Iron Maiden o heavy metal está vivo e recomenda-se
Chegaram a Lisboa no rescaldo de um fim-de-semana cheio de emoções, depois de um NOS Alive cheio de boa música e de Portugal se ter consagrado campeão da Europa em futebol. A verdade é que não podiam ter chegado até nós em melhor altura, pois foram eles a banda sonora de uma segunda-feira diferente.
Fomos adolescentes nos idos anos 80. Época em que se escolhiam os amigos pelos gosto musicais, em que se namorava com membros da mesma tribo, mas anos em que, sabendo bem o que queríamos da música, não nos fechávamos ao mundo e ao que os outros tinham de novo e inovador para nos mostrar. Ali para os lados de Algés, no liceu que já não existe, a música ditava os dias. Entrar no Liceu Belém-Algés era perceber exatamente como era a juventude naquela época: de um lado os vanguardas, do outro os punks, mais à frente os góticos, e por perto os metálicos. Por fim os betos que se encontram um pouco por todo o lado. Foi nessa altura que soube quem eram os Iron Maiden. Fazendo parte da tribos dos vanguardas, mantinha uma excelente relação com o pessoal do metal, que fazia das t-shirts das suas bandas preferidas o outfit diário. Claro que os Iron maiden pertenciam ao top três das preferências o que nos levou com alguma curiosidade a perceber o som que praticavam. Não ficámos fãs, mas a verdade é que foi por causa deles que nasceram boas amizades com amigos que já não estão entre nós mas de quem nos lembrámos naquela noite no MEO Arena quando se ouviram os primeiros acordes de “If Eternity Should Fail” e “Speed of Light”, ambas do novo álbum o qual dá o nome à tour que agora passou por Lisboa, The Book of Souls.
Verdadeiras lendas do heavy metal, os Iron Maiden fizeram deste come back a Lisboa, três anos depois, um momento de consagração partilhado de forma intensa com os 18 mil fãs da banda que se encontravam na sala de espetáculos da capital. Tudo neles é em grande: 40 anos de vida, milhões de discos vendidos, uma máquina em marketing que deixa qualquer marketeer de cabeça à roda, e milhões de fiéis seguidores um pouco por todo o mundo. Mas com tanto sucesso a banda continua possuidora de uma humildade e simpatia cativante. Ali não há espaço para vedetismo ou manias tolas de gente famosa. Ali o que interessa, tal como sempre, é a música e o partilhá-la com os outros. E foi exatamente isso que fizeram.
Durante cerca de duas horas os membros da banda cumpriram o ritual sagrado de tocar na alma de cada uma das pessoas que ali se tinham deslocado para os ver. Olhando em volta rapidamente percebemos a variedade de um público que acolhia pais com filhos adolescentes, fãs de meia e mais idade que se percebia estavam a ver a banda das sua vidas e malta mais nova que, de sangue na guelra, assistiam a tudo com a intensidade própria da juventude.
Formados em 1975, em Inglaterra, a banda foi buscar o nome a um instrumento de tortura medieval. Os anos 80 foram a base do seu sucesso, em particular após o lançamento do álbum “The Number od the Beast”, em 1982. De lá para cá escreveram a sua história a platina e ouro, cor dos discos/galardões que foram juntado ao longo dos anos. «Esta é uma música lançada quando muitos dos que aqui estão ainda não eram nascidos», diz o vocalista Bruce Dickinson, «estamos velhos», conclui entre sorrisos. Estava apresentada “Children of the Damned”.
Considerados um dos grupos mais importantes dentro do heavy metal, os Iron Maiden influenciaram inúmeras bandas de rock e metal. Sem terem perdido a essência do género que preconizam, conseguem manter uma vivacidade estonteante, em especial Bruce que não deu tréguas às próprias pernas durante todo o concerto. Por detrás dos seis músicos o cenário ia mudando de acordo com o alinhamento musical, destacando-se “The Trooper”, que teve início com o vocalista coberto por uma do Reino Unido ao ombro, tal réplica da capa do single lançado no ido ano de 1983.
Em números: 16 álbuns de estúdio e seis álbuns ao vivo, algo que seria impossível de reproduzir num único concerto, mas que foram muito bem representados por temas como “Powerslave”, “Death or Glory” e “The Book of Souls”.
O fim do concerto aproximava-se e com ele o pico de uma noite de comunhão metálica. “Hallowed Be Thy Name”, “Fear of the Dark”, “Iron Maiden” e “The Number of the Beast” inundam o espaço do MEO Arena não deixando espaço para mais nada. Visivelmente felizes os seis Maiden preparavam-se para dar por terminado o concerto, não sem antes Bruce afirmar olhando para o público, «it’s all about music». “Blood Brothers” e “Wasted Years” foram as últimas de um alinhamento coeso e equilibrado.
Texto: Sandra Pinto
Fotos: Luís Pissarro