dead Kennedys no LAV-Lisboa ao Vivo: punk sem Jello, mas ainda com veneno

Na noite em que o punk ressuscitou com cheiro de e suor, os Dead Kennedys subiram ao palco do LAV-Lisboa ao Vivo, para mostrar que 40 anos de estrada podem muito bem caber em dois acordes e uns valentes berros contra o sistema.

Texto: Sandra Pinto
Fotos: Luís Pissarro

Na noite em que o punk voltou a respirar — com cheiro a cerveja e suor — os Dead Kennedys subiram ao palco do LAV-Lisboa ao Vivo, para provar que quatro décadas de crítica e ironia podem caber em dois acordes e muitos berros contra o sistema.

Sem Jello Biafra, mas com o mesmo veneno na língua, a banda ofereceu a uma sala esgotada um concerto explosivo. O vocalista Skip Greer, que já leva mais de uma década no lugar do icónico frontman, assumiu o comando com uma presença teatral, frenética e carregada de sarcasmo. Há momentos em que parece a caricatura do passado — mas bem interpretada e crente na missão, que durante alguns momentos quase esquecemos que não estamos a ouvir o vocalista original.

O inesperado cover de Elvis em “Viva Las Vegas” foi muito saboroso (garante-vos eu, uma fã do Rei), mas a loucura foi total e completa ao som de “Police Truck”, “Kill the Poor”, “Too Drunk to Fuck”, “Nazi Punks Fuck Off” e, claro, “California Über Alles”.

Olhando à nossa volta, tentámos tirar as medidas ao público. Não podemos concluir de outra forma, a não ser: que fascinante retrato da cultura punk atual! Entre punks grisalhos, adolescentes com moicanos estilizados e miúdos à procura da verdadeira rebeldia, aquela que os pais e os tios lhes contam com laivos de nostalgia.

Não será surpresa para ninguém que aos primeiros acordes de temas como “California Über Alles”, “Kill the Poor” e “Nazi Punks Fuck Off”, a resposta tenha sido instantânea. Por entre empurrões, cotoveladas, mosh pits e gritos em coro quem tinha dúvidas ficou esclarecido: punk isn’t dead.  A verdade é só única: apesar de não estar morto, o punk está a envelhecer com o vinho: imprevisível e mas ai8nda com potencial para “embebedar”.

Mas hoje, 2025, falar dos Dead Kennedys é, inevitavelmente, falar do que falta. A ausência de Jello é sentida — não só na voz, mas na alma ativista e provocadora. E a morte de D.H. Peligro, em 2022, deixou um buraco rítmico e emocional na banda. Mesmo assim, os membros fundadores East Bay Ray (guitarra) e Klaus Flouride (baixo) continuam em forma — rápidos, sarcásticos e com aquele som surf-punk que ainda corta como faca afiada. A energia bruta, o humor negro e a crítica social ainda vivem ali, mesmo que agora com menos raiva e mais teatralidade.

Para os puristas, os Dead Kennedys de hoje são uma espécie de “banda de tributo a si própria” — uma versão institucionalizada da rebelião. Para os mais novos, são um vislumbre cru e barulhento de uma era que não viveram, mas da qual querem fazer parte. E para quem está no meio — entre a saudade e a crítica — o concerto é um exercício de nostalgia com relevância. Como uma t-shirt vintage rasgada no lugar certo: antiga, mas cheia de atitude.

Mesmo sem o impacto de outrora, mesmo com os debates sobre autenticidade a pairar no ar, os Dead Kennedys continuam a ser uma experiência ao vivo intensa, política e desconfortável no bom sentido. Não são uma cápsula do tempo — são um espelho distorcido que ainda reflete muita coisa do presente.

Com uma setlist equilibrada, a energia foi uma constante, de tal forma que o ritmo não diminuiu desde o primeiro até ao último acorde. comunicação com o público: Por entre uma dose sarcasmo servido com um acompanhamento de crítica social, o ambiente que se viveu no LAV-Lisboa ao Vivo foi de pura cumplicidade — tal como o punk deve ser. Explosivo, desafiador e fiel ao espírito original, o concerto dos Dead Kennedys foi a prova de que o punk não está morto, só está mais consciente de que o tempo passou.

Originários de Lisboa, os Albert Fish foram a banda de abertura, preparando o público com uma atuação intensa e cheia de atitude, que ajudou a criar a atmosfera perfeita para a lendária banda punk norte-americana. Com uma sonoridade que mistura riffs agressivos, letras conscientes e uma energia explosiva em palco, conquistaram o público, dando voz à rebeldia. Fundados em meados da última década, a banda construiu uma reputação sólida ao vivo, destacando-se pela autenticidade e pela capacidade de incendiar qualquer sala. A sua música aborda temas sociais e pessoais, com uma honestidade crua que ressoa com as inquietações da geração atual. Com o espírito do punk a correr-lhes nas veia, vale a pena ficar atento aos Albert Fish.

Dead Kennedys

Albert Fish

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