Simple Minds no Coliseu de Lisboa

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De regresso à estrada, os escoceses Simple Minds vieram a Lisboa dar o pontapé de saída da “Big Music Tour 2015” que durante os próximos tempos os vai levar pela Europa e Reino Unido. Sem banda de suporte, Jim Kerr e companheiros deram um concerto à moda antiga, com mais de duas horas de música, direito a intervalo, troca de guarda-roupa e um encore de seis canções.

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Chagámos a Lisboa eram 20h00, mas mal nos aproximámos da zona das Portas de Santo Antão de imediato percebemos que esta seria uma noite diferente. Parques de estacionamento lotados, restaurantes com uma procura acima do normal e extensas filas de pessoas que àquela hora se concentravam já à porta do Coliseu de Lisboa davam a entender exatamente isso. À pergunta «O que se passa?», formulada por uns quantos, poucos, apanhados desprevenidos no meio da multidão, vinha a resposta das mãos de vários vendedores ambulantes, «Olha os cachecóis do concerto, olha o cachecol dos Simple Minds». Anos 80 em pleno século XXI? Claramente que sim.

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Com hora de início marcada para as 21h00, o concerto começaria uns bons minutos depois devido à enorme afluência de público. Portas que se fecham para quase de imediato se reabrirem com o intuito de deixar entrar mais e mais fãs que, viríamos a perceber depois, dariam tudo pela sua banda. Com uma média de idades acima dos 40 (nós incluídos), cada um daria o máximo de si durante as mais de duas horas em que, do cimo do palco, os Simple Minds percorreriam as suas mais de três décadas de carreira.

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Apelidada de “Big Music”, nome do mais recente registo discográfico da banda de Glasgow, a verdade é que esta tournée se passeia por mais, bem mais do que as 12 canções que o compõem. Do alinhamento que trouxeram a Lisboa constam os grandes êxitos, que entrelaçados com temas mais recentes se integram numa lógica de história cantada dos autores de “Don´t You Forget About Me”.

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Ao som de «Bolero» de Ravel os fãs iam-se acomodando, cerveja na mão, sorrido nos lábios e semblante pleno de expectativa relativamente ao que aí vinha…Sem aviso prévio as luzes apagam-se e em palco surgem os músicos liderados, como sempre, por Jim Kerr. «Boa noite, Lisboa! Bem-vindos», exclama o vocalista, e o concerto arranca com «Let The Day Begin», do recente “Big Music”. No fim da primeira música do alinhamento da noite ouvir-se-ia o primeiro dos muitos obrigados que Jim Kerr dirigiu à plateia, plenamente consciente de que se é a banda que dá o concerto são os seus fãs que fazem dele uma data memorável, e este foi.

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Seguir-se-iam «Blindfolded», «Broken Glass Park», «Imagination», de “Big Music”, o primeiro registo discográfico da banda em cinco anos. Pelo meio palmas, muitas palmas, demonstração clara de que todos conheciam as canções do disco. Seguiu-se «Stars Will Lead The Way», de “Graffiti Soul”, o 15.º álbum de estúdio lançado em 2009, e «The American», de “Sons and Fascination/Sister Feelings Call”, disco editado no ano de 1981.

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Formados em 1977 e fortemente influenciados por Lou Reed, os Simple Minds foram buscar o nome a um verso da canção «The Jean Genie» de David Bowie, «…so simple minded, he can’t drive his module…». Influenciada pelo boom punk da década de 70, a banda nascida na cidade escocesa de Glasgow viria a crescer e a desenvolver a sua arte no rock ao qual acrescentaria uma forte consciência politica, recuperada nesta tournée com a inclusão de «Belfast Child», penúltima canção do alinhamento. «Há muito tempo que não tocamos esta música, até porque a situação em Belfast é hoje bastante diferente», afirma Jim, para logo acrescentar «mas hoje, olhando para o que se passa no mundo, com tantas crianças em cenários de guerra, achamos que faz todo o sentido voltar a cantá-la».

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Mas voltemos à primeira parte, de cujo alinhamento ainda fizeram parte «Stay Visible», de “Black & White 050505” (2005), bastante celebrada pelo público, e «Honest Town», de “Big Music”. «Agora vem aí uma canção de amor», avisa Jim Kerr antes de revisitar o trabalho “Sons and Fascination/Sister Feelings Call” com «Love Song». Sozinha em palco, iluminada por um jogo de luzes a fazem lembrar as faces lapidadas de um diamante, Catherine A.D. interpreta «Rivers of Ice», do álbum “Real Life” (1991). A viagem ao passado continua com o aclamado «Dolphins», de “Black & White 050505” (2005), «Waterfront», primeiro single de “Sparkle in the Rain” (1983), e que levou o público ao quase delírio, uma vez que o delírio total estava reservado para a última música da primeira parte do concerto. Verdadeiro ex-líbris musical da banda, «Don’t You (Forget About Me)» surge como um hino de uma geração imortalizado no filme “The Breakfast Club”, do realizador John Hughes (1985).
«Agora vamos fazer um intervalo», informa o vocalista, «mas não se vão embora», apela, «nós já voltamos», assegura antes de desaparecer rumo ao backstage.

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Regressam alguns minutos depois prometendo, logo a abrir, fazer desta uma segunda parte tão memorável quanto a primeira. «Book of Brilliant Things», de “Sparkle in the Rain” surge numa interpretação feminina com alma de soul, enquanto Jim volta a tomar as rédeas do microfone com «Speed Your Love To Me», do mesmo trabalho de 1983. Com «Once Upon A Time», tema que dá nome ao registo de originais lançado em 1985, Jim parece ganhar ainda mais vida. O vocalista ajoelha-se, gesticula, puxa pelo público que, sem demora, responde na mesma moeda. Sem se ajoelhar, não dava muito jeito, mas cantando, batendo palmas e repetindo os gestos de Kerr em placo, como o tão anos 80 pegar no pé que sustém o suporte do microfone. Uma palavra para o fã vestido de branco que na bancada do lado esquerdo do palco foi incansável, não parando um segundo, algo que nos pareceu não ter passado de todo despercebido a Jim.

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Sem interrupções a banda avança de imediato para o tema seguinte, «All The Things She Said», do mesmo disco de 1985, que, anunciado por Jim, teve uma forte participação por parte da plateia, algo que levaria o vocalista, verdadeiramente feliz, a afirmar no final «lindo! muito obrigado». O alinhamento prosseguia agora com «Let It All Come Down», do registo “Street Fighting Years”, de 1989, que na sua gravação contou com a participação de nomes como Lou Reed, Stewart Copeland (antigo baterista dos The Police), Trevor Horn e Peter Gabriel. «Obrigado, Lisboa», agradece Jim Kerr em português, com o público perfeitamente enfeitiçado pelos notas musicais que inundavam o Coliseu da capital.

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Se houve música reconhecida logo aos primeiros acordes foi «Someone Somewhere (In Summertime)», canção que ganhou estatuto de hit e que integrava o álbum “New Gold Dream”, de 1982. Tendo atravessado décadas e gerações, os Simple Minds conseguiram com as suas canções granjear a fama e o reconhecimento junto de milhares de pessoas um pouco por todo o mundo, e isso apesar de pouco estagnado nos últimos anos, vemos agora, não mudou, pois com a edição do aclamado “Big Music” a banda demonstra estar em excelente forma, com a criatividade em alta. E a testemunhá-lo os muitos fãs que oriundos de outros países se deslocaram a Lisboa para assistir ao início da tournée. Isso mesmo lembrou Jim Kerr quando agradeceu aos que «vieram de longe para nos ver, pois pelo sei alguns vieram da Austrália! Vocês são malucos», afirma visivelmente feliz.
O regresso ao mais recente registo de originais faz-se com «Midnight Walking», seguido de dois dos maiores êxitos dos Simple Minds, primeiro «Alive and Kicking», de “Sons and Fascination/Sister Feelings Call”, e o Coliseu quase vinha abaixo, e «Sanctify Yourself», de “Once Upon A Time”, música que, se percebe, emociona e alimenta as memórias de grande parte dos que naquela noite enchem a sala de espetáculos lisboeta.

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Saem da sala depois de mais um «obrigado, Lisboa», para regressar breves instantes depois para um encore de seis temas. A reta final deste regresso dos Simple Minds a Lisboa inicia-se com o vocalista a pedir silêncio para que o mesmo dê lugar a «Spirited Away», seguida de «Big Music», tema que dá nome ao mais recente disco da banda lançado em outubro de 2014. Com mais de duas horas de concerto, tempo ainda para mais quatro temas. Além do acima referido «Belfast Child», ouviu-se, quase sempre cantadas a uma só voz entre a banda e os fãs, «She’s A River», de “Good News from the Next World” (1995) e «Let There Be Love», de “Real Life” (1991). Para o fim, uma versão de «Riders on the Storm», tema original dos The Doors. À saída era a mais pura felicidade que se via espelhada nos rostos dos fãs que a custo enfrentavam o muito frio que se fazia sentir fora do Coliseu. Mas isso não importava nada, pois com eles levavam quentes memórias de um concerto certamente inesquecível.

Mais imagens no slideshow em baixo:

Texto: Sandra Pinto
Fotos: Luís Pissarro

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