Evil Live Festival dia I: De sorriso no rosto e guitarra em punho o comandante Robb Flynn liderou os seus guerreiros num concerto memorável dos Machine Head
O primeiro dia desta edição 2024 do Evil Live Festival teria merecido mais público, mas fica a certeza de que quem lá esteve veio de barriga cheia e sorriso no rosto pela boa música que por lá se ouviu e os excelentes concertos a que se teve o privilégio de assistir.
Texto: Sandra Pinto
Fotos: Luís Pissarro
O dia começou com a subida ao palco dos Men Eater, banda nacional que podem ficar a conhecer melhor na entrevista que fizemos antes do festival aqui. Depois de, em 2016, se terem despedido dos palcos, a banda regressou em grande chegando com todo o power ao palco da MEO Arena. Durante a sua atuação mostraram bem ao que vinham inundando a sala de sons e texturas diferentes, mostrando bem porque sempre estiveram um passo à frente do panorama musical. Em palco, «GOLD», o seu mais recente registo discográfico ganha uma amplitude trazendo até aos nossos ouvidos as composições preenchidas por riffs épicos, vozes atmosféricas e uma atitude rocker perfeita.
Diretamente do Japão para o palco da MEO Arena, os Jiluka surpreenderam pela positiva (pelos menos a nós). Porta-estandartes do movimento visual kei – movimento musical japonês que se destaca pela estética e expressão artística, caracterizando-se por vestuário elaborada, extravagante e frequentemente uma aparência andrógina – a banda, nascida em 2013, passou por inúmeras evoluções sonoras. Formada por Ricko (vocal), Sena (guitarra), Boogie (baixo) e Zyean (bateria) trouxe a Lisboa a sua música, na qual funde J-pop, metalcore, djent e metal eletrogótico intenso. Caracterizado por samples grandiosos, eletrónica épica, bateria extremamente rápida, rosnados guturais, riffs de guitarra afiados e breakdowns implacáveis, o alinhamento apresentado abanou (literalmente) o público que se entregou ao som dos japoneses.
A terceira proposta da noite foram os Wolfmother. A banda de rock australiana, conhecida pelas suas performances poderosas, não dececionou. Além da música notámos uma conexão entre a banda e o público, dando para perceber que os seus fãs estavam ali unidos sob bandeira do rock. A energia que emanava do palco era elétrica, com cada solo de guitarra e preenchimento de bateria recebidos com vivas e aplausos.
Eram uma das bandas que mais queríamos ver, mas os Katatonia começaram com pouca sorte pois foram vários os problemas técnicos que atrasaram o inicio do seu concerto. Mas a voz de Jonas Renkse rapidamente compensou, tal a magia com que nos entrega casa música. Anders Nyström e Roger Öjersson apresentaram solos intensos e altos descendo rapidamente para um thrash pesado numa sincronização linda e selvagem com o baterista Daniel Moilanen. Esse ataque rítmico é um dos principais componentes que tornam Katatonia num ato ao vivo tão mortalmente agradável de se testemunhar. Grande parte do set da banda foi preenchido com baladas épicas e melancólicas de andamento médio que se transformam em momentos de pura grandiosidade.
Com a sala bem mais composta, o público alucinou de excitação quando o vocalista Rob Flynn subiu ao palco, seguido pelos seus companheiros de banda. Senhoras e senhores não há como negar, os Machine Head foram os reis da noite. Um dos motivos principais para o sucesso dos concertos da banda reside, sem dúvida, no fato de Robb Flynn estar em ótima forma. Ele é, obviamente, o principal ponto focal da banda, e quando ele está animado e incentivando as suas tropas, ninguém os apanha e não há muitas bandas de metal que possam ser como eles. Assim que eles começam, explode um Flynn pronto para atacar e conquistar um público rendido desde o primeiro segundo: a sua voz está fantástica, acerta cada riff e cada solo, tudo acompanhado de um enorme sorriso, pura demonstração de alegria e muito charme. Concerto memorável.
Verdadeira lição de thrash metal brutal: foi assim o fim do primeiro dia do Evil Live Festival 2024, cortesia da lenda absoluta que é Kerry King. Com arte e pedigree, aquele que foi um dos Slayer. Com uma imagem inconfundível e o seu talento na guitarra, King atraiu para si as atenções desde o momento em que pisou o palco. Para muitos, foi a oportunidade de mergulhar mais fundo na mente e na música deste ícone do metal. O concerto, além de uma demonstração de proeza técnica, foi também uma celebração de uma vida dedicada ao metal. Os seus riffs cortavam o ar com precisão e poder, evocando memórias da energia implacável dos Slayer, enquanto determinava um caminho distinto próprio. Embora Slayer possa ter sido a sua pedra basilar, o projeto solo de Kerry King demonstrou versatilidade e profundidade, o que cativou o público.
Men Eater
Jiluka
Wolfmother
Katatonia
Machine Head
Kerry King