À Conversa com Aristides Duarte

Nasceu no Soito, no concelho do Sabugal. Desde sempre que se interessou por música, com particular incidência no rock nacional. Chama-se João Aristides Duarte e escreveu dois livros aos quais deu o nome de “Memórias do Rock Português” e que serviram de pretexto para uma conversa.

 Como nasceu o teu interesse pela música?
O meu interesse pela música começou quando era adolescente. Foi-se aprofundando e a partir dos 18 anos passou a ser uma paixão. Sobretudo depois de ter visto, ao vivo, os Arte & Ofício e os Faíscas, duas das grandes bandas de rock português, da época.

Como surgiu a oportunidade de fazer os livros “Memórias do Rock Português”?
Durante muitos anos fui guardando memórias, recortes, revistas e outra “memorabilia” sobre rock português. Até que um dia houve um “click” e pensei fazer e editar (em modo “DIY”) o livro “Memórias do Rock Português”. Se o pensei, melhor o fiz. Consultei alguma bibliografia (que já possuía), mas julgo que o grande interesse dos livros é, mesmo, o relato pessoal daquilo que foi por mim vivido, em inúmeros concertos (sobretudo no final dos anos 70 e início dos anos 80). Sei que hoje o 1.º Volume é um livro cotado no meio musical português e isso, naturalmente, deixa-me orgulhoso.

Porquê o rock?
Tal como disse atrás, o rock surgiu naturalmente. Vivia (e ainda vivo) numa zona rural, mas nunca gostei das músicas da moda (Art Sullivan ou o “Disco-Sound”), embora adore música tradicional portuguesa. Depois, vi os Arte & Ofício ao vivo, em abril de 1978 e aí senti o que era um grupo altamente profissional a tocar. Nunca tinha visto nada igual. Só conhecia conjuntos de baile.

Foi difícil levar a bom porto esta empreitada?
Não foi muito difícil. Eu já tinha a maioria dos artigos escritos, uma vez que eram publicados num jornal da Guarda. Foi só compilá-los e começar a pensar como fazer o encaixe dos mesmos em forma de livro. Depois, foi pedir o prefácio ao meu amigo António Manuel Ribeiro, arranjar imagens e “voilá”. Para o 2.º Volume contactei uma série de músicos dos anos 60, 70 e 80 e do século XXI que se disponibilizaram para serem entrevistados por mim.

O facto de morares longe dos grandes centros urbanos influenciou de alguma forma a tua busca por algo novo?
Sim, eu queria sair do habitual por aqui… bailaricos… Na época havia concertos, por aqui, sobretudo nos bailes de finalistas dos liceus. Se pudesse ir, não hesitava. Tudo era novo e eu era um jovem.

De todas as bandas que falas nos teus livros qual a que mais te preencheu? Porquê?
Houve tantas que se torna difícil escolher uma. Gostei de ter visto tantas delas ao vivo, que não consigo distinguir uma.

Se tivesses de escolher um só grupo que simbolizasse o que de melhor se fez nas últimas décadas em Portugal qual seria?
Se tivesse que o fazer, escolhia os UHF. Um grupo coerente, com uma mensagem que me agrada. Um grupo com preocupações sociais, nas suas letras. Há muita gente que os detesta, mas eu gosto deles.

Falaste de todos ou ainda ficou alguém de fora?
Falei de quase todos. Pelo menos, dos mais importantes. Mas, claro, que ficará sempre algum de fora.

Como observas o universo da música nacional actualmente?
Acho que há interessantes projectos musicais, na área do rock, em Portugal, actualmente. Ao contrário do que se diz, o rock (português) não morreu.

De entre as bandas que hoje vão surgindo alguma gera em ti um maior entusiasmo? Porquê?
Gosto dos A Jigsaw, dos Anaquim, dos Lydia Sleep e dos grupos das colectâneas Optimus Fnac. Há muitas bandas de que gosto. Acho-os interessantes e com capacidades de surpreenderem.

Vivemos em Portugal um momento complicado…qual a banda sonora certa para acompanhar este momento da nossa história?
Não é com certeza o “Senhor Engenheiro”, dos Xutos & Pontapés. Iria mais para o “Desgoverno Nacional”, dos NZZN.

Gostavas de continuar a escrever a história do rock português nas décadas vindouras?
Não me acho com capacidades para isso, porque não estou a viver isso da mesma maneira que vivi os anos 70 ou 80. Já tenho 52 anos. Logo, essa tarefa, será para outras pessoas, mais jovens, com vivências do que se passa agora e do que se passará a seguir.

Se te pedisse para escolheres uma música para servir de cenário a esta conversa qual seria?
Só pode ser o “Rockolagem”, que é a canção que fala sobre todos os grupos do rock português, dos anos 80. Original de João Moutinho, referida no meu livro (1.º Volume).

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