Camarro Fest 2023 I: Entre o grindcore de Besta e o death metal dos Thormenthor uma noite de comunhão
O Barreiro engalanou-se e vestiu-se de negro para receber a edição 2023 do Camarro Fest. O cartaz, repartido por duas noites, prometia muita e boa música e foi precisamente isso que aconteceu. Relembremos a primeira noite na Sociedade Democrática União Barreirense – Os Franceses.
Texto: Sandra Pinto
Fotos: Luís Pissarro
Não estavam no alinhamento, mas devido a problemas familiares com um dos elementos Redemptus, os seus irmãos Besta surgiram no palco para os substituir e para nos inundar com o seu grindcore de elevadíssima classe. Sempre em grande, Paulo Rui toma o leme e guia os companheiros com um energia e uma entrega muito sua. Fruto da união de veteranos da cena underground portuguesa, a banda surgiu em Lisboa em 2012 com os fundadores Ricardo “Rick Chain” Correia (guitarra) e Paulo “Lafayette” Lafaia (bateria). A eles juntaram-se Pedro “Gaza” Cobrado (baixo) e Paulo Rui (vocais). Durante vários anos foi esta a formação da banda até à saída de Gaza, mantendo desde então a banda uma formação sem baixo e com duas guitarras, com a entrada de Ricardo Matias. “Terra Em Desapego”, o seu próximo disco vai ser editado num parceria entre a Lifeforce Records (que vai editar mundialmente o registo nos formatos CD, LP e digital), a Black Hole Productions (responsável pela edição brasileira em CD) e a Raging Planet (a cargo do lançamento em cassete limitada). Esta apresentação serviu assim de aperitivo para o que aí vem, aguardemos.
Seguiram-se os ThrashWall, banda formada em 2015 na cidade alentejana de Évora. No palco do festival apresentaram as suas canções donas de fortes influência nos sons crus e puros do thrash metal, apresentando este como a sua forma de expressão. Luís Rodrigues, o vocalista, cujos vocais são representativos do caráter da banda, soube dar tudo para agarrar o público, deixando que os seus parceiros de banda brilhassem, e aqui falamos de Gonçalo Branco e Nelson Coelho (guitarra rhythm/lead), João Martins (baixo) e Garras (bateria). A enxurrada de riffs que desciam do palco seguiam a um ritmo frenético, encapsulando o mais alto padrão de thrash estilo ‘festa’ que os ThrashWall têm para oferecer.
Foi na na bela vila de Cascais que os Innards surgiram no ano de 2017. Praticantes convictos de um old school death metal onde o grindcore também tem o seu espaço, sabiam ao que vinham e deram tudo para provar o que valem. Com riffs densos e rápidos que surgem embrulhados em growls perfeitos que fazem os esqueletos dançar, a banda foi canalizando para o público as suas vibrações do principio ao fim do concerto com sérias doses de “terror” apoiadas numa parede insana e implacável construída pela bateria.
Os Alkateya nasceram em 1986, com Beto (ex-Sepulcro) na guitarra e Paulo Rui Martins no baixo, e chegaram ao Camarro Fest 2023 dar cartas, mostrando que a idade é, de facto, um posto. A banda histórica e de inegável importância no desenvolvimento do heavy metal nacional conseguiu captar e bem a atenção do público do qual recebeu muito carinho. Com uns riffs sempre a abrir e uma sonoridade bem old school, a banda apresentou-se como um clássico intemporal. A qualidade musical mantem-se mostrando que tal como um bom vinho tinto, os temas da banda cresceram bem ao longo dos anos ganhando corpo e presença.
Pioneiros da fusão entre o death e o black metal em Portugal, os Thormenthor obtiveram muita popularidade no underground nacional. Formados em 1987 na cidade de Almada, foram, na sua fase inicial praticantes de um black metal corrosivo. As demo-tapes “Corpus Dissectus”, “Into The Death”, “Self Immolation” e os concertos rapidamente lhes proporcionaram uma vasta legião de fiéis e entusiásticas críticas na imprensa underground. Muitos desses fãs deslocaram-se ao Camarro Fest, entre eles muita malta nova que nos confessou que desde sempre ouviram a banda, mas que nunca a tinham visto ao vivo, «era impossível não vir», confessaram-nos. Com a imponente e esguia figura de Miguel Fonseca na frente, a banda soube dar aos público aquilo mesmo que procuravam: um grande concerto de um banda mítica que faz parte da história da música nacional. Em 1991 a banda grava o seu primeiro registo discográfico, “Dissolved in Absurd”, pela editora Slime Records, sendo que quatro anos depois surgem com o seu primeiro álbum de originais “Abstract Divinity”, lançado em CD pela editora Morgana Records. Deste, fizeram parte do alinhamento Abstract Divinity, Nothing Expanded, Imaginary Landscape e Karma’s Retribution para delicia dos fãs. Large Hadron Collider, o tema lançado em 2019, também fez parte do desfile de canções da noite.
Besta
ThrashWall
Innards
Alkateya
Thormenthor
DJ Set: Jó (Theriomorphic)