Under The Doom Festival 2024 Dia II: Um crescendo de intensidade que terminou nos braços de Tiamat
A segunda noite do Under The Doom Festival 2024 trouxe mais uma mão cheia de excelentes concertos. A progressão e a intensidade com que tudo foi acontecendo culminou em Tiamat, que deram um concerto extraordinário.
Texto: Sandra Pinto
Fotos: Luís Pissarro
Quando as portas abriram e os Music In Low Frequencies subiram a palco muitos dos que já se encontravam na Music Station não estariam certamente preparados para o que se ia seguir. A banda de Braga arrasou. E de outra foram não podia ser, pois trouxeram ao DOOM o seu mais recente disco, “Catharsis”, para nós uma das grandes edições no universo musical nacional. Para quem não os conhece convidamos a ver a entrevista que a eles fizemos aqui. Mariana, Sérgio e Diogo carregam entre eles uma força tremenda. Se a música impacta, a verdade é que adquire uma nova dimensão com a voz de Mariana. O vozeirão impressiona e a performance cativa. Somos incapazes de desviar o olhar dela…a não ser para fixar os olhos na mulher suspensa que se ergue a meio do palco. A intensidade do cenário é tal, que somos atraídos para um mundo à parte do qual se torna difícil sair. Cinco estrelas, Music In Low Frequencies vocês são incríveis!
Os chilenos Wooden Veins trouxeram o seu Doom Metal a um festival que os recebeu de braços abertos. Extremamente felizes por atuar em Lisboa, as músicos fizeram desta sua primeira tournée europeia um momento de comunhão e de celebração, tal como tinham prometido na entrevista que lhes fizemos em antecipação ao evento e a qual podem ver aqui.
A cidade de Roma viu nascer os Novembre no ano de 1990. Ao longo das décadas, a banda tem vindo a granjear elogios, vendo, paulatinamente, a crescer a sua base de fãs. Considerados com um dos mais inovadores e talentosos no que ao seu som diz respeito, os Novembre conseguiram oferecer durante a sua atuação uma atmosférica simultaneamente caótica e melódica, ingredientes que combinados na medida certa (como eles fizeram) tem o resultado esperado, ou seja, uma tremenda prestação musical.
Foi uma viagem sombria, hipnotizante e intensa por todas as emoções associadas à tristeza e à depressão aquela em que embarcámos com a música dos Mourning Beloveth. E isso é mau? Não, de todo. Com a profundidade de um doom que por vez mostra laivos de death, os irlandeses apresentam uma originalidade extremamente interessante, onde os vocais se passeiam com tranquilidade entre a transparência e agressividade. O puro peso emocional e os riffs evocativos, conseguem capturar algo único e que nos encanta: há ali, na sua música, um certo misticismo e algum romance sintonizado com espiritualidade da terra. Andará por lá um universo celta? Certamente, o que não lhes fica nada mal.
Que estalada levámos com os Sinistro! Se ainda não ouviram o seu mais recente registo discográfico não sabem o que perdem, e se perderam a oportunidade de os ver ao vivo penalizem-se, pois é quase um pecado. Editado pela Alma Mater Records, o seu quarto álbum, “Vértice”, surgiu no passado mês de setembro e não tem parado de receber rasgados elogios. Com a luso-luxemburguesa Priscila Da Costa como nova vocalista, a banda ganhou um fôlego incrível apresentando temas extremamente bem conseguidos. A lindíssima voz de Priscila consegue catapultar o índice emocional para níveis elevadíssimos, atingindo em pleno o coração de cada um dos presentes na sala. De referir que a banda nasceu em Lisboa tendo lançado um inovador e totalmente instrumental álbum em 2012 (Sinistro). No ano seguinte apresentam Cidade, um EP sobre a sua cidade natal, Lisboa, no qual surpreendem ao introduzir vocais. Três anos depois assinam com a Season Of Mist e apresentam o álbum Semente, ao qual segue dois anos depois Sangue Cássia, o seu terceiro álbum da banda e o segundo com o selo da Season Of Mist.
Era uma das bandas que mais curiosidade tínhamos para ver e não ficámos nem um pouco desiludidos. Formados em 1997 por Memnoch (Håkon Didriksen), os Abyssic chegam da cidade de Haslum, na Noruega, para nos impregnar com o seu death/doom metal. Todos os elementos trabalham juntos numa harmonia desconfortável de ira contundente, tristeza e tragédia, num tom melodramático no qual assenta a sua música que tocada ao vivo surpreende pela intensidade com que inunda o espaço. Entre o black metal sinfónico e o doom extremo progressivo, encontramos o espaço dos Abyssic repleto de dramatismo assustador, impressionante, que aprisiona os nossos ouvidos com um tipo de impulso inquietante e desafiante.
A expetativa era grande com o aproximar da hora da atuação dos Tiamat. Esta é uma das (raras) bandas de metal capazes de mudar com uma certa cadência o que faz deles um projeto, além de interessante, desafiador. Johan Edlund é uma personagem incrível com uma voz que nos encanta e uma presença que cativa. Nascida em Stockholm no ano de 1987, os suecos têm vindo a explorar uma mescla de sons. Do death ao gótico, são muitas as vidas que cabem na vida dos Tiamat. Mas o ponto alto surge em 1994, quando se solidificam como uma maga banda ao lançarem Wildhoney, aclamado álbum que combinou influências dos Pink Floyd com um som metálico atmosférico. O álbum marcou uma viragem na carreira da banda, ganhando elogios da crítica e fazendo com que se estabelece-se como uma verdadeira banda de culto. Muito dele se ouviu nesta noite impregnada de nostalgia, onde houve espaço para se criarem mais memórias, como a subida a palco de Fernando Ribeiro dos Moonspell para interpretar The Sleeping Beauty.
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