Memórias de uma viagem pela Estremadura espanhola (I): Anfiteatro e Teatro Romano de Mérida
Revela o Turismo de Mérida que «erigido no século 8 a.C., como atestam as inscrições encontradas nas suas tribunas, o Anfiteatro foi palco de espetáculos muito populares: os jogos de gladiadores, as caçarias de feras e lutas entre animais selvagens, em cenários artificiais que recriavam bosques, selvas com lagoas ou desertos. Tudo isto por cima dos grandes estrados de madeira que formavam a arena. A lotação aproximada deste espaço gigantesco era de entre quinze e dezasseis mil espetadores».
Fotos: Luís Pissarro
Texto com informações do Turismo de Mérida
Contiguo ao Teatro, o «Anfiteatro encontra-se separado deste através de uma calçada que circundava ambos os edifícios. Embora com meios mais pobres, este edifício foi construído de maneira similar à do teatro e, tal como este, é fruto de diversas fases. Para abaratar os custos, parte da bancada foi assente sobre muros de alvenaria recheados com terra fortemente aplanada. Os paramentos eram de pedra do local bastante desbastada. Por vezes, a cobertura dos paramentos era nivelada com fileiras de tijolo. Nos arcos dos vãos de acesso usavam-se silhares que apresentavam o almofadado característico da época augustea».
A distribuição da arquibancada «era semelhante à do Teatro, embora hoje apenas se conserve bem a cavea uma e alguns sectores da cavea media. Em três dos eixos da elipse podemos observar a existência de quatro portas monumentais que, desde o exterior e através de amplos corredores, dois deles escalonados, desembocavam na arena».
Em diversas partes de cada corredor abriam-se portas que, «através de escadas, davam acesso à arquibancada. Por cima da porta do eixo menor ocidental situava-se a tribuna dos magistrados, que não se conserva. Em frente a esta, no eixo oriental, situava-se a tribuna, que se conserva parcialmente restaurada, onde assistiam ao espetáculo as pessoas que o custeavam. Os patrocinadores acediam à arena através de umas pequenas escadas».
«A arquibancada estava separada da arena através de um pódio de granito, que esteve decorado com azulejos de mármore, como demonstra a presença dos furos nos silhares do pódio, que serviam para os segurar. Por cima deste existiu uma barreira construída com silhares de granito. Na parte que dava para a arenam estes silhares apresentavam pinturas alusivas aos jogos gladiatórios e às paisagens em que se levavam a cabo».
A franquear as portas dos eixos maiores «há uma série de divisões que se usaram quer como espécie de jaula para as férias, ou como dependências onde os gladiadores se preparavam».
«Na arena pode-se observar a presença de um grande fosso, onde se assentavam os pilares de madeira que serviam de suporte para os estrados e debaixo destes ocultavam-se todos os engenhos necessários para levar a cabo estes espetáculos tão complexos».
De acordo com o Turismo de Mérida, «o teatro é construído sob o patrocínio de Agripa, genro de Augusto, entre os anos 16 e 15 a.C., quando a Colónia foi promovida a capital da província da Lusitânia. Tal como o edifício contiguo do Anfiteatro, o Teatro foi parcialmente edificado na ladeira de um cerro, o que abaratou substancialmente os custos da sua construção. O resto foi erigido em cimento revestido de silhares».
«Embora os romanos não fossem muito apreciadores de teatro, uma cidade de prestígio não podia deixar de contar com um edifício para os jogos cénicos. O de Augusta Emerita foi especialmente generoso quanto ao espaço dedicado aos espetadores, com uma capacidade para cerca de 6 mil, que se distribuíam de baixo para cima, de acordo com o seu estatuto social, em três sectores de bancada: caveas summa, media e ima, separadas por corredores e barreiras. O acesso a todas as bancadas era fácil, a partir de escadas distribuídas de maneira radial pelas caveas. Através dos corredores chegava-se às portas de acesso, ou vomitórios», é referido.
«A deteriorada bancada superior, ou summa cavea, era o único que emergia do edifício antes do início da sua escavação, em 1910. Estando as abóbadas dos acessos em ruínas, apenas se encontravam de pé os sete corpos das bancadas, o que deu lugar à denominação que lhe puseram os emeritenses: “Las Siete Sillas”».
«A cavea ima, onde se sentavam os cavalheiros da cidade, foi modificada durante a época de Trajano, erigindo-se no seu centro um espaço sagrado, rodeado por uma grade em mármore. Em frente à cavea ima vemos três bancadas mais largas e baixas, onde os magistrados e sacerdotes da cidade desfrutavam do espetáculo, sentados em cadeiras móveis, e às quais acediam através de grandes portas laterais situadas em ambos os extremos. Sobre estas portas encontravam-se as tribunas dos magistrados que financiavam o espetáculo», revela a mesma fonte.
Já o espaço semicircular onde se situava o coro, a orquestra, «apresenta um chão de mármore que é fruto de uma reforma mais tardia. Depois da orchestra eleva-se o muro do proscénio, de êxedras circulares e retangulares, e sobre este estende-se o palco, que era, originalmente, uma estrutura de madeira sob a qual se distribuíam todos os engenhos necessários em cada representação».
O palco «é fechado com um muro de trinta metros de altura, o frons scaenae, estruturado em dois corpos de colunas, entre as quais podemos ver estátuas de imperadores divinizados e de deuses do mundo subterrâneo. Todo o conjunto está elevado sobre um pódio decorado com ricos mármores. No palco encontram-se três vãos por onde entravam os atores. O central, a valva regia, remata em dintel, sobre o qual assenta a estátua da deusa Ceres sentada (ou Lívia, a mulher de Augusto, deificada). No topo do frons scaenae estaria colocada uma espécie de marquise de madeira, com o objetivo de melhorar a acústica do recinto, que era já por si só excelente».
»Atrás do muro do palco há um vasto jardim porticado fechado por muros com nichos que foram decorados com estátuas dos membros da família imperial. No eixo deste pórtico, em linha com a valva regia e o espaço sagrado da ima cavea, encontra-se a aula sacra, um pequeno espaço sagrado com uma mesa de altar, onde se honrava a figura do divino Augusto».