Vagos Metal Fest 2024 Dia II. Noite Épica onde os Mão Morta brilharam, os Saor surpreenderam e os God Dethroned foram demolidores
Casa bastante composta para o segundo dia da edição 2024 do Vagos Metal Fest, o que não foi de estranhar tal a qualidade do cartaz que nos foi oferecido.
Texto: Sandra Pinto
Fotos: Luís Pissarro
Com o sol a brilhar o dia começava com metal progressivo dos The Omnific, Oriundos da cidade australiana de Melbourne, a banda criada em 2016 chegou para apresentar um alinhamento baseado nos 3 EPs e no álbum lançado em outubro de 2021, “Escapades”. Desafiador e acessível, o metal progressivo do trio é muito único, considerando a sua formação instrumental: dois baixistas Matt Fackwell e Toby Peterson-Stewart e o baterista Jerome Lematua. Os músicos descrevem o seu som como «uma música coberta de atmosfera, criadora de um som identificável o que nos dá uma base de fãs forte e diversificada», o que bem se viu aquando da sua apresentação no Vagos. Excelente mistura de frets com um groove sólido faz cabeças balançarem e baixistas certamente a ficarem com bolhas nas mãos. Musicalidade verdadeiramente épica, incluindo alguns sons incríveis baseados em sintetizadores, cortesia do baixo de Matt Fack, a banda brindou o público com um paraíso musical e muito boa onda.
Seguiram-se os Injector, a banda thrash metal espanhola animou as hostes com a sua música e alegria. Nascida em 2012, a banda foi fundada por Dani MVN (vocais e guitarras) e JA Ayala (baixo e coros) na cidade de Cartagena. Poucos meses depois, Dany B (guitarras) e Alberto Dannaya (bateria) completavam o coletivo que viria a lançar o seu primeiro registo discográfico, em 2013, “Harmony of Chaos”. Em 2015, assinaram com a Art Gates Records e lançaram “Black Genesis”. Ao palco de Vagos trouxeram o seu som resultado de uma mistura de thrash metal mais agressivo combinado com elementos mais clássicos do heavymetal. Em 2020, apresentaram ao público o seu mais recente álbum de estúdio, “Hunt of the Rawhead”, o qual serviu de principal base ao alinhamento que trouxeram ao festival.
Também eles vindos de Espanha, onde surgiram em 2005, os Morphium inundaram o recinto com a sua música na qual se percebem diversas influências, as quais se passeiam entre o metal mais contundente e extremo pontuado por partes onde respira um metal mais melancólico e melodioso.
No final do set dos Saor foram muitos (nós incluídos) que os que se confessaram verdadeiramente surpreendidos. Não tendo tido oportunidade de conhecer a banda escocesa, foi uma agradável surpresa sentir a sua música intensa e, porque não dizê-lo, encantadora. A forma como trouxeram o seu black metal atmosférico com muitas influências gaélicas ao palco, proporcionou uma interessante prestação. Andy Marshall deu vida ao projeto Saor em 2013. Ao longo dos anos, Soar tem vindo a deixar uma marca indelével com sua mistura única e cativante de intensidade melódica atmosférica do black metal e ricas influências folk escocesas/celtas. Não espanta pois que durante o concerto nos tenhamos sentidos transportados para reinos sobrenaturais onde a música parecia ser uma negra celebração da beleza natural da Escócia.
Quando foram anunciados houve quem tivesse dúvidas do seu (bom) enquadramento no alinhamento de um festival como o Vagos. Mas, com mestria e experiência, os Mão Morta mostraram que estavam ali (e bem) para conquistar todas as almas que se dispusessem a acompanhá-los nesta verdadeira viagem que, mais do que musical, foi mesmo sensorial. Mais parado do que o costume (devido a alguns problemas físicos) o sempre incrível Adolfo Luxuria Canibal foi o homem do leme que agarrou o público de frente, e que, sem apelo nem agravo, deixou todos de coração cheio. No final só se ouvia «que grande concerto». A banda certamente pensou «que grande público», o qual pareceu enlouquecer quando a banda terminou o set de luxo com o tema “Anarquista Duval” dedicado ao homem que um dia escreveu: «O roubo existe apenas pela exploração do homem pelo homem…quando a sociedade te recusa o direito a existir, tens de o tirar…o policia deteve-me em nome da lei, eu abati-o em nome da liberdade!». Partilhamos aqui a nossa grande entrevista com a banda de Braga.
Já antes nos tínhamos cruzado com a banda suíça de metal extremo, mas num concerto em sala fechada, pelo que a expectativa para os ver em ambiente de festival era grande. Mas a verdade é que os Samael não desiludem. Que concerto incrível. Mal entram em palco não perdem tempo: o vocalista e guitarrista Michael ‘Vorph’ Locher exala carisma e imediatamente atrai o público. A mistura de metal industrial e sinfónico transporta-nos para um universo intenso.
Liderados por Simone Simons, os Épica são frequentemente descritos como metal “operático” e é fácil entender o porquê. A voz de soprano de Simone é requintada, poderosa e com um timbre incrível. Grande parte das faixas são criadas à volta da sua voz impressionante, casada em certos temas com o guitarrista Mark Janssen que assume um estilo gutural black metal, o que diferencia a banda de outras de metal orquestral. Os dois equilibram-se e misturam-se, adicionando profundidade e peso ao set. Há uma natureza leve na performance de Épica. O tecladista Coen Janssen, com o teclado controlador MIDI curvo, junta-se aos guitarristas na frente de palco, tocando para a multidão com muita energia e entusiasmo.
A noite terminou com as lendas holandesas de death metal God Dethroned e não podia mesmo ter sido melhor. Com uma monumental e esmagadora apresentação, destacou-se Sattler, que, com a sua presença dominante na frente e no centro de palco, manipulava as seis cordas com facilidade, enquanto “rosnava” as letras com autoridade e supremacia, a cuspir cada palavra com paixão tóxica e integridade. As linhas de baixo foram entregues com muitos músculos e destreza pela figura imponente de Pomper enquanto a bateria estave nas mãos seguras de Schilperoort que percorreu o set com complexidade e destreza.
THE OMNIFIC
INJECTOR
MORPHIUM
SAOR
MÃO MORTA
SAMAEL
EPICA
GOD DETHRONED