Música avulsa para o verão que começa (parte 1)

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O verão inicia e cai na mesa do cronista mais um disco ao vivo de Nick Cave.

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O avozinho mantém um nível de produtividade assinalável e, após o enorme sucesso de “Push The Sky Away” e da respetiva digressão promocional, editou as sessões gravadas na KCRW e viu o notável documentário “20,000 Days on Earth” realizado por Iain Forsyth e Jane Pollard e do qual Cave é coautor, ser recebido com aplausos unânimes da crítica.

O novo disco, creditado a Nick Cave sem os Bad Seeds, mas contando com a participação de Thomas Wydler, Martyn Casey e o omnipresente Warren Ellis, foi gravado no Royal Albert Hall no passado dia 3 de Maio. Esta não é a primeira gravação de Cave na célebre sala londrina a ver a luz do dia. Em 1997, a edição especial da coletânea “The Best Of Nick Cave and The Bad Seeds” oferecia um segundo disco onde estavam incluídos alguns temas de um concerto gravado nesse ano e que tinha contado com a participação de Kylie Minogue. No ano seguinte, uma edição revista e aumentada seria editada separadamente.

Se ainda não possuem qualquer disco ao vivo de Cave, este é o disco a comprar. O alinhamento inclui 23 canções retiradas das diversas fases da vida do combo australiano, ao que não deve ser alheio o tratamento de remasterização e reedição a que os álbuns da banda têm vindo a ser sujeitos. Na lista de temas apenas não se incluem canções do disco de versões “Kicking Against The Pricks” e do álbum maldito “Nocturama”. Da fase mais recente, “Abattoir Blues” e “Dig, Lazarus, Dig!!!” ficaram de fora das escolhas.

As guitarras dos Bad Seeds encontram-se ausentes neste disco, estando a violência sonora de temas como “Jack The Ripper” e “Tupelo” a cargo do piano de Cave e do violino de Ellis, enquanto o inesperado “Avalanche”, “Weeping Song” e “Up Jumped The Devil” aparecem completamente transfiguradas. Uma boa escolha para levar no iPod em passeios à beira-mar ao fim da tarde, para consumir com um Calippo de laranja enquanto se admira o belo pôr-do-sol (caso não chova).

Depois do duplo álbum de Cave, o segundo lugar da pilha de discos é ocupado pelo triplo (!!!) “Live 2015” dos Belle & Sebastian. E, de repente, é 1973 outra vez. Se alguém ficou com fome depois do bem recheado mas curtíssimo espetáculo de vaudeville dos escoceses na recente edição do Primavera Sound do Porto, pode deliciar-se com este conjunto de vinte temas que funcionam como uma espécie de best of da banda. Ao contrário do que seria de esperar, apenas aparecem incluídos três temas do mais recente trabalho de estúdio “Girls In Peacetime Want To Dance” e o clássico álbum de estreia, “If You’re Feeling Sinister”, é praticamente ignorado, apenas se verificando a inclusão do tema título e de “Get Me Away From Here, I’m Dying”.

“Live 2015” documenta na íntegra o concerto no SSE Hydro Arena, na noite de 18 de Maio deste ano. A jogar em casa, perdoa-se à banda o habitual ambiente festivo numa noite que devia ser dedicada ao recolhimento para adoração do fantasma de ‘vocês sabem quem’, 35 anos passados do respetivo óbito.

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“That’s Your Wife on the Back of My Horse” é o título do último trabalho de longa duração de Johnny Dowd vinte anos depois da estreia a solo com o longínquo ‘Wrong Side Of Memphis’. Nascido em 1948 em Fort Worth no Texas, Dowd muda-se para Nova Iorque após cumprir o serviço militar e, no início da década de 70 forma os The Jokers com a irmã Jennifer e o amigo Dave Hinkle. Na segunda metade da década seguinte, a banda aumenta o seu line-up com a inclusão de 3 músicos adicionais e muda o nome para Neon Baptist. No entanto, o reconhecimento da indústria e do público tarda em chegar e a banda não consegue assinar um contrato de gravação limitando-se a editar um par de cassetes que são hoje autênticos objetos de colecionador para os fãs de Johnny Dowd.

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Em 1995 a atividade dos Neon Baptist chega ao fim e Johnny Dowd aproveita para gravar um conjunto de demos a que dá o nome de “Wrong Side Of Memphis”. O sucesso e as excelentes críticas obtidas pela edição em CD de “Wrong Side Of Memphis” levaram à distribuição do disco na Europa pela Munich Records a que se seguiu uma pequena e bem sucedida digressão europeia.

Ao longo dos últimos 20 anos, Johnny Dowd tem mantido uma enorme atividade criativa, editando catorze discos de originais e uma meia-dúzia de álbuns ao vivo entre edições de autor e muitas outras com o selo da Munich Records . Em 2012 mudou-se para a Mother Jinx mas o seu vigor produtivo manteve-se elevado com quatro discos editados nos últimos quatro anos.

Músico de difícil catalogação, é frequentemente atirado para a prateleira do country alternativo apesar das suas referências serem fortemente urbanas. Tom Waits, Captain Beefheart, Nick Cave e Zappa são citados com regularidade em textos de análise ao trabalho de Johnny Dowd. No entanto, o ouvido mais atento consegue identificar nos seus últimos discos alguns elementos que o ligam aos Gun Club e aos Suicide.

Gravado quase na totalidade pelo próprio Dowd, apenas com a colaboração de Anna Coogan nas segundas vozes, “That’s Your Wife on the Back of My Horse” vem confirmar Johnny Dowd como um dos mais importantes músicos norte americanos das últimas duas décadas, um percurso em que sempre demonstrou um notável espírito de marginalidade e independência.

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Por: Jon Marx

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