Thormenthor no RCA Club: noite de emoções onde se celebrou 30 anos de “Abstract Divinity”
Não é todos os dias que se tem a oportunidade de fazer parte de uma data histórica. Tivemos esse privilégio quando entrámos no RCA Club para assistir (e participar) na celebração dos 30 anos de “Abstract Divinity”, o primeiro registo de originais dos Thormenthor.
Texto: Sandra Pinto
Fotos: Luís Pissarro
Fundados em 1986 por Miguel Fonseca, os Thormenthor marcaram a história da música em Portugal. Oriunda da margem sul do Tejo, a banda editou em 1994 o seu primeiro álbum de originais, “Abstract Divinity”, com o selo da editora Morgana Records. Agora, 30 anos depois surge uma nova edição pela mão da Larvae Records (boxset, três variantes de vinil, cassete e CD), motivo mais do que válido para uma celebração, a qual tomou de assalto o RCA Club.
Considerados como uma das mais influentes bandas do underground nacional, os Thormenthor foram pioneiros ao apresentar um death metal sofisticado e técnico, no qual incorporaram elementos do black metal, com o qual agitaram a segunda metade da década de oitenta deixando a sua marca na cena nacional. Miguel Fonseca na voz e guitarra, Pedro Quaresma na guitarra, João Paulo Dias no baixo e Pedro Campos na bateria, os cavaleiros responsáveis por esta divindade abstrata separaram-se em 1996, mas a verdade é que os Thormenthor se transformaram numa banda de culto com uma forte legião de fiéis fãs que, três décadas depois, se reuniram para celebrar um disco por muitos considerado como uma verdadeira obra-prima do metal.
A 29 de novembro de 1994 acontecia «uma das noites mais memoráveis no Johnny Guitar», assegura quem a viveu. Nessa data foi apresentado ao vivo, pela primeira vez, o álbum “Abstract Divinity”. Precisamente na mesma data, mas 30 anos depois, fomos muitos os que tivemos o absoluto privilégio de o voltar a ouvir tocado pelos protagonistas de então.
Com o icónico Miguel Fonseca a liderar, o palco do RCA encheu-se daquela mistura perfeita em que assenta este álbum repleto de detalhes técnicos e pormenores progressivos, mas dotado de uma de energia cativante que o faz sobressair no meio de outras ofertas musicais do mesmo género. Acordes dissonantes e os leads intensos revelam à plateia aquilo que os fãs já sabem há 30 anos: os Thormenthor criaram o seu próprio som, o qual ainda hoje se mantém atual (o que se percebeu pela boa adesão por de alguns elementos da plateia que nasceram bem depois do lançamento do álbum).
A mestria dos executantes ficou bem demonstrada, sobretudo, nas músicas mais complexas e tecnicamente exigentes, tendo o concerto, repleto de momentos memoráveis e muita emoção, assentado numa intensidade contante que serviu de encadeamento entre os temas. Retirados, e bem, da poeira da obscuridade, os Thormenthor mostraram porque 30 anos depois são uma lenda do metal nacional (e internacional).
A abrir a noite estiveram os Besta. Verdadeira força da natureza, Paulo Rui demonstrou mais uma vez porque é um dos grandes vocalistas do nosso undeground. A rapidez e a velocidade do concerto (ou não fosse grindcore) é tal que por vezes nem tempo temos para respirar entre a catadupa de som que inunda o RCA. Pelo meio muitos sorrisos e beijinhos enviados diretamente para cima do público, pois se há banda que tem sempre muito amor para dar ao seu público são os Besta. Verdadeiro sprint, o concerto pareceu voar tal a intensidade com que se apresentam. Impossível retirar os olhos de cima do palco, onde a setlist é apresentada a uma velocidade alucinante. A energia de Paulo Rui parece não ter fim: tira a camisola, corre, pula e pendura-se no balcão (acreditem, estávamos lá e vimos). Se ainda não viram Besta ao vivo aceitem o nosso conselho: assim que tiverem oportunidade não percam, garantidamente não se vão arrepender.
Thormenthor
Besta