À Conversa com Murdering Tripping Blues

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São um dos mais interessantes projetos da música portuguesa. Temos tido o prazer de acompanhar de perto a sua carreira pelo que ao lançarem “Pas Un Autre” não podíamos deixar de falar com os Murdering Tripping Blues. Sobre o mais recente trabalho trocámos dois dedos de conversa com Henry Leone Johnson, vocalista, guitarrista e mentor da banda.

De onde vem o vosso nome?
Queria um nome que definisse imediatamente o som e o universo musical e este surgiu e achei perfeito até pela não vulgaridade e dificuldade em pronunciar.

Revelem-nos um pouco a filosofia por detrás da vossa música?
Não há grandes filosofias apenas fazemos as coisas de forma instintiva e o resultado é um rock & roll mais negro e eclético.

Já vos vimos ao vivo em dois ambientes diferentes, sala fechada, no Ritz Clube, e em festival no Reverence. Qual o vosso ambiente preferido?
O que gostamos mesmo é de nos sentirmos “um” com o público, sejam eles 20 ou 20000. Em espaços pequenos é mais fácil o contacto direto mas em espaços grandes a reação do público é multiplicada por milhares de cabeças o que pode ser uma experiência com maior impacto. Se nos divertimos todos, seja qual for o espaço em que estamos com o público, pouco nos importa o sitio onde isso acontece.

Importante é mesmo estar em palco? É aí que tudo ganha outra dimensão?
Sim é para isso que a nossa música nasce, para ser partilhada e crescer em palco se bem que também gostamos do trabalho de gravação e até vamos fazendo algumas músicas que são experiências de estúdio que obviamente funcionam melhor em disco e que por isso não as tocamos ao vivo.

Como é que se conheceram e qual o vosso percurso individual até chegarem aos Murdering Tripping Blues?
Basicamente eu tinha feito uma demo caseira com uns quantos temas e já com o nome de Murdering Tripping Blues e enquanto vivi em Roma pensei que quando voltasse iria pegar nela e fazer algo. Coloquei um anúncio num site onde procurava um baterista e a única resposta que tive foi a do Johnny. Começámos a tocar e a coisa funcionou bem. Continuámos e recrutámos a Mallory para os teclados, que fez de VJ nos nossos primeiros concertos e tudo foi crescendo a partir daí. Antes dos Murdering tive umas bandas com amigos só para curtir, nunca fizemos nada de muito interessante mas foi importante para o meu crescimento. A Mallory estava mais ligada ao jornalismo musical e à fotografia e connosco é que passou para o outro lado, para o lado do músico. O Johnny é um pouco um mistério, não sei muito bem o que fazia antes mas seguramente que ia tocando com pessoal aqui e ali.

Se vos perguntasse quais as vossas maiores influências musicais, cá e lá fora, qual é a vossa resposta?
Isso é sempre difícil responder porque acontece, de quando em vez e cada vez mais raramente, descobrir uma banda ou músico que nos deixa obcecados pelo seu trabalho e isso acaba por afetar o nosso mas no meu caso ainda passa muito pela génese do rock & roll, pelos músicos mais marginalizados que estiveram na origem e na construção desse género musical que por uma razão ou por outra nunca tiveram o merecido destaque. Mas respondendo mais diretamente à tua pergunta cá em Portugal são definitivamente os Mão Morta, também há outras que nos influenciam mas a ter que escolher só uma será essa. A nível internacional já me é mais difícil escolher um nome mas se pensar na escolha apenas enquanto guitarrista nessa caso tenho que escolher o Buddy Guy.

Qual seria para vocês a noite perfeita? …musicalmente falando…
Isso felizmente vai acontecendo de quando em vez. São as noites em que tudo corre bem e em que o público não nos quer deixar ir embora e nós também não queremos parar de tocar.

“Pas Un Autre” é o vosso terceiro registo de originais. Qual foi a vossa fonte de inspiração?
A inspiração para mim é sempre o que me rodeia, sendo que a música, o cinema, ilustração, etc. fazem parte disso. É tudo egoísta no sentido de ser algo que nasce e é criado com o objetivo primeiro de me satisfazer baseando-me em tudo o que rodeia, interessa e acontece.

Há algo de cinematográfico na vossa música. É propositado?
Sim há. Não é que seja propriamente propositado mas mais por termos a consciência que crescemos e neste momento alimentamos outro tipo de interesses o que resulta em músicas mas imagéticas e cinematográficas.

Fazer uma banda sonora era algo que vos agradaria fazer?
Na parte que me toca sim é algo que gostava muito de fazer. À uns anos atrás tivemos a oportunidade de musicar uma curta-metragem do Buster Keaton a convite do Music Box e da Etic e foi uma experiência muito interessante para nós. Gostamos de repetir isso.

Algum realizador em particular?
Infelizmente já morreu mas como estamos no campo especulativo diria o Fellini.

Ao ouvir o vosso disco, algo que fazemos recorrentemente, há uma intensidade em crescendo. Podemos afirmar que há um amadurecimento de vocês, primeiro como músicos, e depois como banda?
Sim, mas principalmente enquanto pessoas e tudo o resto vem por acréscimo e está interligado. Dominamo-nos melhor e quando falo em dominar não me refiro a repressão mas sim à habilidade de nos percebermos e saber dirigir os nossos impulsos de uma forma mais astuta.

Como é que se desenrola o vosso processo criativo?
Basicamente eu faço um esboço da música em casa, que surge nas situações mais inesperadas e envio para a banda e depois vamos afinando-a e moldando-a nos ensaios.

Há tarefas pré-estabelecidas ou uma interação constante?
Sim há. Todos percebemos bem o papel que cada um tem na banda e só assim as coisas vão funcionando mas isso não implicada também que não haja interação entre os membros. Ela existe mas eu acabo sempre por lançar para a mesa a primeira carta que acaba por definir grande parte do jogo.

Os vossos vídeos são bastante interessantes. Qual a base da sua criação?
Primeiro surgiram daquele modo como uma necessidade. Não tínhamos orçamento para fazer um videoclip nem grande acesso a câmaras de filmar que nos permitissem alcançar o tipo de imagem que queríamos por isso resolvi pegar em vídeos pré existentes, remisturá-los e colá-los como bem intendesse. Entretanto, descobri uma base de dados com esses filmes ditos de “higiene mental” dos anos 50/60 norte americanos que tinham precisamente o tipo de imagem e de situações que me interessavam e depois foi só uma questão de pesquisar e escolher os melhores pedaços para cada música e organizá-los de forma a contar a história que eu queria e não a que foi originalmente planeada.

Sarcasmo…o que significa para vocês e onde se enquadra na vossa estética musical?
Não somos uma banda muito sarcástica mas gostamos muito do carácter perverso de distorcer as coisas em nosso favor, de mostrar as coisas de tal forma que é aberta a várias interpretações mas onde induzimos sempre que há algo de negro, de ilegal ou de sexual por trás delas.
É como assumires que é uma vergonha, ou perverso, ver determinadas coisas e no entanto não deixas de o fazer mas com a mão a tapar os olhos e os dedos entreabertos a “garantir” uma pequena segurança moral, um pequeno descargo de consciência do tipo “ok eu estou a ver isto mas demonstrando o meu desdém sobre a coisa ao mesmo tempo que satisfaço a minha curiosidade ou desejo recalcado”.

Como analisam o universo musical nacional atual?
Na minha opinião há bandas muito boas e a fazerem coisas interessantes, não me lembro de outro período em que houvesse tantas bandas. Mas em reverso os media continuam um pouco cegos em relação ao que se vai fazendo e vão apenas atrás de algumas coisas quer seja por interesse comercial ou por quererem mostrar algum trabalho, ainda que mal feito. Valham-nos alguns blogues e jornalistas que ainda vão tendo alguma atenção para o que está realmente a acontecer.

Onde e quando os vossos próximos concertos?
Para já vamos tocar ao Centro de Artes e Espetáculos de Portalegre no dia 24 de abril e no Festival Pedra Rock em Alcobaça no dia 9 maio.

Uma curiosidade, de onde vêm os vossos nomes artísticos?
Surgem do mote lançado pelo nome da banda. No meu caso Henry vem do escritor Henry Miller e o seu lado honesto e carnal remete ao Murdering, claro que Murdering enquanto metáfora para a impulsividade, Leone vem do Sérgio Leone e da sua cinematografia, a meu entender, bastante psicotrópica e o Johnson vem do musico Robert Johnson, o bluesmen mais mitológico de todos. No caso da Mallory Left Eye, Mallory vem da personagem Mallory Knox do filme “Assassinos Natos” e o Left Eye é o seu olho que tudo vê. Johnny Dynamite tem a ver com o seu estilo de tocar bateria e remete também ao imaginário dos filmes exploitation dos anos 70 norte-americanos onde era recorrente haver personagens com esse tipo de nomes.

https://www.facebook.com/MTrippingBlues

Por: Sandra Pinto
Foto: Vera Marmelo

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