Muito mais do que uma miragem, os Gaerea são uma certeza. E “Mirage” é a prova disso
Com uma carreira cada vez mais cimentada, com concertos um pouco por todo o mundo, os Gaerea mostram-se, a cada apresentação ao vivo, como uma das grandes certezas da música nacional. No passado dia 31 de março deram mais um passo nesse caminho rumo ao “estrelato”.
Texto: Sandra Pinto
Fotos: Luís Pissarro
A noite de consagração dos Gaerea em Lisboa teve como abertura a apresentação dos Okkultist. Com Beatriz Mariano ao leme, este barco negro trouxe ao LAV um alinhamento pontuado entre o primeiro «Reinventing Evil» e o mais recente, «O.M.E.N.». Bem encaixados, os músicos seguiram as ordem da “comandante” e deram um espetáculo coeso e forte. Possuidora de um tremendo carisma, a vocalista da banda não deixa os créditos por mãos alheias e consegue fazer com que todos os olhos se fixem nela. Quem ainda não os tinha visto ao vivo foi apanhado de surpresa ficando enfeitiçado por uma voz que transportava cada elemento da plateia para um universo paralelo. Fumo muito fumo durante toda a apresentação, não permitiu, a nosso ver, que Beatriz impressionasse visualmente como é seu hábito, mas nada que deixasse marcas menos boas na memória de todos.
Portugal, cidade do Porto, 2016. Nascia a banda que de lá para cá nos feito acreditar que ainda é possível ser diferente, criativo e bem sucedido num mundo onde o facilitismo é consagrado e o esforço em ser distinto, esmagado. Imaginados por alguém para quem a arte é algo diário e intenso, os Gaerea são hoje um farol de luz negra que brilha como poucos. Com uma carreira cada vez mais consistente, lançaram o primeiro álbum “Unsettling Whispers”, pela Transcending Obscurity, trabalho que chamou a atenção de muitos, entre eles a editora Season Of Mist que os chamou para si e lhes lançou os dois trabalhos seguintes: “Limbo”, de 2020, e o “Mirage”, do ano passado.
Com o rosto coberto, fizeram correr tinta e muito paleio no seio do universo que segue a música mais extrema no nosso país. Se na altura quase que se faziam apostas para saber quem eles eram, hoje já se vai sabendo alguma coisa, algo que não interessa nada quando sobem ao palco e dão concertos intensos e memoráveis como aquele que tivemos (novamente) o privilegio de ver no LAV.
Com o alinhamento alavancado em “Mirage”, os Gaerea revelaram-se uma máquina demolidora de sensações transmitindo a cada elemento do público uma energia de tal intensidade que muitos se sentiram hipnotizados, seguindo cada passo, cada movimento, cada movimento do vocalista que fazia questão de não deixar nada por fazer. Apelando ao público, a personagem principal desta intensa peça quase teatral, a voz da banda. apresenta-se sobre a plateia tal ave de rapina que ali se posiciona para, de braços abertos, nos levar rumo a um universo sombrio e intenso. Ninguém se nega a tal, todos se deixam ir e a comunhão ao longo do concerto vai subindo de intensidade.
Entre uma bateria demolidora, riff intensos e uma voz profunda mas simultaneamente envolvente, os Gaerea provaram aquilo que são: uma das melhores bandas nacionais que ao vivo acrescentam pontos ao que em disco prometem.
Okkultist
Gaerea