Savages no Lux: indomáveis amazonas

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Anunciado com cinco dias de antecedência, o concerto das Savages no Lux teve direito a casa cheia. Nada que nos deixe surpreendidos pois a qualidade da banda britânica isso mesmo merece.

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Há quem goste e há quem não goste. Depois há os fãs, que, como nós, fazem por não perder um concerto aguardando sempre pelo lançamento de novas músicas e novos discos. As Savages são assim, geradoras de paixões e não de consensos. E ainda bem porque se gostássemos todos do mesmo a vida seria bastante aborrecida…no mínimo.

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Antes das portas abrirem, cerca das 22h00 eram já muitos os que formavam fila em frente ao Lux. Distraídos entre conversas sobre que músicas fariam parte do alinhamento ou partilhas de experiências de concertos anteriores, poucos foram os que repararam em Jehnny Beth, que de capuz na cabeça passa por nós de sorriso estampado no rosto acompanhada por um membro do seu staff.

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Mal as portas abrem sucediam-se as tentativas de arranjar o melhor spot em frente ao palco. E quem conseguiu já de lá não arredou pé. Enquanto esperávamos, relembrámos as duas vezes que já as vimos ao vivo, sendo que a primeira, no âmbito do Vodafone Mexefest pontua na nossa memória como inesquecível. Somos arrancados dos nossos pensamentos pelos aplausos que acompanham a entrada em palco do quarteto maravilha.

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Banda formada em Londres em 2011, as Savages são Gemma Thompson na guitarra, Jehnny Beth (nome verdadeiro Camille Berthomier) na voz, Ayse Hassan no baixo e Fay Milton na bateria. Juntas surgem tal indomáveis amazonas que nos arrastam hipnoticamente com o seu som post-punk negro e denso que nos traz à memória bandas como Joy Division ou Siouxsie and the Banshees.

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Tendo assente o alinhamento da noite no, até agora, único registo discográfico, “Silence Yourself’, lançado em maio de 2013, as Savages fizeram questão de testar a reação do público a algumas das novas canções que vão integrar o seu segundo álbum. Depois de arrancarem com “I Am Here”, deram a conhecer “The Answer” e “Sad Person”, músicas que vão integrar o próximo disco. Pelo meio ouve-se «Vocês são lindos», gritado alto e bom som pela vocalista que no sotaque não nega a sua origem francesa.

Savages: girl power

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A intensidade com que se entregam à interpretação de cada canção tem brutal feedback no público que nem por um segundo deixou de se render ao “girl power” das Savages. Verdadeiro “animal” de palco, Jehnny Beth impõe a (des)ordem reunindo em si todos os olhares. De enorme qualidade, o baixo surge nas mãos de Ayse Hassan como um qualquer instrumento de magia negra, cujo som hipnótico ainda hoje perpetua na nossa mente. Do outro lado do palco, eram as cordas da guitarra de Gemma Thompson que faziam vibrar o pulsar dos corações dos fãs. Lá ao fundo, com um constante sorriso no rosto, a bateria de Fay Milton ditava o compasso da noite, numa cadência de estrelas musicais que inundaram de beleza e força a sala do Lux.

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“City’s Full” leva-nos de volta ao passado, sendo que o futuro das Savages regressa ao Lux com “I Need Something New”. De olhar implacável, Jehnny Beth gesticula, dança, pula e lança-se por sobre nós como uma águia impiedosa que de garras afiadas faz questão de nos levar mais longe, até ao universo Savages onde tudo é mais poderoso, escuro, forte e esmagadoramente viciante. Tal boxeur, são golpes certeiros aqueles que Jehnny Beth dá!

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«Que brutalidade de miúdas!», ouve-se ao nosso lado. Sem qualquer dúvida somos “obrigados” a concordar! Seguem-se a hipnótica “Evil”, interpretada numa quase catarse por Jehnny, e “Surrender”. «Quando há dias vos pedimos para estarem aqui hoje, não sabíamos se iam aceitar ou não», revela a vocalista, «mas estamos muito felizes que tenham vindo». De referir que a visita da banda a Lisboa teve como principal objetivo a gravação do teledisco para uma das novas músicas, facto que deixou em alvoroço a comunidade portuguesa de fãs das Savages.

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“Adore” é a senhora música que se segue da qual ficou na memória “Is it human to ask for more? Is it human to adore life?”. «Aproximem-se, cheguem mais perto», diz a vocalista, antes de arrebatar com “No Face”. Aos primeiros acordes de “Shut Up” instala-se o delírio total num Lux já completamente rendido à força da banda. Seguem-se “She Will” e “Husbands” e nada do que possa escrever vai fazer justiça ao que se passou naquela sala àquela hora. Quem nunca as tinha visto ao vivo estava num perfeito estado de êxtase, «valeu tanto a pena esperar para vê-las assim, em nome próprio, numa sala pequena», comentam ao nosso lado. “Hit Me” acelera os corações trazendo à memória a sexualidade selvagem de Lux Interior e a sensualidade deslumbrante de Poison Ivy.

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A fechar o alinhamento “Fuckers” numa interpretação intensa e carregada de apelo, «Don’t let the fuckers get you down! Don’t let the fuckers get you down! And we can fight until we’re dead!» Com a saída de palco das Savages todos parecem ficar meio perdidos…ninguém arredou pé, todos se entreolham questionando se teria mesmo terminado, «não pode ter acabado já», ouvia-se. Sabendo que a banda nunca regressa a palco para encores, respondemos que sim, tinha terminado.

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Mal o afirmámos, as Savages regressam a palco, «não sei se sabem mas nunca fazemos encores», diz a vocalista, cimentando a nossa resposta anterior, «mas queremos estar aqui e vocês querem estar aqui, pelo que vamos fazer aquele que deve ser o nosso segundo encore de sempre». “This Is What You Get (when you mess with love)” fecha a noite deixando em todos a vaga sensação de ter estado no meio de um tornado. Elas dão e o público retribui. Sempre, como uma história de amor perfeita! Até porque this is girl power that you don’t want to mess with.

Texto: Sandra Pinto
Fotos: Luís Pissarro

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