À conversa com Tó Pica
Tó Pica é considerado um dos melhores guitarristas do panorama musical português, facto recentemente alvo de reconhecimento internacional ao ser oficialmente apresentado como “endorser” da marca inglesa de amplificação Laney. Com muitos discos gravados e várias participações especiais, o guitarrista dos RAMP e dos Anti-clockwise, tem vindo a consolidar a sua carreira, sendo o próximo passo o lançamento de um álbum a solo.
Descreve-te em cinco palavras.
Impulsivo, teimoso, obstinado, bem disposto…o último deixo para o pessoal chamar, que assim dá para todos…
Foste tu que chamaste a música ou ela é que te chamou a ti?
Acho que foi a música que chamou por mim, porque desde que me lembro sempre quis fazer música. Nunca quis ser médico, astronauta, piloto de aviões nem nenhum desses sonhos que se tem quando se é miúdo. Sempre disse “quero ser músico”.
Porquê a guitarra?
Pois, isso para mim também é um mistério… desde miúdo metia elásticos em frigideira para fingir que era uma guitarra, metia um rádio daqueles pequeninos a pilhas à cintura, pendurava a frigideira ao pescoço e dava grandes concertos para a minha mãe à porta da cozinha enquanto ela cozinhava, e o barulho do óleo a fritar era o público! Mas, na realidade o primeiro instrumento que aprendi a tocar foi piano. Tive durante um ano aulas de piano, apenas porque era o único instrumento a sério que tinha em casa, uma daqueles órgãos de brincar, mas era a sério o suficiente!
Começaste nos Sacred Sin, no início da década de 90. Era fácil nessa altura fazer música em Portugal com aquelas características?
Claro que Não, ainda por cima aquele género de música…
Estamos a falar de uma altura em que o metal era considerado uma música do diabo, não se conseguia arranjar garagens para ensaiar ou se se arranjava durava pouco tempo por causa do barulho e ninguém tinha “Home Studios” para gravar as próprias maquetes, simplesmente não havia condições nenhumas, mas isso também era o que separava o “trigo do joio” porque quem realmente queria fazer algo de válido batalhava “à seria”…e batalhou! Se vires bem, nota-se perfeitamente quem realmente queria fazer trabalhos válidos porque essas pessoas ainda hoje estão ai a tocar ou ligados ao meio musical de alguma forma
Há quem diga que a banda nunca mais foi a mesma depois da tua saída…
Pois…se isso é bom ou mau não sei e também não me compete a mim tirar esse tipo de conclusões mas definitivamente a mesma coisa não foi de certeza visto que o “núcleo duro” da banda era eu e o José Costa
Integras uma das bandas de maior referência no universo musical português, os RAMP…uma curiosidade, porquê o nome RAMP?
São as iniciais dos membros fundadores da Banda: Ricardo, António, Miguel e Paulo.
O que podemos esperar do “best off” da banda que vai ser lançado em breve?
Podem certamente esperar os temas mais emblemáticos de RAMP e outros talvez menos conhecidos, e como “extra” um segundo CD cheio temas extras. Ou seja o best off não se limitou a compilar os melhores temas da banda e enfiá-los dentro de um CD, pois foi mais longe ao integrar um CD extra cheio de “novidades”, uma espécie de bónus.
Voltemos a ti…Anti-Clockwise, mais um projecto teu. O que o distingue dos RAMP e dos outros projectos?
Anti-Clockwise é um projecto de punk rock’n’roll que já tem bastantes anos e que já tocou algumas vezes lá fora, nomeadamente, em Inglaterra e em Espanha. No fundo é um projecto que apesar de musicalmente ser muito diferente de RAMP não deixa de ter os mesmos objectivos que qualquer banda possa ter: tocar o mais possível e chegar ao maior número de pessoas possível e fazê-lo à NOSSA maneira!
O teu trajecto profissional tem sido planeado ou segues o “feeling” do momento?
Só pode ser “feeling” porque se tivesse sido planeado estaria bem melhor.. (risos) Sou péssimo a fazer planos ou a planear seja o que for, vou sempre com o momento e gosto de ver no que as coisas vão dar, mas admito que também não gosto muito de surpresas e apesar de estar a dizer que não planeio e tal, também gosto de saber ao que vou para não ter surpresas. É uma resposta contraditória eu sei, mas apenas planear trajectos não é uma coisa que eu faça.
Estás neste momento a trabalhar num álbum a solo. Desvenda um pouco sobre o que podemos esperar.
A ideia é despejar o baú de músicas e ideias que fui juntando ao longo dos tempos, apesar de a maioria dessas ideias serem bastante recentes. Vai ser um disco com 12 temas em que seis ou sete vão ser cantados por vários vocalistas que respeito e os restantes temas serão instrumentais, definitivamente não quero entrar nas “olimpíadas da guitarra” ou algo do género. Como eu costumo dizer “quero fazer música para pessoas não quero fazer música para músicos”, portanto exibicionismo de técnica ou virtuosismo só porque sim, para alimentar o ego não é mesmo o que eu quero para a minha música, logo será um disco rock. Mas o rock, como toda a gente sabe, é demasiado abrangente, indo desde o metal mais “bate na avó”, ao acústico mais “lamechas”, portanto podem esperar um disco com um pouco das minhas vertentes todas e algumas que até agora estavam guardadas meu quarto… entre mim e a minha guitarra.
Para quando o lançamento?
Espero muito sinceramente que seja este ano, algures a meio do ano, mas como é um trabalho muito meu em que eu estou a fazer tudo sozinho, demora sempre muito mais a fazer, mas quero que saia em 2012!
Quais as tuas maiores referências musicais tanto nacionais como estrangeiras?
A pergunta difícil (risos). Para te ser honesto os meus verdadeiros amigos e principalmente os meu Pais são a minha maior referência, pela determinação e atitude… E mesmo a nível musical! A minha mãe sempre cantou em coros, ela reformou-se e está quase surda, mas mesmo assim continua a cantar sem desafinar. Quando se reformou, com quase 70 anos, decidiu aprender a tocar piano e a ler pautas, tudo sozinha, de vez em quando lá me pergunta uma coisa ou outra só para saber se está certo, e normalmente está!
Agora referências portuguesas ou estrangeiras posso dizer que para mim TODA a gente é referência. Umas pela positiva, outras pela negativa…mas infelizmente os que vão pela negativa ganham com uma vantagem absurda!
Estúdio ou ao vivo?
São mundos diferentes e que requerem posturas diferentes. Mas definitivamente ao vivo, sem dúvida. É aí que tudo acontece e aí que tudo importa e se diferenciam os “homens dos meninos”, ou se é ou não se é, não há o “apaga, repete, não valeu e tal”. Ao vivo é que a energia existe, quando as pessoas que vão ao concerto participam na música e passam para o palco a energia que lhes tentamos transmitir a eles! É um loop de energia entre público/banda, é uma sensação indescritível!
Produção, composição ou tocar, qual das três facetas te agrada mais?
Gosto de variar entre as três, todas elas me dão um gozo particular, mas comecei adolescente a tocar guitarra e sempre quis fazer as minhas próprias músicas tanto que muito poucas vezes ou só quando precisava mesmo é que tocava músicas dos outros. No fundo, as três fundem-se porque ver uma música a ganhar forma passa um pouco por cada uma dessas três vertentes
Como vês o mundo da música actualmente?
Furem-me os olhos porque preferia não ver e já agora os ouvidos também para não ouvir certas “coisas” que andam por ai (sorriso)!
De todos os nomes sonantes com quem partilhaste o palco qual o que mais te marcou e porquê?
Marcaram-me todos de alguma forma, visto que uma boa parte deles foram importantes para o meu crescimento musical mas tenho de reconhecer que conhecer o pessoal de Metallica foi assim uma cena do outro mundo, principalmente o James Hetfield, mas também te digo que tocar um tema de Sepultura com o Andreas Kisser foi divinal, eu estava a tocar e a pensar “eu estou a tocar este tema com o músico que o compôs, isto é “brutal”! Por momentos até pensei que estava a tocar com os Sepultura (risos)!
O que significou para ti o recente “endorsement” da Laney?
Foi como um reconhecimento do meu trabalho como sendo válido o suficiente para uma marca de equipamento achar que ter o material deles ligado a mim seria uma mais-valia e benéfico. E, verdade seja dita, tem dado frutos e os “amps” soam “brutalmente” bem. Aliás, só por essa razão uso os “amps” da Laney, porque muito honestamente poderia ter escolhido outras marcas.
Quando, onde e em que projectos vamos poder ver-te ao vivo?
Ramp vai tocar dia 3 de Março no Paradise Garage, em Lisboa, e no dia 10 de Março no Hard Club, no Porto. No dia 25 de Maio estamos no Rock in Rio. Temos mais uma série de datas marcadas mas até à data desta entrevista ainda não foram oficializadas. Os Anti-Clockwise estiveram agora a cumprir umas datas, temos mais umas quantas marcadas por confirmar, mas posso já avançar que no dia 07 de Abril estaremos a actuar no Montijo.
Com mais de 20 anos de carreira és o que sonhaste ser?
Não sei se sou o que sonhei ser mas sei que faço o que sonhei fazer…