Godspeed You! Black Emperor no Music Station: Apelos urgentes num mundo em colapso
Inebriados de uma forma algo dolorosa pelo som poderoso e pelas palavras duras dos Godspeed You! Black Emperor, no final percebemos que a beleza e a contemplação podem ser encontradas no meio do tumulto, basta abrir o coração à tolerância e ao respeito pelo outro.
Texto: Sandra Pinto
Fotos: Luís Pissarro
Por detrás deles seguem as projeções de filmes de 16 mm. Cada uma delas dura e intensa como a realidade que se vive fora do Music Station, em Lisboa. Enquanto isso, os canadianos Godspeed You! Black Emperor trazem a palavra “Hope” – esperança -, que, rabiscada a lápis, surge como um sinal de alerta para o fato de a mesma estar em perigo. “Hope Drone”, abre os concertos desde a reunião da banda em 2010. O mundo e o ser humano vive em estado de emergência, algo que este coletivo de músicos enfrenta de frente, sem medos de represálias ou cancelamentos. “No Title as of 13 February 2024 28,340 Dead” é o oitavo álbum de estúdio da banda e constitui uma referência ao número estimado de mortos em Gaza no momento da conclusão do disco.
Após a reunião, os Godspeed You! Black Emperor estão no ativo há mais tempo do que existiram durante a sua primeira vida (nove anos). Os fãs fiéis responderam ao chamado e fizeram filas, primeiro para entrar e depois para a mesa do merchandising: todos queriam guardar algo físico daquela noite, pois a memória encarregar-se-ia do resto. A Music Station, completamente esgotada, fez, do inicio ao fim do concerto, uma vénia de respeito ao som combativo e determinado dos canadianos. O drama e a violência são envolventes, mas não destruidores. As diferentes texturas e camadas da música fazem com que se apresente simultaneamente catártica e magistral. Mas, apesar disso, é dos pormenores e da sensibilidade que se alimenta. A singular solenidade e a intensidade que se sentiu durante todo o concerto, o silêncio por parte do público, as cabeças baixas dos músicos, tudo junto transpôs qualquer ideia de concerto que se tenha, pois foi mais uma comunhão coletiva onde cada um procurou a esperança no meio do apocalipse.
Na primeira esteve o músico Mat Ball, que trouxe uma onda de distorção baseada na sua guitarra. Olhando para o amplificador como se fosse seu inimigo, Ball passou o set inteiro agitando a guitarra em busca da perfeição, seja ela timbre ou feedback. A sua técnica sugeria uma única coisa: um músico sempre no caminho que leva ao tom perfeito.
Godspeed You! Black Emperor
Mat Ball