A liturgia dos Batushka trouxe ao RCA Club uma noite memorável

Hoje estão na moda as experiências. Existem de todas as formas e feitios e para todos os gostos. Também os concertos são experiências, as quais podem ser memoráveis como foi o caso do regresso dos Batushka a solo nacional.

Texto: Sandra Pinto
Fotos: Luís Pissarro

Paradise In Flames estavam a começar a sua atuação quando chegámos ao RCA Club. Vinda do Brasil, a banda mineira (da cidade de Santa Luzia, em Minas Gerais), formada em 2002 por André Damien (vocal e guitarra), O.Mortis (vocal), Robert Aender (baixo), SJ Bernardo (bateria) e Guilherme de Alvarenga (vocal e teclado), mostrou ter bastante fãs em terras lusitanas. Lançado em 2021, “Act One” é o mais recente registo discográfico da banda que diz de si própria interpretar um género musical que apelida de horror metal. O alinhamento passeou-se por temas do novo álbum mesclando-os com canções antigas, consideradas já verdadeiros clássicos pelos seguidores.

Antes dos polacos, Batushka chegaram os Diabolical. Oriundos da Suécia, a banda atou no meio de fumo e luzes incessantes. Poderosos, conseguiram agarrar a plateia servindo como excelente aperitivo para os “cabeças de cartaz” da noite. Formados na localidade sueca de Sundsvall, em 1996, a banda lançou dois ep’s e cinco álbuns, o último deles “Eclipse”. Com uma apresentação forte e imaculada, a banda apresenta um som mais maduro e sofisticado, algo que agradou bastante aos fãs.

Com uma história conturbada, os Batushka nasceram em 2015, ano de lançamento do seu primeiro registo discográfico, “Litourgiya”, o qual tem sido objeto de várias reedições. Apresentando um black metal sombrio, os Batushka (que traduzido significa efetivamente monge), foram fundados por Krzysztof Drabikowski, também conhecido como monge Кристофор, o multi-instrumentista que, originalmente, esteve por detrás do projeto.

Depois de alguns anos sem gravar, os Batushka regressam em 2019, primeiro em maio com “Panihida” e depois em junho com “Hospodi”. Mas atenção porque estamos perante dois Batushka. O vocalista Bartlomiej Krysiuk, conhecido monge Варфоломей, teve a intenção de ficar com a banda dando origem a uma disputa que chegou aos tribunais que ainda não deram a decisão final sobre quem tem direito ao nome. Assim, temos os Batushka de Krzysztof Drabikowski, que lançaram Litourgiya, em 2015, e Panihida, em 2019. Depois temos os segundos (ou falsos, como alguns os apelidam) БАТЮШКА de Bartlomiej Krysiuk que lançaram Hospodi, em 2019, “Raskol”, em 2020, e “ЦАРЮ НЕБЕСНЫЙ”/”CARJU NIEBIESNYJ”/”HEAVENLY KING” em 2021, este último base da tournée “Black Liturgy Pilgrimage tour 2022” que trouxe a banda a Portugal.

Já tínhamos sido “avisados” de que quem assiste a uma concerto dos Batushka vive uma experiência única. No passado dia 26 de abril tivemos, finalmente, a oportunidade de o viver na primeira pessoa. Na verdade, assistir à liturgia da banda polaca põe à prova todos os sentidos… Vejamos, o gosto foi testado pela qualidade da cerveja (top, como sempre), o tacto, (de certeza que estão a questionar), bom, experimentem descobrir onde está a porta da casa de banho no meio de uma nuvem de fumo…

Relativamente à visão, ao ouvido e ao olfato é mais simples de explicar. Comecemos pelo último, aquele que neste momento é capaz de estar a gerar maior curiosidade. Simples, basta explicar que em cima do palco, além dos músicos e dos seus instrumentos, estavam velas e incenso de onde emanava um cheiro que todos identificamos como característico das igrejas. Pois, é quase disso que se trata, uma vez que a banda encena cada apresentação ao vivo tal como se de uma missa se tratasse.

O impacto visual é incrível, uma vez que os oito elementos que se encontram em palco apresentam-se vestidos com os tradicionais trajes dos monges ortodoxos. Branco, preto e vermelho revelam-se uma combinação forte e impactante que não deixou ninguém indiferente. De cara coberta, a banda entra em palco descalça, assim permanecendo durante toda a atuação.

No que diz respeito à audição, foi esta testada pela torrente de poder e força que emanava de cima do palco do RCA Club. Com as letras das suas canções escritas na língua eslava eclesiástica antiga e inspiradas na igreja ortodoxa do Leste da Europa, eram totalmente impercetíveis, o que em nada desmotivou os muitos fãs que compunham, e bem, a plateia. Com uma apresentação exemplar, a banda manteve-se estática, como exceção do impressionante vocalista, que ia comandando a liturgia. Cruzes, ícones, crânios, velas tudo fez parte do cenário que tão cedo não vai sair da cabeça de quem por lá esteve. Antes de sair a única frase para nós percetível, serviu para vincar uma posição perante o que se passa na Europa: “Slava Ukraini”.

Paradise In Flames

Diabolical

Batushka

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