Já passaram mais de 25 anos desde que Kurt Cobain nos deixou. O carismático líder dos Nirvana marcou indiscutivelmente a era do grunge. Numa época em que ainda não se falava de igualdade de género ou de direitos homossexuais, Kurt já se expressava em defesa das minorias, sem papas na língua.
Naturalmente introspetivo, refugiava-se na música e nos livros. Adorava os Beatles e confessou ter lido várias vezes “O Perfume”, de Patrick Süskind. Criativo, gostava de desenhar e, em criança, o seu quarto enchia-se de desenhos de personagens de ficção de que gostava.
Nascido a 20 de fevereiro de 1967, a infância de Kurt Donald Cobain foi tranquila até ao divórcio dos pais. A partir daí, e à medida que os pais formavam novas famílias, Kurt deu por si perdido. A música já estava presente desde pequeno. No documentário Cobain: Montage of Heck, de 2015, podemos vê-lo com quatro anos a receber a primeira guitarra. Nunca se chegou a encontrar por completo. O abuso de substâncias eram comum, mas os problemas de saúde mental eram mais complexos e até comuns nos antecedentes de Cobain. A saúde mental deteriorou-se ainda mais depois do primeiro álbum dos Nirvana, Nevermind.
Lidar com as exigências e expectativas da fama não foi fácil para um introvertido que já tinha tanto com que lidar. Queria uma vida normal, pensou desistir dos Nirvana, mas a vida normal nunca chegou. Kurt Cobain suicidou-se a 5 de abril de 1994. O seu legado, no entanto, perdura. Em novembro do mesmo ano, os Nirvana editaram o álbum ao vivo MTV Unplugged in New York, gravado em novembro de 1993, que viria a tornar-se um marco icónico para a história da música.
Com novas gerações a descobrir Nirvana e Kurt Cobain, ano após ano, é seguro dizer que ainda hoje Kurt é a voz não de uma mas de várias gerações. Compositor e letrista excecional, defensor habitual de minorias, polémico, talentoso e carismático, tornou-se o ídolo que nunca quis ser. Os livros eram uma das suas companhias preferidas e, por isso mesmo, o site bertrand.pt recorda Cobain, destacando os seus cinco livros preferidos.
A DIVINA COMÉDIA, de DANTE ALIGHIERI
A parte que mais cativou Kurt Cobain no longo poema épico de Dante , A Divina Comédia , foi a primeira: Inferno . Além desta, a obra inclui ainda outras duas partes, Purgatório e Paraíso .
Esta obra, com data do início do século XIV, foi escrita em toscano, uma língua próxima do italiano atual. É, por isso, considerada a obra fundadora da língua italiana.
Esta alegoria explora o conceito medieval de Inferno, enquanto Dante , perdido numa selva , encontra Virgílio, poeta romano de que Dante era grande admirador. É Virgílio quem sugere a Dante continuar a viagem pelo Inferno, Purgatório e Paraíso.
O PERFUME, PATRICK SÜSKIND
Passado no século XVIII, O Perfume é uma história peculiar sobre Jean-Baptiste Grenouille, um homem que tem duas características especiais: não tem odor próprio e tem um olfato muito apurado.
Quando conhece uma rapariga com um perfume diferente de todos, Grenouille fica obcecado e começa uma busca pelo perfume perfeito.
O Perfume era o livro favorito de Kurt Cobain . Numa das últimas entrevistas que deu, o músico confessou já ter lido o romance “ umas dez vezes “, admitindo que não conseguia “ parar de o ler ” e que o levava várias vezes consigo “no bolso, para ler nos aviões “.
Esta obra de Patrick Süskind serviu de inspiração para Kurt Cobain escrever o tema “ Scentless Apprentice “, inserido no álbum In Utero, de 1993.
PÃO COM FIAMBRE, DE CHARLES BUKOWSKI
Pão com Fiambre foi o quarto romance escrito por Charles Bukowski e é considerado a sua magnum opus. O alter-ego literário de Bukowski, Henry Chinaski, é novamente protagonista, como foi em várias das obras do autor.
Neste livro, conhecemos a infância complicada de Chinaski, com muitos anos de uma juventude vivida à margem. Pão com Fiambre é considerado um livro até certo ponto autobiográfico, uma vez que, tal como muito da personagem Chinaski, vários dos acontecimentos são semelhantes aos que aconteceram na vida de Bukowski.
PELA ESTRADA FORA, DE JACK KEROUAC
Inspirado pelas viagens de carro que costumava fazer com os amigos, Jack Kerouac escreveu Pela Estrada Fora. Passado na era pós-Segunda Guerra Mundial, Kerouac apresentou a Geração Beat como nunca antes tinha sido feito.
A história é narrada em cinco partes, que acompanham as viagens de Sal Paradise, a personagem principal, e do amigo Dean Moriarty, entre os anos de 1947 e de 1950. Com jazz, álcool, drogas e amor à mistura, Pela Estrada Fora é um dos grandes marcos da literatura americana do século XX, definindo a geração beatnik e contracultura.
HAMLET, DE WILLIAM SHAKESPEARE
A tragédia Hamlet é uma das mais marcantes peças de teatro escritas por William Shakespeare. Aqui, o dramaturgo inglês conta a história do Príncipe Hamlet, da Dinamarca, que quer vingar a morte do pai, o rei Hamlet. O pai foi morto pelo irmão, que de seguida ocupou o trono.
É uma peça sobre traição e vingança, corrupção e loucura, que impressionou Kurt Cobain. A ligação que o músico criou com a personagem foi forte e marcante, tendo sido uma personagem que lhe ficou na memória até aos seus últimos dias.