Half Time: “Back to Me fala sobre o que há de mais humano no meio do caos”
Com “Back to Me”, os Half Time exploram territórios emocionais intensos, mergulhando na dor, na culpa e na vingança através de uma abordagem sonora densa e direta. Inspirada pelo universo narrativo de The Last of Us: Parte II, a canção transforma emoções extremas em música, refletindo sobre perda, luto e a luta para encontrar sentido no caos. Comparando com lançamentos anteriores, este single revela uma fase mais madura da banda, com arranjos carregados e um refrão poderoso que equilibra repetição e intensidade emocional.
Por Sandra Pinto
Nesta entrevista, os Half Time falam sobre o processo criativo, a evolução sonora, a influência do palco na composição e como conseguem combinar referências clássicas do rock com uma identidade moderna, honesta e visceral.
“Back to Me” aborda temas como perda, culpa e vingança, com uma narrativa inspirada no universo de The Last of Us: Parte II. Como surgiu a ideia de explorar essas emoções na música e como foi o processo de transformar essa inspiração em letra e melodia?
Todo o universo de The Last of Us — que ainda está a ser adaptado para série — é uma obra narrativa densa e complexa, em que as várias vertentes da condição humana são exploradas de forma intensa e crua, onde a vingança, o luto e a culpa estão presentes ao longo de toda a história. Foi daí que surgiu a inspiração para “Back to Me”.
Musicalmente, a faixa nasceu de forma muito natural — de riffs de guitarra e jams em estúdio – que depois se aliou a essa base crua e sombria. É uma abordagem emocionalmente extrema que encaixou naturalmente na linguagem que a banda procura explorar: a tensão entre amor e violência, vulnerabilidade e força, entre o que se sente e o que se reprime.
Apesar da inspiração direta por detrás deste tema, o foco nunca foi contar a história, mas sim explorar o que essas emoções representam fora do ecrã. O jogo serviu como espelho, mas a canção transformou-se num espaço de reflexão sobre o luto, a culpa e a necessidade de redenção. Sobre viver com o trauma de ter experienciado algo irreversível e ter de lidar com isso todos os dias. Sobre uma impotência sufocante e um desejo de vingança extremo. Ao fim e ao cabo, “Back to Me” fala sobre o que há de mais humano no meio do caos: a incapacidade de aceitar a perda e a eterna tentativa de encontrar significado no que resta.
Comparando com o vosso anterior single, Until It’s Over, como descreveriam a evolução sonora e emocional dos Half Time em Back to Me?
Comparando com “Until It’s Over”, sentimos que “Back to Me” representa uma fase mais intensa e madura dos Half Time. A sonoridade tem evoluído naturalmente para algo mais pesado e emocionalmente carregado, com arranjos mais densos e uma abordagem mais direta às emoções. Enquanto “Until It’s Over” transmitia uma energia positiva e quase libertadora — uma espécie de incentivo para seguir em frente — “Back to Me” mergulha no lado oposto: na dor, na perda e na tentativa de encontrar sentido dentro do caos.
Apesar dessa diferença de tom, ambas as músicas refletem o mesmo espírito da banda: canalizar emoções reais em forma de canção. “Until It’s Over” é o lado da esperança e da superação; “Back to Me” é o lado da catarse e da introspeção. Juntas, acabam por mostrar bem o nosso percurso enquanto grupo — a vontade de experimentar, de crescer e de traduzir diferentes fases da vida através da música.
No fundo, “Back to Me” é uma boa demonstração da fase atual dos Half Time, tanto sonora como composicionalmente: mais crua, mais pesada, mas também mais honesta.
O refrão de Back to Me é repetitivo e poderoso, transmitindo um grito de dor e esperança. Como surgiu essa escolha de construção do refrão e de intensidade emocional na música?
O refrão de “Back to Me” foi pensado como o ponto em que tudo explode emocionalmente. A repetição de “Back to me” atua como uma forma de traduzir a dor e a esperança de quem perdeu algo que não consegue aceitar. É simples de propósito, porque às vezes não são precisas muitas palavras para mostrar o que se sente. Queríamos que essa parte soasse crua e verdadeira, e que transmitisse uma sensação de libertação, mas também de exaustão.
A música acabou por surgir de forma muito natural. Houve algum debate sobre se devíamos acrescentar mais material vocal no refrão, mas decidimos deixar espaço para a canção respirar. Acreditamos que a música, como algo vivo, precisa de ar — e neste caso, o silêncio e a repetição dizem tanto quanto qualquer nova frase.
Também houve uma intenção clara de criar um refrão que ficasse no ouvido. Optámos por uma estrutura simples, com menos letra mas mais emoção e musicalidade, até porque os versos — e o momento que antecede o breakdown — já são bastante carregados de conteúdo. No fim, a ideia era que o refrão se tornasse o grito que liberta tudo o que ficou preso até ali.
Vocês mencionam influências do rock das décadas de 70, 80 e 90. Como equilibram essas referências clássicas com a vossa identidade moderna e direta dentro do rock alternativo português?
As influências das décadas de 70, 80 e 90 estão naturalmente presentes na nossa forma de tocar e compor — é a música com que crescemos e que nos inspirou a formar a banda. Não procuramos reproduzir esse som, mas sim partir dele para criar algo que soe atual e verdadeiro para nós.
O equilíbrio entre essas referências e a nossa identidade moderna surge de forma natural. Fazemos a música que queremos ouvir, e isso mistura inevitavelmente aquilo que nos marcou no passado com o que vivemos hoje. Notamos que o rock, especialmente o hard rock, nem sempre tem tanta visibilidade em Portugal como já teve, mas isso não é uma crítica — é apenas uma constatação que nos motiva a querer fazer parte desse “incentivo” à mudança.
Mais do que tentar preencher um espaço, queremos contribuir com o nosso som e a nossa visão. Se conseguirmos que as nossas músicas cheguem a quem sente falta dessa energia mais crua e emocional, então sentimos que estamos a cumprir o nosso papel. No fim, trata-se de honrar o que nos influenciou e continuar a empurrar o estilo para a frente, com respeito e paixão.
Desde o EP Nobody Rides for Free, a banda tem vindo a conquistar público com presença em palco intensa. Como essa experiência ao vivo influencia a criação de músicas como Back to Me?
A experiência em palco tem sido essencial para o nosso crescimento enquanto banda. Cada concerto traz-nos mais confiança e consciência do que queremos transmitir. Tocando ao vivo, aprendemos a ler-nos melhor — a perceber os gestos, as dinâmicas e as intenções uns dos outros — e isso acaba por se refletir naturalmente na forma como compomos.
Mais tempo de palco significa também mais autoconhecimento. Com cada atuação, saímos com uma noção mais clara daquilo que queremos ser e do som que nos define. Essa sintonia que se cria entre nós permite que, em estúdio, as ideias fluam de forma mais natural e honesta. “Back to Me” é um bom exemplo disso: nasceu dessa cumplicidade, dessa capacidade de traduzir emoções intensas em algo coletivo. No fundo, quanto mais vivemos o palco, mais verdade colocamos nas músicas que fazemos.
Depois deste lançamento e do amadurecimento artístico que ele representa, que caminho imaginam para os Half Time nos próximos meses em termos de singles, EPs ou concertos?
Depois de “Back to Me” queremos continuar a crescer — como músicos, como compositores e como banda. Este tema marcou uma fase de amadurecimento, mas sentimos que ainda temos muito por explorar. O objetivo é simples: evoluir, tanto na escrita como na performance, e continuar a criar música que seja verdadeira para nós e que possa chegar a mais pessoas.
Nos próximos meses queremos continuar a compor e a tocar o máximo possível. Naturalmente, isso pode traduzir-se em novos singles, talvez até num primeiro LP. Mas, no fim, o mais importante é manter viva a vontade de subir ao palco, de tocar os nossos instrumentos e de partilhar tudo isto com quem faz sentido. Se conseguirmos fazer a diferença, mesmo que pequena, já será uma vitória.