À conversa com os Evols
Os Evols lançaram recentemente o seu mais recente longa duração “III”, o qual podem ficar a conhecer aqui. O pretexto certo para trocar umas palavras com a banda.
Quando surgiu o projecto Evols?
Os Evols começaram em 2008 e deram o seu primeiro concerto na extinta galeria MCO a propósito da exposição “The Sonic Booms” do Carlos Lobo. Desse evento surgiu a vontade de continuar a compor juntos e continuar a tocar ao vivo como banda.
Como é que conheceram?
Já nos conhecemos há muitos mais anos, tínhamos muitos amigos em comum e aconteceu naturalmente. O Carlos e o Vitor já tinham tocado juntos numa banda chamada Clockwork. Havia uma forte afinidade musical entre ambos que se veio a comprovar em Evols.
Fazer música foi algo que sempre desejaram fazer?
Vitor – Sim, apesar de me arrepender agora de não ter estudado música, fazer música foi um objetivo desde a minha adolescência.
Carlos – Foi algo que sempre gostei mas nunca tive esse plano de ser músico. Acho que ainda hoje não sei bem o que gostaria de fazer…
Contem um pouco do background de cada um.
Vitor – Toco guitarra desde os 15 anos e dei o meu primeiro concerto aos 16.
Carlos – Toco em banda desde os meus 18 anos, primeiro com uma banda chamada Sonic Death que veio dar origem aos Clockwork que editaram dois álbuns e vários singles. Paralelamente sempre estive muito ligado às artes visuais, principalmente à fotografia que ainda hoje exerço e ensino.
O que significa o vosso nome?
EVOL é um álbum dos Sonic Youth e também LOVE ao contrário. O “s” é apenas o plural de qualquer uma delas. É um álbum que gostamos e uma banda que foi muito importante para a nossa formação musical, entre muitas outras, claro.
De que forma se desenvolve o vosso processo criativo?
Caos, a seguir, caos outra vez e, de vez em quando, aparecem uma série de temas para trabalhar nos ensaios e gravar.

O que significa III (três) o nome do vosso novo trabalho?
Nunca pensámos numa trilogia nem num conceito para os títulos dos discos, talvez para não desvirtuar ou influenciar a audição livre de cada um. III significa 3 que corresponde ao terceiro disco dos Evols. É antes do IV e depois do II.
São vocês homens de fé? Em quê?
Vitor – Nem por isso, neste momento tenho fé que amanhã vou conseguir levantar-me da cama, o que já não é mau.
Carlos – Fé no sentido religioso, provavelmente não. Tenho fé noutras coisas. Continuo a ter fé na natureza, agora na humanidade já tive mais…
Com dois álbuns já editados, o que distingue III dos trabalhos anteriores?
Este disco é mais intenso e tem temas mais rápidos. O som de todo o álbum foi mais cuidado para se tornar mais homogéneo. Não tem temas instrumentais mas a parte instrumental, enquanto elemento central das nossas canções, foi trabalhada de forma exaustiva e penso que isso se nota no resultado final. É um disco em que sentimos que todas as canções têm um peso igual, não temos propriamente um single mas sim um álbum de canções.
Na gravação do álbum tiveram algumas participações sendo que o mesmo vai acontecer nos concertos ao vivo. Como surgiram elas?
Alguns temas precisavam de outros instrumentos e decidimos convidar alguns amigos talentosos para nos ajudarem e alguns deles acabaram por integrar a banda para os próximos concertos. Somos uma banda muito democrática, onde até os músicos convidados participam na construção dos temas, de como os adaptar para o palco. Penso que todos ganhamos com isso.
Quais as vossas maiores influências, nacionais e internacionais?
Não fazia sentido escrever o nome de dezenas/centenas de bandas porque a conjugação dessas influências com a personalidade de cada um leva sempre a um resultado diferente. Gostamos de muitas coisas, desde rock, jazz, soul, etc.
Há muitas bandas nacionais a gravarem bons discos, como os Glockenwise, Sensible Soccers, 10000 Russos, Fugly, HHY & Macumbas, Pega Monstro, Mighty Sands, B Fachada, etc.
Em que é que se inspiraram para criar III?
Foi mais um estado de espírito do que uma inspiração. Achamos que era altura de compor mais músicas e as coisas aconteceram naturalmente ao longo dos ensaios semanais da banda. Algumas músicas foram também ensaiadas ao vivo e depois reescritas para o álbum.
Qual a mensagem que desejam transmitir através deste vosso trabalho?
Não acreditamos muito na ideia de ter uma mensagem. Acho que cada um deve encontrar a sua mensagem ou aquilo que lhe faz mais sentido. Se olharmos para a capa do nosso álbum podemos dizer que promovemos menos fundamentalismo e mais festança.
Já actuaram na Casa da Música e no Milhões de Festa, entre tantos outros. Qual o vosso concerto mais memorável e porquê?
Casa Azul em Barcelos. Condições péssimas, soundcheck inexistente porque fomos jantar, concerto incrível e publico impecável.
Acreditar é viver, e tudo o resto será blasfémia. Expliquem este conceito?
Blasfémia é um termo demasiado ligado à religião… O nosso mote é mais: Life is short, enjoy it!
Se pudessem ter uma participação de um músico estrangeiro qual seria e porquê?
Tantos… Kurt Vile, Adam Granduciel, Steve Gunn, Ripley Johnson dos Moon Duo, Ty Segall, Nels Cline, etc…
Vivemos uma época estranha, no minimo. Enquanto músicos de que forma encaram os tempos que vivemos?
É uma posição de impotência. Os concertos são a melhor parte de ter uma banda e ver os concertos cancelados/adiados depois de tanta preparação, é frustrante. Esperemos que os espaços que programam música regularmente consigam sobreviver e que voltemos todos em breve.
Na vossa opinião como vai ser o universo da música depois da pandemia?
Vai começar mal, o publico vai ter algum medo no início, mas daqui a 1 ano vamos pensar que foi apenas um pesadelo. Se calhar vamos dar ainda mais valor a coisas que sempre demos como garantidas. A música é uma delas.
Lançaram o disco a 20 de Março, correcto? Concertos de promoção online está nos vossos planos a curto prazo?
Neste momento não estamos a pensar fazer concertos online, não podemos ter seis pessoas numa sala mais técnicos de som.
“III” é uma edição Revolve e pode ser adquirido aqui.
Playlist de cinco músicas que inspiraram criação de III
King Gizzard & The Lizzard Wizzard “Rattlesnake”
War on Drugs “Red Eyes”
Led Zepelin “Immigrant song”
Robert Fripp, Brian Eno “The Heavenly Music Corporation”
MGMT “Little Dark Age”