À Conversa com Pernas de Alicate

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É um dos projectos mais interessantes que surgiram na música nacional. Chama-se Pernas de Alicate e estivemos à conversa sobre ele com Carlos Bb e Sara Feio.

Se há uma coisa que desde o primeiro momento intriga em vocês é o nome…ora expliquem lá como nasceu?
Carlos Bb – Tem a ver com a fórmula usada para construir as músicas, todas elas começam pela base, pela bateria, ou seja, pelas pernas. É também um nome que a minha Mãe me chamou toda a vida por ter umas pernas magras e meio arqueadas de jogar tanto futebol.

Quem são a Sara Feio e Carlos Bb?
Sara Feio – Duas pessoas um bocado estranhas.

E como é que nasceu este projecto?
Carlos Bb – Começou com uma ideia pequenina e quando démos por isso tinha-se tornado num projecto ligeiramente megalómano.

Nasceram para a música ou a música é “apenas” uma parte da vossa apurada veia artística?
Carlos Bb – Eu nasci para a música e vivo praticamente para a música, tanto que é a minha profissão. Realizei o sonho de qualquer pessoa, que foi fazer do meu hobby profissão. Continuo a fazê-la com muita paixão e não única e exclusivamente como forma de ganhar dinheiro, por isso sim, acredito que nasci para a música.
Sara Feio – Eu só tenho jeito para cantar se a intenção for afastar os animais selvagens numa situação de perigo, e os instrumentos que manuseio com agilidade são os de desenho ou recorte…

Pois a Sara desenha e ilustra as Pernas, certo?
Sara Feio – Ilustrei as pernas literalmente no início, através do desenho ou da fotografia ou da colagem, e continuo a ilustrar Pernas mesmo que não necessariamente de modo literal.

Depois temos o Carlos na bateria…e é ai que a começa…certo?
Carlos Bb – Musicalmente falando sim, porque a parte visual acontece de forma paralela.

Mas, se o Carlos está na bateria, como surgem os outros sons?
Carlos Bb – Os outros sons surgem das participações e das colaborações dos músicos e das pessoas com as quais me identifico. Sejam eles de que género musical forem ou toquem desde o instrumento musical mais convencional até ao mais estranho e bizarro. Aqui não há medos de testar e experimentar, as barreiras são poucas. A ideia é começar e não saber onde é que se vai acabar.
Cada música começa com um beat de bateria que eu crio, e a partir de aí penso em quem gostaria de convidar para acrescentar algo – pode ser um som de guitarra específico ou de teclados, o que fizer sentido na altura – e a música é construída assim, passo a passo, layer a layer sem que os convidados se cruzem e sem que o produto final ou a “lista de convidados” de cada música seja premeditada.
Musicalmente é um projeto bastante mais espontâneo e imprevisível do que fazer parte duma banda.

Como selecionam esses convidados tão especiais que vão dando forma aos temas?
Carlos Bb – A seleção é simples, são pessoas com talento cujo trabalho admiramos e com quem temos curiosidade de colaborar. Muitas vezes uma pessoa questiona “Como é que será trabalhar com aquela pessoa?”, e nesse sentido Pernas tornou-se numa óptima desculpa para trocarmos ideias, sons e imagens com pessoas cheias de talento, sejam elas portuguesas ou não.

Podemos afirmar que a harmonia entre som e imagem é a base deste projecto?
Sara Feio – A comunicação é a base do projecto, porque mesmo que a imagem e o som estivessem num dia mau, a embirrar um com o outro, haveria na mesma uma conversa entre eles. A base são conversas, entre a música e a imagem, entre colaboradores, entre várias linguagens de imagem diferentes, entre vários instrumentos.

Voltemos ao Carlos que além de estar envolvido neste projecto, tem o Black Sheep Studios…é fácil ter hoje um estúdio de gravações em Portugal?
Carlos Bb – Fácil não é, mas eu e a minha equipa fazemos com que a coisa não se torne tão complicada. Temos tido a sorte de gravar boas bandas e temos a capacidade de ajudá-las a ir ao encontro do seu caminho e do som que desejam. E felizmente temos sempre muito trabalho e conseguimos pagar as nossas contas.
Aqui nasceram várias bandas que pode dizer-se vieram dar uma nova vida e cor ao panorama musical português e é um orgulho ter acompanhado o crescimento dessas bandas e poder olhar para trás e ver onde tudo começou e onde tudo está agora. O Estúdio cresceu e amadureceu e essas bandas continuam mais fortes e vivas do que nunca.

Como vês o universo da música nacional actual?
Carlos Bb – Vejo-o com muita e boa saúde, com muito sangue novo e de qualidade. Há muitas bandas novas e com muita vontade de partilhar boa música. Na minha opinião faltam é mais apoios e mais salas que os recebam. Já estava na altura de tirar o pó a alguns artistas e dar lugar a coisas novas, projectos bons é o que não falta em Portugal.

O que é para vocês a arte de confiar?
Sara Feio – Dar espaço ao outro para errar. Só espero que não seja eu a primeira a meter a pata na poça…

Até onde querem chegar com este projecto?
Sara Feio – Acima de tudo queremos que haja interacção. Seja com um público online ou com as pessoas que convidamos a participar e com quem trocamos ideias.
Mas, obviamente que também queremos promover as nossas capacidades e dar a conhecer as capacidades técnicas e artísticas de outros. Não temos nada planeado para um futuro longínquo, com Pernas de Alicate estamos a viver o aqui e o agora, mas se continuarmos a ter bom feedback e se continuar a haver interesse da parte das pessoas para ver mais e ouvir mais então continuaremos a fazer coisas – até um de nós ter um esgotamento nervoso…

Bom, podemos dizer então que tem pernas para andar?
Carlos Bb – Sim temos pernas para andar, correr e, principalmente, para dançar. De momento estamos a correr uma maratona com várias etapas, sem fim à vista. É uma coisa que nos dá muito trabalho e cansaço, mas que também nos alimenta, nos enche a barriga (mesmo que nos esvazie os bolsos) e que nos dá muita vontade de continuar.

Já apresentaram o projecto ao vivo? Se sim, como correu, se não, porquê e se tencionam dar esse passo?
Carlos Bb – Esse é o passo normal e natural para qualquer banda. Aqui não há essa preocupação. Isto não é uma banda, é um projeto diferente.
Sara Feio – A preocupação que temos agora é acabar a terceira música e o terceiro vídeo que estão ambos em construção. Acabámos de lançar uma Edição Física com uma junção de várias imagens de vários convidados e colaborações visuais diferentes, que dá também acesso ao download dos dois temas existentes (Mosca e Barba) e dois remixes extra. Este livrinho é o parente mais próximo dum espetáculo não-virtual que temos. Podem ver um cheirinho no nosso website: www.pernasdealicate.com e se se despacharem ainda conseguem uma das poucas cópias que sobram.

A Sara vem de uma família intimamente ligada ao teatro e à representação…isso também influência de alguma forma o projecto?
Sara Feio – Acho que sim, o facto de ter passado grande parte da minha infância entre bastidores de teatro, de televisão, ou mesmo de estúdios de dobragens influenciou a minha parte “chanfrinhas”. Gosto de fazer parte do mundo criativo, de me poder expressar, e prefiro definitivamente fazê-lo nos bastidores do que no palco. Não sou uma pessoa introvertida, mas há algumas situações de exposição que me fazem estupidamente tímida, esse papel de palco é do Bibi, ele dá as Pernas e eu visto-as, ou neste caso dispo porque estão quase sempre ao léu!

No vídeo «Barba» contam com a participação de Dickon Knowles (responsável dos live visuals para bandas como The Weeknd ou QOTSA). Como é que isso aconteceu?
Sara Feio – Conheci o Dickon no dia em que entrei para a licenciatura de ilustração da LCC em Londres, ele foi meu colega e é meu amigo desde então. Não fazia nenhum projeto com o Dickon desde esse primeiro ano em que fizemos um trabalho de grupo que nos obrigou a ficar acordados a trabalhar 28 horas seguidas… Mas tivemos boa nota!
Desde essa altura crescemos em direcções diferentes dentro da ilustração, ele dedicou-se ao “motion” e aos “live visuals” com um outro colega nosso que também ajudou na Barba, o Alec Strang, e eu virei-me muito mais para o “print” e ilustração editorial. Tinha curiosidade em ver como seria trabalhar com ele novamente e na verdade ele precisava de uma desculpa para me vir finalmente visitar a Portugal, como andava a prometer há anos.

Planos para o futuro?
Carlos Bb – O futuro passa fazer a próxima música e o respectivo vídeo. Aqui as coisas são pensadas etapa a etapa, é tudo mais imediato e mais espontâneo e o plano é mantê-lo assim.

Já que convidam tantos músicos, se pudessem convidar algum artista/músico estrangeiro quem seria? Porquê?
Carlos Bb – Neste momento adorávamos ter a FKA Twigs como convidada pois tanto a música como a voz e os vídeos dela são incríveis e achamos que casava muito bem com o nosso projeto. Mas não fizemos ainda nada por isso…

https://www.facebook.com/PernasDeAlicate?fref=ts
http://www.pernasdealicate.com/

Por: Sandra Pinto

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