Linda Martini na Sala Tejo

Quando em meados do passado mês de Setembro escutámos pela primeira vez e de uma “enfiada” o novo álbum dos Linda Martini, ficámos surpresos. Primeiro porque achámos que o mesmo, ao fugir de alguma linha musical que a banda vinha seguindo, ia deixar, no mínimo, apreensivos alguns fãs. Segundo porque adorámos o rumo dos acontecimentos, ou seja, ficámos literalmente colados ao som de «Turbo Lento», registo que tínhamos quase a certeza iria ganhar nova dimensão quando tocado ao vivo.

Ontem, sábado dia 12 de Outubro, tivemos a oportunidade de tirar isso a limpo num concerto que a banda deu na Sala Tejo do MEO Arena, em Lisboa. A sala, que não conhecíamos, abriu as portas a uma turbe de fiéis fãs (alguns estiveram à espera para entrar desde as 13h00…o concerto começou às 22h30) que a encheu quase por completo.

Por entre opiniões que íamos ouvindo aqui e ali sobre as novas músicas, a ansiedade reinava no semblante de muitos. Trinta minutos após o previsto a banda originária de Queluz subiu ao palco para arrastar atrás de si durante perto de uma hora e meia corpos e pensamentos de um público que se veio a revelar intenso.

«Ninguém Tropeça Nos Dias» o único tema instrumental de «Turbo Lento» introduziu todos no universo Linda Martini prosseguindo num crescendo de intensidade até os quatros elementos entrarem em placo e se instalarem nas devidas posições. Seguiu-se «Juarez» música com a qual somos atirados para um mundo repleto de guitarras, riffs e uma potentíssima bateria atacada sem dó nem piedade por Hélio Morais.

Dedicada aos «que estiveram ali à porta desde as 13h00», «Panteão» foi a senhora que se seguiu num alinhamento que tinha reservadas algumas boas surpresas, ou seriam expectáveis recordações? «Nós Os Outros», de «Casa Ocupada», «Juventude Sónica», «Estuque», do disco Olhos de Mongol, «Belarmino» e «Mulher-a-Dias» cruzaram-se na noite com as músicas novas, plenas de uma força renovada e de uma poética que não temos tido ocasião de vislumbrar na musica nacional com a desejada frequência.

Comunicativos, os membros da banda demonstraram estar plenamente conscientes do caminho que percorreram para chegar até aqui, não deixando os créditos do sucesso que têm alcançado por mãos alheias. Entre discos pedidos, ao que Cláudia Guerreiro, a baixista, responde «não percebo nada do que falam», e dedicatórias, com «Tremor Essencial» a ser dedicada a Sebastião (filho de André Henriques nascido este ano) e «Volta» dedicada ao pessoal da Cova do Vapor (localidade na Trafaria onde foi filmado o vídeo) com um «obrigado por nos terem recebido», o alinhamento foi trazendo certeza do que já tínhamos sentido ao ouvir «Turbo Lento»: este é um disco que clama por ser tocado ao vivo.

Em cima do palco os quatro elementos demonstram um à vontade tremendo fazendo de cada música algo mais, trazendo à Sala Tejo uma emoção que nos vai enchendo os sentidos, que nos obriga a ficar alertas para a canção seguinte, que nos transporta para um espaço de memórias…aquela noite de 2006 em que num Santiago Alquimista cheio os vimos pela primeira vez e onde tivemos a certeza de que iam ser grandes…maiores do que naquela época já evidenciavam ser.

«Pirâmica» e «Sapatos Bravos» foram bem recebidas pelo público que demonstrou ter a lição bem estudada. Mas se houve música de «Turbo Lento» que adquiriu uma dimensão quase transcendental ao vivo foi «Febril» (que em disco surge com um poema da música «Tanto Mar» de Chico Buarque) pelo sentimento que transporta em cada silaba cantada, em cada nota tocada.

«Só para acabar com a expectativa vamos tocar “Ratos”», informa a baixista Cláudia Guerreiro, antes de avançarem com o hino de «Turbo Lento» e seu tema de apresentação. Comunhão, loucura, o que lhe quiserem chamar foi o que aconteceu ao som de “Cem Metros Sereia”, música de «Casa Ocupada«, com toda a gente, mas, acreditem, mesmo toda a gente, a gritar a uma só voz «fo*** é perto de te amar se eu não ficar perto». Lindo!

Público avisado, «são só mais duas e depois vamos», e os Linda Martini avançaram com «Este Mar» e «O Amor É Não Haver Polícia”. A verdade é que não cumpriram a promessa e já depois de Hélio se ter afundado literalmente nos braços do público, regressam para «Dá-me a Tua Melhor Faca». Não podia ter terminado da melhor forma uma noite que, mais do que lançamento de um novo trabalho, foi de celebração de 10 anos de carreira. Uma noite em que vimos um Hélio Morais ainda mais forte na bateria, um André Henriques cada vez mais seguro da sua voz, um Pedro Geraldes rendido ao poder da guitarra e uma Cláudia Guerreiro surpreendentemente ainda mais poderosa, com uma pose brutalíssima e inesquecível!

Leia a entrevista aos Linda Martini em https://lookmag.pt/blog/conversa-linda-martini/
Mais sobre «Turbo Lento» em https://lookmag.pt/blog/linda-martini-apresentam-turbo-lento/

Texto: Sandra Pinto
Fotos: Luís Pissarro

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