Vagos Metal Fest 2024 Dia III. Por entre o power metal dos Blind Guardian e o brutal death metal dos Suffocation, foi o grind core dos Grog que levaram o nosso coração
Na terceira e derradeira noite do Vagos Metal Fest 2024 o cartaz prometia alguma “brutalidade”, sendo certo que foi o power metal que trouxe mais gente à plateia. Pela nossa parte, uma palavra para as bandas portuguesas que provaram que o metal em Portugal está bem e recomenda-se.
Texto: Sandra Pinto
Fotos: Luís Pissarro
Não estando no seu ambiente natural, ou seja, a noite, os ANZV não se deixaram abater pelo luz nem pelo calor do sol. Com gentileza seguraram nas mãos do público e levaram cada um até às profundezas da ancestral mitologia Suméria. Hipnotizante, a apresentação da banda nacional tem o dom de conseguir fixar sobre si todos os olhos e ouvidos. Nada é deixado ao acaso para oferecer um espetáculo completo ao muitos que já se encontravam no recinto.
Nascida em 2001, a banda HochiminH nasceu na cidade alentejana de Beja. Em 2009 lançam o primeiro álbum, “It has begun”; em 2018 o EP “Ashes”; em 2021 apresentam o segundo álbum “This is Hell”. Caracterizados por uma sonoridade dentro forte, ofereceram uma atuação poderosa que contagiou a audiências. A culpa? A sua atitude forte em palco e uma sonoridade muito própria. Sendo uma banda de metal, as sonoridades de pendor mais eletrónico fazem parte do som da banda. Talvez por isso nos tenham conquistado com as algumas atmosferas densas e pesadas equilibradas com uma certa melodia. Os vocais, apesar de extremos, conseguem de forma “melodiosa” acompanhar as guitarras poderosas que tornam o som dos HochiminH naquilo que ele é: único.
O dia seguiu com a apresentação dos igualmente portugueses Terror Empire. Praticantes de um thrash metal «furioso e friamente calculado», a banda agarrou o público pelo “pescoço” fazendo que esta parte de nosso corpo não parasse um segundo durante toda a sua apresentação. Sem dar tréguas, os músicos oriundos da região de Coimbra, fizeram com que a tarde de calor ficasse ainda mais quente, com a temperatura a elevar-se a cada tema tocado.
Diretamente de Barcelona os Raxar brindaram o público do Vagos com o seu power metal sinfónico. Os apreciadores do género mantiveram-se estoicamente na plateia; pela nossa parte fomos visitar a zona de gastronomia para nos prepararmos para a “estalada” que estava para chegar logo de seguida.
Não há dúvidas: os Grog são incrivelmente bons quando sobem a um palco para se apresentar ao vivo. Mais uma vez a banda de grind core portuguesa não desiludiu, bem pelo contrário. Com mais de três décadas de existência, o coletivo mantem uma energia (e qualidade) fora de série. Para tal muito contribui a prestação do vocalista (e mentor) Pedro Pedra e a excelência interpretativa dos músicos que o acompanham. O poder da voz de Pedro invade os nossos ouvidos, hipnotizando-nos: será este o poder do grinde core? Não sabemos, mas é certamente este o poder dos Grog que deram, claramente, um dos melhores concertos, não só deste dia, mas desta edição do festival. Saibam mais sobre a banda vendo (e ouvindo) a conversa que tivemos com Pedro Pedra aqui.
A provar que em Portugal o metal está vivo e recomenda-se nos seus mais distintos géneros, era a hora dos Gwydion subirem a palco. Pura celebração de cultura, a banda cativou o público com o espírito épico do folk metal. A cada tema o entusiasmo da banda e do público cresce, muito por culpa da simpatia dos primeiros. Homenageando a cultura celta nas suas letras, os Gwydion levam todos pela floresta onde se ouvem o metal harmonizado com elementos folclóricos. A festa fez-se com muita dança e alegria, a fusão certa para fazer deste um bom concerto de fim de tarde.
Verdadeira instituição de brutal/technical death metal, os norte-americanos Suffocation eram um dos nomes mais ansiosamente aguardados do dia. Vindos de Long Island, Nova Iorque, deram uma apresentação violentamente implacável. A banda, agora liderada pelo talentoso growler Ricky Myers (Disgorge, Sarcolytic) simplesmente pontapeou o público com um alinhamento cheio de músicas rápidas, pesadas e malignas. Desde que explodiu nos últimos anos da década de 1980, os riffs complexos, rosnados guturais e breakdowns violentos dos Suffocation foram replicados uma e outra vez e, embora a formação da banda tenha sido sujeita a frequentes mudanças de músicos, a sua tenacidade em oferecer aos fãs um metal brutal nunca vacilou, como bem se viu no seu concerto em Vagos.
Apesar de serem uma banda com quase trinta anos de vida, os Primordial não diminuíram em nada o seu espírito ou entusiasmo e este concerto foi um bom exemplo disso. Verdadeira lição sobre como se faz um bom black metal celta, a sua prestação revelou-se “indignada”: é mesmo assim que este irlandeses se apresentam. Mas o que faz destes “irlandeses indignados” algo de verdadeiramente distinto? Não é apenas o poder dos seus riffs, o brilho melódico das músicas ou a presença de palco de Alan Averill. É a paixão e a tristeza avassaladora da sua música que nos agarra de uma forma que poucas outras bandas conseguem e que nos atira para um universo onde muitas vezes evitamos entrar. A opressão secular do domínio britânico e os conflitos religiosos na Irlanda refletem-se na música folclórica tradicional irlandesa, que frequentemente transmite uma sensação de tragédia e sofrimento, de uma forma que somente os irlandeses conseguem expressar. Ao verdadeiro estilo irlandês, os Primordial dedicam a sua música àqueles que resistem aos impérios opressores, aos lutadores pela liberdade, aos foras da lei e àqueles que deram a vida pela liberdade de expressão e independência ou pela palavra mais importante da língua inglesa, “liberty”.
A excitação era evidente e começou a crescer cada vez mais conforme se ia aproximando a hora da apresentação dos Blind Guardian. A loucura foi total quando os bardos alemães do power metal iniciaram o seu inesquecível concerto, fazendo explodir ao longo do set e de forma impiedosa sobre o público, os seus maiores clássicos. André Olbrich, Marcus Siepen, Johan van Stratum, Frederik Ehmke e o icónico vocalista Hansi Kürsch transportaram os fervorosos fãs para o seu universo de fantasia. Muitos estavam deliciados com o fato de a voz de Hansi soar exatamente o mesmo durante os quase 40 anos de existência da banda, impressionando todos nós com seus vocais únicos e profundos do começo ao fim da prestação. Nunca parece estar cansado e nunca desafina, o que faz dele um dos melhores vocalistas e frontmen do universo do metal mundial. Fossem novas ou antigas, todas as músicas apresentadas foram recebidas com o mesmo impacto e energia, provando que cada tema da banda oferece aos ouvintes uma viagem sonora intemporal. A reação dos fãs foi fantástica, com punhos no ar , chifres erguidos, muitos gritos e alguns mosh pits nas músicas e momentos mais rápidos. A sintonia entre a banda e o público foi uma coisa bonita de ser ver.
ANZV
HU CHI MINH
TERROR EMPIRE
RAXAR
GROG
GWYDION
SUFFOCATION
PRIMORDIAL
BLIND GUARDIAN