Evil Live Festival dia I: A festa fez-se com o regresso dos cowboys do inferno. É inegável: os Pantera estão de volta
Foi a grande novidade para a época dos festivais de verão 2023. O Evil Live Festival fez mexer o coração de muitos sobretudo quando se começou a desenhar o cartaz, sendo que o primeiro dia trouxe a palco os muito desejados Pantera.
Texto: Sandra Pinto
Fotos: Luís Pissarro
Tudo começou ao som dos Mammoth WVH, banda liderada pelo multi-instrumentista Wolfgang Van Halen que vieram ao festival dar o seu primeiro concerto em terras lusitanas. Se quando algo corre bem se costuma afirmar que é sorte de principiante, não seria de todo justo aplicar esta expressão a esta primeira prestação da banda do filho do lendário guitarrista Eddie Van Halen. O que ali se viu no palco do Altice é o resultado de muito trabalho e grandes dose de talento. “Mammoth II” é o segundo registo discográfico da banda e o legitimo sucessor do primeiro trabalho homónimo, lançado em 2021. Com 10 faixas, o disco que serviu de base ao alinhamento, foi gravado no lendário estúdio 5150 e produzido pelo amigo e colaborador de Wolfgang, Michael “Elvis” Baskette. Ao vivo cada tema ganha uma renovada amplitude, mostrando bem que filho de peixe sabe nadar e sendo a prova de que Wolfgang, que touco nos Van Halen, aprendeu e bem com muito do que o seu lendário pai teve para ensinar.
Um destaque especial para Take A Bow, tendo o vocalista Wolfgang Van Halen explicado que «foi a última música que terminamos. É oficialmente a música mais longa que lancei até agora, e sinto que o solo de guitarra é realmente especial. Toquei o solo na guitarra Frankenstein original e usei a cabeça Marshall original do meu pai [Eddie Van Halen], que ele usou nos primeiros discos dos Van Halen. Fico feliz por guardar para sempre um pouco da história do meu pai nesta música».
É quase impossível falar de Vended sem começar por referir Slipknot. O motivo? Porque a banda é liderada por Griffin Taylor, filho de Corey Taylor, e Simon Crahan, filho de Shawn “Clown” Crahan…isso mesmo, dos Slipknot. Também aqui se percebeu que filhos de peixes sabem nadar, sendo que, ao contrário de Van Halen, parece-nos que os Vended ainda têm que amadurecer um pouco. Mas lá que estão no bom caminho, estão. Com uma apresentação intensa, souberam fazer-se notar deixando memórias em que os viu, não temos dúvidas. Tal como qualquer jovem, os Vended mostram-se como bastante ambiciosos, sendo exemplo disso mesmo a vontade e a certeza de que vão ser a umas das maiores bandas do mundo (palavras deles). Se o vão conseguir não sabemos mas que suam as estopinhas a tentar, isso é garantido. Formados no ano de 2018, além de Taylor (vocais) e Crahan (bateria), o grupo é formado por Cole Espeland (guitarra), Jeremiah Pugh (baixo) e Connor Grodzicki (guitarra). Em 2021, lançaram os singles “Asylum” e “Burn My Misery”, que integraram o seu primeiro, What Is It//Kill It. Já em 2022, revelaram os singles “Ded to Me” e “Overall”. Se na sua terra natal, os States, já fazem bastante sucesso enchendo salas em nome próprio, por cá conseguiram chamar a atenção do público que àquela hora já era em maior número. Guitarras a rasgar, baterias a bombar e a voz de Taylor a envolver isto tudo, só podemos referir esta como uma boa primeira vez. Realmente os prognósticos para conseguirem o que tanto ambicionam são bons!
Elegant Weapons, foram isso mesmo elegantemente eficientes. Mas nem outra coisa seria de esperar quando percebemos quem são os elementos que integram o coletivo. Ao guitarrista Richie Faulkner, dos Judas Priest, junta-se o vocalista Ronnie Romero, dos Rainbow, o baterista Christopher Williams, dos Accept, e o baixista Dave Rimmer, dos Uriah Heep. Juntos fazem deste um verdadeiro super grupo que ganhou vida em outubro de 2022. A mestria com que se apresentaram denota bem a sua experiência de disco e de estrada. Se o primeiro está com uma elevadíssima qualidade, no que diz respeito ao segundo ficou bem patente a harmonia entre todos. Tudo esteve certo e, a nossa ver, nada falhou. Horns For A Halo é o nome do disco de estreia da mega banda que. lançado em maio último. tem vindo a recolher excelentes opiniões parte do público. Sobre o disco, por alturas do seu lançamento, Richie Faulkner declarou este é um trabalho «inconfundivelmente sombrio e taciturno, escuro e claro, bom e mau. Uma mistura intermediária de Birmingham e Seattle com uma pitada de thrash. A faixa-título ‘Horns For A Halo’ é como Tony Iommi cruzado com Alice In Chains. É sobre a maneira como justificamos as coisas más que fazemos. Quando aparecermos no Dia do Julgamento, será que os anjos vão confundir os nossos chifres com auréolas?». Não sabemos, mas temos a certeza de que enquanto andarmos por cá, os Elegant Weapons farão parte da nossa setlist dos bons concertos de 2023.
Ai Soulfly, Soulfly que me matas do coração! Não acreditam? Então é porque não estiveram no Evil! Se estivessem saberiam bem porque são uma das grandes, mas mesmo grandes bandas dos nosso tempo. Em 1997 no estado norte-americano do Arizona nasciam os Soulfly. A banda, formada após a saída de Max Cavalera dos Sepultura, no ano anterior, regressou a Portugal depois de um concerto no antigo LAV em 2019. Há três expressões que definem bem o que se passou durante a atuação de Max e seus companheiros no primeiro dia do festival: moshes, circle pits e crowds surfing. E que mais se pode desejar de um concerto de metal que se quer sempre memorável? Com a nossa idade já não arriscamos estar perto de tanta energia emanada da plateia, mas admiramos ao longe, mais ou menos como Max que durante o concerto pouco se mexeu e se foi hidratando com…red bull. O regresso dos Soulfly a Lisboa revelou-se um tremendo sucesso pontuado por um público que aderiu de uma forma incrível à energia que brotava de cima do palco. Compostos por Max Cavalera nos vocais, guitarra base, sitar e berimbau, o seu filho Zyon Cavalera na bateria, Mike Deleon (ex membro de Phil Anselmo and the Illegals) na guitarra solo e guitarra flamenca, e Mike Leon no baixo e backing vocals, deixaram espantados quem nunca os tinha visto ao vivo e felizes quem pôde voltar a repetir a experiência. Cada momento entre a banda e os seus fãs é uma celebração, uma festa. Sente-se mesmo um sentimento de união entre todos perante um músico que desde há várias décadas lhes dedica músicas que fazem já parte das suas vidas.
Eram muitas as t-shirts com o seu nome estampado. Escalados no alinhamento do primeiro dia para antecederam os cabeça de cartaz, os Alter Bridge foram (para nós) aquele aperitivo antes do prato principal. Os norte-americanos foram bem cumpridores da sua função, não falhando na forma como se apresentaram. Mas nem outra seria de esperar de uma banda que já conseguiu vender milhões de discos, obter outro tanto em streams, conseguir a quase unanimidade na aclamação por parte da crítica e levou já deu concerto em salas como Royal Albert Hall ou O2 Arena. Considerado um dos nomes mais influentes do género, o influente quarteto composto por Myles Kennedy (vocais e guitarra), Mark Tremonti (guitarra e vocais), Brian Marshall (baixo) e Scott Phillips (bateria), ascende a outro nível em 2022 quando lançou Pawns & Kings pela Napalm Records. Ali em cima do palco, vimos uma banda que sabe ao que vem e que tem a noção de o sucesso obtido é o culminar de quase duas décadas. Formados em Orlando, na Florida, em 2004, os Alter Bridge percorreram um caminho coerente numa viagem conjunta rumo ao sucesso. Nunca tendo desistido, aquilo que vimos no Evil foi a perfeita dedicação destes companheiros de banda uns aos outros e sua devoção coletiva perante uma devota base de fãs.
De sangue e lágrimas se fez a história dos Pantera. Com algumas controvérsias à mistura, a verdade é que os gigantes norte-americanos gravaram o seu nome na história, não só do metal, mas da música. Quando em 1981, os irmãos Vinnie Paul e Diamond Darrell decidiram fazer uma banda certamente que estaria longe de imaginar que iriam chegar onde chegaram e deixar as marcas que deixaram. E isso viu-se no Evil Live Fest onde gente sénior, se juntou aos de meia idade e aos mais jovens para juntos viveram o regressos dos cowboys do inferno. E que regresso! Antes, e mesmo depois do concerto, muito se falou nas redes sociais (o jornal diária das patetices) sobre o facto de estes não serem os verdadeiros Pantera. Pois bem, se não eram, “imitaram” bem (ler com ironia, por favor). Fala quem lá esteve que o concerto que deram faz quase 30 anos em Cascais foi mítico. Depois do que vimos ontem, não duvidamos nem um pouco. A verdade é que três décadas depois e muitas fatalidades pelo meio, os Pantera souberam subir a palco e homenagear a memórias dos que, já não estando nele fisicamente, nele permanecem em espirito e alma. A forte herança deixada por ‘Dimebag’ Darrell e Vinnie Paul está hoje mais viva do que nunca, o que é de facto bonito de se ver, e os lugares por eles deixados vagos estão muito bem entregues ao guitarrista Zakk Wylde e ao baterista Charlie Benante (dos ANTHRAX). Dos outros tempos estão o baixista Rex Brown e, claro, o incontornável vocalista Phil Anselmo. Sem polémicas (que a bem dizer seriam desnecessárias), o concerto foi memorável, não só musicalmente falando, mas fazendo igualmente referência ao nível de emoção e intensidade que se instalou na sala principal da Altice. No rostos dos fãs mais antigos (aqueles que viveram os tempos áureos do Dramático de Cascais) percebia-se a emoção de voltar a ouvir as “suas” músicas. No total foram 14 mas se tempo houvesse poderiam ser muitas mais. Com o público irremediavelmente rendido, os níveis de nostalgia subiam a tempos, especialmente quando eram homenageados os manos desparecidos, fosse nas imagens que iam sendo projetadas ou nas palavras de Phil Anselmo.
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