Criar gin é um talento. Bebê-lo também
Pintar ou cantar são talentos, diz. Criar gin é o seu. Joanne Moore, a primeira mulher master distiller de gin do mundo, e representante da G&J Distillers, esteve em Lisboa para uma masterclass sobre a bebida do momento.
Bloom, Berkeley Square e Opihr são como filhos para Joanne Moore, o seu orgulho. Criações suas, não pode dizer de qual gosta mais. Mas não recusa apontar os melhores momentos para saborear cada uma destas marcas premium de gin que a Sogrape decidiu apresentar em Lisboa, num dia de sol em que o terraço do restaurante The Insólito se abriu para dar a conhecer estas bebidas.
Um dia para o qual Bloom seria o gin ideal, aconselha a master distiller britânica. Entre os seus sete ingredientes principais estão camomila, madressilva e pomelo. São aqueles que provamos, separadamente, antes de conhecer o resultado final: um gin leve, floral, subtil e delicado que o marketing atirou ao público feminino, ainda que Joanne Moore não o tenha criado a pensar neste segmento. Na verdade, o processo de criação de Bloom foi inspirado no ritual do chá e no típico english country garden e não é por acaso que aqui se serve este gin premium com morangos. O toque rosado que, ao fim de pouco tempo, surge no copo torna convincente o apelo ao lado feminino desta bebida, com 40%.
Mas Joanne Moore não limita o consumo de Bloom e pensa mesmo que pode ser o preferido dos portugueses, cada vez mais apreciadores desta bebida que se impôs entre as preferências de todos. A especialista conta que o consumo de gins premium em Portugal está a crescer 150%. Motivo para se conhecer as restantes ofertas da G&J Distillers, empresa de longa história, a que Joanne Moore se juntou em 1996, logo após a formação em bioquímica. Com o tempo, ganhou total liberdade na companhia, que lhe entregou um briefing criativo em branco para a criação destes gins – para além de Bloom, encontramos aqui Berkeley Square e Opihr e ainda Greenall’s, existente desde 1716.
Para o final de um longo dia de trabalho, a representante da G&J Distillers aconselha um Berkeley Square, gin «mais difícil» de beber, conta. «A bold gin», chama-lhe. Distingue-se dos restantes desde o momento da destilação, por durar 48 horas em vez das 24 horas de Bloom ou Opihr, e surge-nos com menor quantidade de água tónica do que é habitual. No universo dos whiskeys, este gin seria o single malte e bebe-se «como um Martini», sem misturas. Não admira, portanto, que se pense o Berkeley Square como o mais destinado ao mercado masculino. Tem 48% e pode servir-se puro, com apenas uma folha de manjericão.
Já Opihr, o mais novo da família, conta a história dos mercados de especiarias. Foi a pensar nestes espaços que Joanne Moore desenhou Opihr, que vai beber inspiração às especiarias orientais. Entre os seus 10 elementos estão cardamomo, da Índia, gengibre e toranja. Estão assim assegurados toques cítricos, frutados e quentes. Para ser servido com casca de laranja.
Os acompanhantes do gin, que vemos cada vez mais diversos, influenciam a experiência da bebida. E é também por isso que somos aconselhados a saborear um copo de Greenall’s apenas com lima e uma água tónica tradicional. Para que o gin possa brilhar por si. E, no caso, trata-se de uma receita com quase 300 anos de existência, onde o zimbro da Toscana, o limão de Espanha e a cássia (canela) do Vietname casam na perfeição. Difere das restantes marcas por enquadrar-se numa categoria standard.
Aprendemos ainda que podemos estar a passar ao lado da melhor experiência no consumo do gin. Os copos balão, por exemplo, ainda que agradáveis à vista, permitem um maior contacto da bebida com o ar e com o calor da mão que o agarra, para além de poderem conter uma quantidade de água tónica superior ao desejável.
O resultado é uma experiência menos homogénea desde o início até ao final, apagando-se o brilho desta bebida que passámos a admirar nos últimos anos, mas que traz consigo uma longa história de sucesso e receitas pensadas ao pormenor por especialistas como Joanne Moore. Porque criar gin é um talento.
Por: Filipa Moreno