Demolidores, os Madball mostraram a força do hardcore num RCA esgotado
Esgotado! Aqui está uma palavra que nos deixa sempre felizes quando a mesma se aplica a concertos do underground nacional. Significa que o esforço levado a cabo pelas promotoras é recompensado com a adesão e comparência do público, o que é sempre de aplaudir. Isso aconteceu ontem, com o concerto dos Madball num RCA Club, literalmente, à pinha.
Texto: Sandra Pinto
Fotos: Luís Pissarro
A noite começou com a atuação dos BAD! oriundos da cidade das Caldas da Rainha. Criada em 2014, a banda rawcore mostrou estar ali para marcar o seu espaço. E se bem o queriam melhor o conseguiram, cativando a atenção do público desta a primeira música. Diretos na atitude e implacáveis na execução, encheram o palco do RCA Club com uma boa primeira dose de adrenalina, excelente “entrada” para o que viria depois. Nos vocais, Saraiva personificou a energia intrínseca da banda, secundado, e bem, por Tobio na guitarra, Rui no baixo e Gatuno na bateria.
Um dos maiores maiores da cena punk hardcore nacional, os Devil in Me regressaram ao ativo em 2019, depois de um tempo de interregno. Nascidos no inicio de 2005, os Devil in Me trilharam um caminho que os viria a tornar num dos projetos musicais nacionais mais sólidos. Ontem, no palco do RCA Club deram uma lição de como se faz um bom concerto de punk hardcore. Liderados pelo fundador e vocalista Poli, destilaram quantidades massivas de energia, demonstrando uma pujança incrível. Sem parar, Poli, que confessou estar a precisar de fazer pilates, numa referência ao esforço versus idade, mostrou-se um timoneiro capaz de orquestrar uma relação de pura entrega com o público. Tendo estado parados alguns anos (primeiro por opção e depois devido à pandemia), a verdade é que se percebe bem a forte ligação entre todos os elementos, que mais do que companheiros de banda, são amigos. E este sentimento de amizade é extensivo aos que vieram a palco partilhá-lo com os Devil in Me, como foi o caso de Rafael dos Fear The Lord e de Freddy Cricien, vocalista dos Madball.
Vindos de Nova Iorque, os Madball chegaram para incendiar o RCA Club. A banda formada na “cidade que nunca dorme” no final dos anos 80 de boa memória, surgiu como um projeto paralelo dos Agnostic Front, depois do seu vocalista, Roger Miret, ter permitido que o seu meio-irmão mais novo, Freddy Cricien, assumisse o microfone durante alguns concertos da banda. Freddy tomou-lhe o gosto e daí para frente fez história à frente dos Madball. Não esquecer que tinha 12 anos! Assim que tocaram os primeiros acordes foi a total e completa loucura na sala de espetáculos lisboeta. Um ininterrupto crowd surfing com elementos do público a subir a palco para depois mergulharem, mesmo, no meio do público, caps a voarem pelo ar, e um mosh pit como só a família hardcore sabe fazer, de tudo isto se fez o concerto dos Madball em Lisboa. De cima do palco os músicos arremessavam, sem dó nem piedade, toneladas de adrenalina que atingiam em cheio a alma e os ouvidos da plateia. Aos comandos, Freddy, visivelmente contente, demonstrou possuir uma energia inesgotável apelando constantemente à participação do público. A primeira formação dos Madball consistia em Freddy nos vocais, o seu irmão no baixo e os membros dos Agnostic Front Vinnie Stigma e Will Shepler na guitarra e bateria, respetivamente. Embora a formação tenha mudado significativamente desde então, a intensidade dos seus concertos não mudou. Mais de um quarto de século depois, os Madball estão mais fortes do que nunca. A sua apresentação ao vivo foi simplesmente fenomenal, emanando da banda uma ferocidade (saudável) que acertou cada um dos corajosos que estava no RCA. Freddy não deixou intocado nenhum milímetro do palco enquanto saltava e pulava incessantemente. Tecnicamente sólidos, mas sem deixar de lado a crueza que serve de alicerce a este género musical, os Madball provaram (como se isso fosse preciso) porque são um dos mais incríveis projetos do hardcore atual.