Noite sónica com os Brutus no LAV
A emoção de ver ao vivo uma grande banda da qual se gosta só tem comparação no significativo nível de ansiedade que envolve a separação, anunciada com «esta é a nossa última música». Pelo meio, um alinhamento corrosivamente impactante, que nos levou a momentos transcendentes. Foi assim com os Brutus.
Texto: Sandra Pinto
Fotos: Luís Pissarro
Coube aos The Christian Club abrir a noite. Sem negarmos a qualidade do duo, a verdade é que grande parte do público não lhes prestou muita atenção. Foi pena, pois conseguiram trazer músicas bem feitas, apesar de não estarem no seu meio natural. Guitarras austera encharcada de reverberação, apoiada por um contrabaixo, a banda apresentou um alinhamento coeso integrado por temas que poderíamos apelidar de sombrios. Sem nefar a inspiração, ao longo da atuação surgem evocações de ecos de King Krule, The Handsome Family’s Brett ou mesmo Tindersticks.
Com o mundo a desmoronar e realidades terríveis a acontecer, é na música que (ainda) procuramos conforto. Conflitos cruéis trazem morte e tragédia ao dia-a-dia de milhares de pessoas chegando até nós em ecos longínquos através das televisões. Só queremos apagar essas imagens e por momentos sentir que está tudo bem. Stijn Vanhoegaerden na guitarra, Peter Mulders no baixo e Stefanie Mannaerts, na bateria e na voz, ajudaram a que conseguíssemos isso na noite em que vieram a Lisboa brindar-nos com a sua música. Oriundos da Bélgica, Brutus levou-nos num redemoinho sónico do qual saímos revigorados. Considerados como uma das joias mais brilhantes da cena pós-rock europeia, a verdade é que o seu som e a sua música adquirem novas roupagens e renovada intensidade quando apresentadas ao vivo.
Para tal muito contribui Stefanie Mannaerts, que podora atrás do set da bateria é responsável pelos vocais transitando sem dó nem piedade de gritos ásperos e dilacerantes para uma voz vibrante e harmoniosa. Ninguém afasta o olhar dela, é impossível mesmo. Ficamos espantados a tentar descobrir de onde chega aquela voz possessiva e hipnotizante, a qual Mannaerts entrelaça na perfeição com o comando da bateria, dinamicamente fluido e, aparentemente, sem esforço.
Durante a hora em que estiveram no palco, viveram-se no LAV momentos de beleza celestial e divina. Em conjunto, parecíamos todos possuídos por um transcendente fervor divino. Conseguiram cativar a audiência que enchia a sala, a qual lhes retribuiu oferendo à banda um perfeito estado de euforia.
The Christian Club
Brutus