Napalm Death no RCA Club: uma noite perfeita para ninguém botar defeitos
Foi uma sala cheia, literalmente a rebentar pelas costuras, aquela que recebeu com a pompa e a circunstância devida os senhores do grindcore, os britânicos Napalm Death.
Texto: Sandra Pinto
Fotos: Luís Pissarro
A abrir a noite estiveram os portugueses Systemik Viølence. Com uma pujante atuação, os temas que integraram o alinhamento da banda surgiram de rajada, atingindo em pleno os ouvidos dos muitos que àquela hora começavam a entrar na sala de espetáculos lisboeta. Quem não os conhecia levou com uma tremenda dose de crueza sónica e negrume numa mistura de black metal, d-beat e punk. Carinhos ou subtilezas ali não têm lugar, e, é sem quaisquer escrúpulos, que a banda arrasta todos para o seu mundo obscuro onde vigora a lei mais crua do punk-metal. Rápidos e explosivos, os Systemik Viølence foram eficazes na descarga de energia com que preencheram o ar do RCA Club.
Escuela Grind seriam os responsáveis por dar andamento à noite. Lançado no ano passado Memory Theatre serve de cenários ao concerto da banda, que está a fazer sucesso com a sua incendiária mistura de grind/powerviolence aprimorada com groove. Katerina Economou, a intrépida vocalista sobe a palco desde logo despertando a atenção de todos com uma performance extremamente enérgica e vibrante. Katerina percorre o palco de forma enérgica com orgulhosas declarações de unidade e solidariedade. Concerto fantástico de Katerina, Krissy, (guitarra), Jesse (bateria) e Tom (baixo).
Quando é anunciado um concertos dos Napalm Death, metaleiros de todos os credos reúnem-se para demonstrar o seu amor e adoração pela lendária banda de grindcore. Não importa o local ou o dia, um concerto dos padrinhos do grindcore será garantidamente suado e implacavelmente barulhento. Foi assim em Lisboa, com os pioneiros do grindcore a mostrar, num RCA esgotado, porque ainda são, mais de 40 anos depois, os maiores. No ativo desde 1981, a banda dispensa apresentações e mesmo quem não segue a sua música e carreira, reconhece o nome e sabe quem eles são. A idade aqui não interessa, pois que não é barreira para aproveitar o que a banda faz, especialmente porque continuam a fazê-lo muito bem.
Com Danny Herrera a estabelecer uma infinidade de padrões e ritmos complicados e John Cooke a arrancar riffs ferozmente esmagadores, os Napalm Death “esmagaram” o público. Movendo-se em círculos, meio caminho entre um cambalear demente e uma perseguição furiosa, o eterno Barney Greenway grita com uma fúria e total potência expondo com raiva a falsidade, a hipocrisia, a mentiras e a injustiça que as letras transmitem. Throes of Joy in the Jaws of Defeatism, o 16.º álbum de estúdio dos britânicos, lançado a 18 de setembro de 2020 serviu de âncora ao alinhamento, o qual integrou ainda temas de “Narcissus”, do EP apresentado pela banda no ano passado.
Mais de uma hora de caos e carnificina, mas do género que deixa todos com um sorriso rasgados de orelha a orelha. Os verdadeiros fãs defendem que o mundo é um lugar melhor porque nele existem os Napalm Death, e quem somos nós para negar, certo? Uma noite como aquela que se viveu no RCA serve como um enorme remimder de que são mais do que merecedores de seu status de ícone e de lendas.
No final da noite estávamos todos exaustos (pois, os Napalm Death são verdadeiros destruidores de pescoços), mas felizes por temos sido submetidos a um ataque implacavelmente brutal de ferocidade sonora e devastação, atemporal, incansável e ainda intransponível. Só podemos esperar que não demorem muito até regressarem para nos atacar novamente.
Systemik Viølence
Escuela Grind
Napalm Death