Cavalera + Besta + Healing Magic no LAV. Os irmãos voltaram sob os escombros
A meio da sua tour europeia, os irmãos Cavalera voltaram a Portugal para apresentar dois dos grandes clássicos da sua carreira, “Arise” e “Beneath the Remains”. Mas não vieram sozinhos, pois fizeram-se acompanhar pelos norte-americanos Healing Magic e pelos portugueses Besta.
Texto: David Pissarro
Fotos: Luís Pissarro
A primeira parte da noite foi da responsabilidade dos Besta, uma banda lisboeta de grindcore. Doses certeiras de punk, hardcore e, obviamente, um grindcore à moda dos Napalm Death é o que caracteriza o som dos Besta, uma das novas bandas que está a renovar a cena do grind em Portugal, à semelhança dos Serrabulho ou dos Grunt.
Os Besta têm a particularidade de cantar em português. Os músicos afirmam que o “verdadeiro público” irá tentar descobrir o sentido e significado das letras, independentemente da língua que a banda fala e a verdade é que os Besta já vão muito além do território luso, por isso no caso deles, a língua não foi e não é um obstáculo.
A banda entrou em palco com uma grande energia e pronta a partir tudo. O vocalista Paulo Rui não parou um segundo, algo típico dele, o que fez cresceu, e muito, a presença do grupo em palco. O quarteto tocou músicas do seu mais recente trabalho, «Eterno Rancor» onde a misantropia e a crítica social são os temas líricos principais e o instrumental é simplesmente grindcore “pronto a rasgar”.
Os Besta estiveram muito bem, com uma grande entrega e energia em palco. Foi, de facto, um grande concerto e um óptimo aquecimento para os irmãos Cavalera.
Após a actuação dos Besta, foi a vez dos Healing Magic se dirigirem a palco e tomarem conta do rumo da noite. A banda de um dos filhos de Max Cavalera, Igor A. Cavalera, proveniente do Arizona, pisou pela primeira vez solo português abrindo para a banda do pai e do tio.
Com influências desde Black Sabbath até Electric Wizard, passando por Neurosis, os Healing Magic apresentam um som um pouco no limiar entre o heavy, o groove, o doom e o slugde metal, com algumas passagens que nada têm a ver com estes géneros, muito mais na área do death metal de Entombed, até mesmo com toques de noise rock e post-hardcore.
O trio norte-americano entrou palco com uma boa energia e fez um bom trabalho, sendo que o grupo veio a palco apresentar o seu primeiro trabalho, um EP intitulado de “Restoration”, onde, com músicas como “Entering the Untamed Wilderness” e “Nature’s Embrace”, mostram ao público o que é que eles valem.
Em geral, deram um bom e sólido concerto, preparando o público para os grandes irmãos Cavalera.
Após o concerto dos Healing Magic, chegou a hora da destruição por completo. Era a vez dos Cavalera subirem a palco dando aos lisboetas as “malhas” que marcaram gerações.
Mais conhecidos pelo seu trabalho nos Sepultura, os irmãos Cavalera são Max e Igor. Oriundos de Belo Horizonte, no Estado Brasileiro de Minas Gerais, foram e são, sem sombra de dúvida, dos maiores nomes e influências no mundo do metal, visto que foram pioneiros de muitos géneros, como o thrash, o death, o groove, o black e o blackened death metal. Fundindo muitos dos géneros anteriormente referidos, e implementando desde muito cedo elementos da música tribal indígena brasileira, africana, japonesa, fizeram dos Sepultura, uma das maiores bandas de metal de sempre.
Ambos abandonaram a banda há vários anos e, em 2007, juntaram-se, novamente, para criar os Cavalera Conspiracy (originalmente chamados de Inflikted), uma continuação do seu legado nos Sepultura.
Neste regresso ao nosso país, os irmãos Cavalera apresentaram dois dos grandes clássicos da sua carreira, “Arise” e “Beneath the Remains”, álbuns icónicos da vida e carreira dos Sepultura, lançados em 1991 e em 1989, respectivamente.
O concerto começou com o álbum “Beneath the Remains” e pela música com o mesmo nome, e o público percebeu naquele momento a festa ia começar.
Ao som de “Inner Self” e de “Stronger Than Hate” começaram os moshes e os circle pits, dando mesmo a sensação de que a sala lisboeta ia abaixo naquela noite de domingo.
Desde o inicio do concerto houve sempre uma grande interacção entre a banda (principalmente, Max) e o público, o que melhorou ainda mais a sua performance.
Com toda a gente no mosh em músicas como “Arise”, “Dead Embryonic Cells”, “Desperate Cry”, o êxtase foi completo. Se a proposta inicial dos irmãos Cavalera era relembrar os êxitos, a verdade é que conseguiram ir mais além. A Lisboa trouxeram um concerto enérgico com um alinhamento de luxo, onde transportaram o público de volta aos tempos áureos do thrash metal.
Terminado o concerto, os irmãos voltaram ao palco para o encore, iniciando-o com uma pequena parte da “Raining Blood” dos grandes Slayer, seguido de “Troops of Doom”, “Refuse/Resist”, “Polícia” (cover dos Titãs) e acabando com um mashup de “Beneath the Remains / Arise / Dead Embryonic Cells”.
Numa noite inesquecível, os irmãos Cavalera superaram todas as expectativas e foram mais além, tornando este concerto num dos melhores do ano.
Set list de Cavalera
01. Beneath the Remains
02. Inner Self
03. Stronger Than Hate
04. Mass Hypnosis
05. Slaves of Pain
06. Primitive Future
07. Arise
08. Dead Embryonic Cells
09. Desperate Cry
10. Altered State
11. Murder
12. Infected Voice
13. Orgasmatron (Motörhead cover)
14. War Pigs (Black Sabbath cover)
Encore
15. Troops of Doom
16. Refuse/Resist
17. Polícia (Titãs cover)
18. Beneath the Remains / Arise / Dead Embryonic Cells