À conversa com The Walks
Um grupo de amigos que faz música viciante. São portugueses e dão pelo nome The Walks. Fomos falar com Nelson Matias para perceber um pouco melhor a sua missão na terra.
Vamos começar…pelo princípio. Quem são os The Walks?
Somos acima de tudo um grupo de amigos com pontos de interesse diferentes mas com ambições musicais comuns.
Por onde andou cada um de vocês até perceberem que juntos é que é bom?
Todos nós, com a exceção do John, que basicamente compunha sozinho na sala de estar, tivemos projetos anteriores a The Walks, uns com mais sucesso que outros. Eu e o Gonçalo por exemplo tivemos uma banda que se chamava The Amazing Flying Pony, que teve algum impacto em 2010 e 2011. O nosso anterior baterista, Hélder Antunes, fez parte dos Les Porn Groove também com algum destaque e o Miguel integrou alguns projetos comigo e com o Gonçalo, que no entanto, nunca saíram da garagem. No final de 2012, que foi quando tudo começou, todos nós estávamos relativamente parados, pelo que foi fácil formarmos a banda. Digamos que estávamos ressacados das salas de ensaio e, principalmente, dos concertos.
Estrearam-se em 2013.Que balanço fazem destes dois anos de atividade?
O balanço é extremamente positivo. Desde o primeiro ensaio que a ideia era sair da garagem, porque sabíamos que havia potencial. E de facto assim foi. Um ano depois de nos estrearmos ao vivo, estávamos a tocar no NOS Alive e a nossa ainda curta carreira tem sido sempre a subir degraus, ou se preferirem, temos dados passos importantes na nossa afirmação no panorama da música nacional.
Como caracterizam o vosso som e onde foram beber influências?
As nossas influências são diversas e vão do rock ao soul ou ao Britpop, mas não deixamos que essas mesmas influências nos limitem o processo criativo quando compomos. Creio que mais importante que as influências em si, é a coerência que impomos à nossa estética musical para que fosse criada uma identidade e aí somos implacáveis. Se for necessário algum tema ficar na gaveta, por muito bom que seja, fica. Somos cinco pessoas e como é óbvio, todos ouvimos coisas diferentes. Temos algumas coisas em que o nosso gosto pessoal converge, mas no geral somos diferentes e creio que é na diferença que reside a nossa identidade.
É em cima do palco que tudo ganha sentido. Concordam?
Concordamos claramente. É nos palcos que nos sentimos bem e que a nossa música ganha toda uma energia que nos é característica. Claro que tentámos ser o mais fiéis possível na gravação do disco e creio que conseguimos passar a nossa energia para o álbum, mas ao vivo é diferente. Ao vivo a nossa prioridade é e sempre será divertir-nos e divertir quem nos está a ver e até ao momento temos o sentimento de dever cumprido.
Tiveram um músico que muito admiramos a produzir o vosso EP “R”. Como é que aconteceu essa colaboração com o Vitor Torpedo?
O Victor além de grande músico é nosso grande amigo e mentor. Não só do ponto de vista artístico, mas também do ponto de vista estratégico. Sempre que necessitamos de apoio ele está lá. Na altura estávamos a tomar um café com ele e perguntámos se ele queria ir ver um ensaio nosso. Ele disse logo prontamente que sim e curiosamente foi o primeiro a chegar ao local combinado. Depois desse ensaio percebemos que era com ele que queríamos trabalhar na produção do EP e mais uma vez ele aceitou o desafio.
O que é que aprenderam com ele?
Aprendemos muita coisa com o Victor e continuamos a aprender. A experiência dele e a sua história falam por si. Em vez de enumerar as nossas aprendizagens com o Victor, porque são muitas, vou antes contar uma história. Nesse ensaio que o Victor foi assistir, nós já tínhamos mais ou menos pré-definido os temas que iriamos gravar no EP e limitámo-nos a tocar esses temas, até que o Victor nos pediu para tocar todo o reportório que tínhamos na altura. Começámos então a tocar a “Riding the Vice”, que era um tema que já tínhamos posto numa gaveta porque achávamos que a música não teria potencial para integrar o EP. No exato momento em que começámos a tocar, o Victor pegou numa guitarra e começou a tocar e a fazer aqueles solos que caracterizam bastante essa música. A partir desse momento, a “Riding the Vice” ganhou toda uma alma que para nós não foi difícil mudar de opinião e todos achámos que essa música tinha obrigatoriamente de integrar o EP.
Foram uma das bandas a integrar o Novos Talentos FNAC 2014. Foi importante a vossa participação?
Tudo o que surgir que promova a nossa música é muito importante e claro que a coletânea dos Novos Talentos FNAC não é exceção à regra. Quem anda neste meio há pouco tempo como nós sabe da importância dessa coletânea e não há nenhuma banda que não queira figurar na lista de novos talentos. Foi um grande sinal de reconhecimento do nosso trabalho e é algo de que nos orgulhamos imenso.
Surgem agora com o vosso primeiro álbum. Como nasceu este disco?
Este disco nasce da necessidade de fecharmos o primeiro capítulo (esperemos de muitos) da banda. Na verdade, quando fomos gravar o EP, já tínhamos na altura, material suficiente para um LP, no entanto, optámos inicialmente por gravar um EP de apenas quatro temas para vermos a recetividade ao nosso trabalho, que foi muito bom. Entretanto tínhamos dar sequência ao nosso trabalho e aos temas que tínhamos que não integraram o EP. Nesse sentido “Fool’s Gold” não rompe com o EP, é uma continuidade, no entanto, mostra já vários caminhos que a banda pode seguir no futuro sem desvirtuar o nosso passado e isso é o mais interessante deste trabalho.
De onde veio o nome?
O título “Fool’s Gold” nasce no processo de criação da capa do disco. Quando o Tiago Carvalheiro nos enviou esta proposta para a capa automaticamente sugeriu-nos este título porque encaixa perfeitamente na estética do álbum. “Fool’s Gold” está presente em cada letra do disco. Se pegarmos na expressão portuguesa “nem tudo o que luz é ouro” e se lermos com atenção cada uma das letras, verificamos que esse estado de inquietação de que nem tudo está bem e de que é preciso mudar alguma coisa está bem patente.
Contam novamente com uma colaboração de peso, a Paula Nozzari na bateria. Como é que tal aconteceu e qual foi o contributo da Paula para o resultado final do som do disco?
A Paula Nozzari entra para a banda numa fase em que o disco está quase gravado, por isso não teve oportunidade de contribuir para a sonoridade do disco. No entanto, o seu contributo na apresentação do mesmo ao vivo é imenso, porque a Paula além de ser uma excelente baterista, tem uma forma bastante própria de tocar e dá sempre o seu cunho pessoal.
O disco ouve-se uma vez e pede para ser ouvido uma segunda. Têm a noção desta faceta algo viciante da vossa música?
Acontece o mesmo connosco (risos). Agora a sério, pelos ecos que temos recebido da imprensa, dos nossos amigos e seguidores, essa é uma faceta que já nos foi identificada. Quando compomos não temos necessariamente essa preocupação, mas sim a de fazer boa música que nos agrade em primeiro lugar a nós. Nós somos muito exigentes connosco mesmos, talvez por isso tenhamos conseguido ter um resultado tão bom que cause esse efeito nas pessoas.
Há por ali uma força punk que não desilude. Estamos certos?
Se ouvirmos uma Move Along estamos certos, mas creio que nós tentamos que cada um dos nossos temas tenha força, seja ela mais punk ou mais rock’n’roll. Nós somos uma banda enérgica em palco, daí que tentamos passar essa energia e essa força para o disco, algo que na nossa opinião foi conseguido.
Baixo, guitarra, bateria e voz. Todos diferentes, todos iguais e importantes para a vossa sonoridade ou há alguma prevalência?
Todos os elementos são igualmente importantes para a nossa sonoridade, mesmo aqueles que por norma não tocamos ao vivo, como o saxofone, o trombone e as teclas. No estúdio temos oportunidade de experimentar coisas que nos ensaios ou nos concertos é difícil experimentar. Por isso quando entramos em estúdio tentamos ir de mente aberta e experimentar coisas que à partida não nos lembraríamos. Depois é uma questão de ouvirmos se fica bem ou não, se gostamos ou não. Há vários caminhos para chegar a Roma, resta-nos escolher entre o caminho mais fácil ou o mais difícil, mas que por vezes é o mais interessante.
De que forma se concretiza o vosso processo criativo? Há tarefas previamente estabelecidas?
Não temos propriamente um processo criativo, mas sim vários. Podemos partir de uma letra do John e compor a partir daí, ou podemos partir de uma jam, de um riff que surge no ensaio e em que todos vão atrás. O processo mais importante acaba por ser gravarmos o que estamos a fazer e depois ouvir em casa com calma. É nesse processo que percebemos melhor a estrutura do tema e percebemos quais as alterações a fazer.
Se vos pedisse uma frase para nos transmitirem o que se passa num concerto vosso qual seria?
Usando as palavras do Nuno Ávila do Santos da Casa – RUC, mais do que banda de disco, somos um grupo de palco. Somos enérgicos, divertidos e gostamos de pôr o público a dançar.
Num próximo disco quem gostariam de convidar a participar?
Isso é uma questão muito difícil de responder por diversos motivos. Primeiro porque há muitos músicos com quem gostaríamos de trabalhar um dia e depois porque isso também depende do rumo que quisermos dar à nossa carreira. Dependerá muito da sonoridade que quisermos para o nosso segundo álbum.
Próximos concertos, onde e quando?
Depois de termos apresentado o disco no Sabotage Club, em Lisboa, e no Salão Brazil em nossa casa, seguem-se mais concertos de apresentação pelo país todo. Para já podemos anunciar o concerto de apresentação no Porto, na Cave 45, no dia 14 de Novembro. As próximas datas serão anunciadas no nosso Facebook.
https://www.facebook.com/thewalksband?fref=ts
Por: Sandra Pinto
Fotos: João Duarte