À Conversa com Tape Junk
O lançamento de um novo disco é sempre uma ocasião a celebrar. Quando esse disco tem a capacidade de nos surpreender a celebração é maior. Aconteceu com o mais recente disco dos Tape Junk e para comemorar como deve ser este lançamento estivemos à conversa com o mentor da banda, João Correia.
Em primeiro lugar como nasceu o nome do projeto?
Nasceu há muitos anos. Era o nome que dava às cassetes que gravava no meu 4 pistas em cassete quando comecei a escrever canções.
Julie & The Carjackers era a tua casa até à criação deste projeto, certo? Ficaram saudades ou a sensação de uma etapa encerrada?
Tanto o Bruno como eu temos músicas novas e planeamos gravar disco novo em breve. Parámos porque eu estou focado em Tape Junk e ele no seu disco a solo.
Continuamos a trabalhar juntos e já está planeado voltarmos com disco novo de Julie quando surgir a altura certa para nós. Não temos pressas, não é uma banda de carreira com contratos de vários discos para apresentar à editora. É uma banda para gravarmos canções dos dois quando temos vontade e tempo para tal.
Em 2013 Tape Junk grava o seu primeiro registo discográfico. O que separa “The Good & The Mean” do disco que agora nos chega às mãos? (além dos anos, óbvio)
O primeiro disco foi uma experiência, não fazia ideia do que gravar nem do que ia fazer com o disco depois de pronto. A banda só se formou depois do disco estar cá fora e quando apareceram convites para tocar ao vivo.
Somos os mesmos 4 elementos desde que a banda se formou e demos muitos concertos. Fomos criando a nossa linguagem e neste segundo disco tocámos os 4 ao vivo no sotão do Luís Nunes.
Tem o nosso som e as características de cada membro da banda. Tem as nossas qualidades e os nossos defeitos. Considero este disco o segundo do projecto Tape Junk mas o primeiro disco da banda.
É no folk que esse primeiro registo se movimentava, mas agora com “Tape Junk” sentimos uma presença mais marcada do rock. É propositada essa mudança de som?
Acho que os concertos fazem com que mudes um pouco o teu som. Normalmente os segundos discos das bandas são feitos enquanto a banda está em tour a promover o disco anterior. Isso faz com que a sonoridade da escrita das canções seja influência da por isso.
Outra razão óbvia é que no primeiro disco as músicas são muito pessoais e a música fica para segundo plano, o mais importante para mim foram as letras das canções. Neste disco é o oposto, as letras são menos pessoais e a prioridade são as músicas e o momento que foi gravá-las naqueles dias todos juntos.
Há por ali uns toques de Pavement… bem sei que é uma das vossas influências…
Acho que é só influência minha… (risos) nunca ouvi mais ninguém da banda a ouvir Pavement. É das minhas bandas preferidas e é natural que quando ouves muito uma banda desde puto acabes por ir buscar sons que te fazem lembrar isso. Muitas vezes nem percebes.
Neste disco percebo bem onde apareceram essas influências e gosto de sentir que estão lá porque fazem parte de mim.
A voz é outro dos aspetos do disco que nos deixou agradavelmente surpreendidos, pois encontramos um cuidado e uma profundidade vocal muito interessante. É ela a base do disco? Deste-lhe uma atenção extra?
Ui… Nada disso. Eu sou um terror a gravar vozes. Fico insuportável porque detesto gravar e ouvir a minha voz. Eu tenho cuidado com as melodias que quero ouvir e as letras quando escrevo as canções mas depois quando chega a altura de gravar as vozes quase que sinto vontade de desistir de tudo porque soa-me sempre mal.
O Luís teve uma paciência absurda comigo. Ouve várias músicas em que a voz final foi a voz guia que gravei logo à primeira. Mesmo assim fiz o Luís perder horas para regravar essas vozes para depois chegar ao fim e perceber que a primeira com o microfone “podre” estava bem melhor.
A verdade é que o projeto que era só teu é hoje um grupo, uma banda. Como foi essa “transformação”?
Teve a ver com o facto de andarmos os quatro a tocar o primeiro disco ao vivo nos últimos tempos. As canções ganharam outra vida e outro som.
Quando escreves músicas para um segundo disco e estás na estrada a tocar o primeiro isso influência a escrita das canções. Depois tocas as músicas novas ao vivo e elas crescem em palco antes do estúdio. Mas acho que o processo de gravação do disco foi o que nos influenciou mais para termos um som de banda.
Conta-nos quem são os teus atuais companheiros de luta nos Tape Junk.
São os mesmos desde que a banda se formou, o António Vasconcelos Dias, o Frankie Chavez e o Nuno Lucas.
Como olhas para o mercado discográfico nacional atual?
A parte do mercado é para onde olho menos. Olho para a escritas de canções e som das bandas. A parte do negócio passa-me ao lado e é bastante deprimente.
Como músico preocupo-me com a parte de escrever e tocar. Vejo bandas muito boas e músicos muito novos a tocar muito bem. A ascensão das editoras independentes está com muita força e é de lá que têm chegado as melhores bandas.
O que significa para ti a Pataca Discos?
A Pataca já é uma família. Entrei para a Pataca quando gravei o “Dá” da Márcia e depois entraram os Julie & The Carjackers, You Can’t Win Charlie Brown, Walter Benjamin, Bruno Pernadas… Tudo projetos em que somos amigos, gostamos de fazer música juntos e eu tenho a sorte de tocar em vários dos mesmos.
O João Paulo Feliciano é a Pataca Discos e é incrível o que ele tem feito e conseguir continuar a pôr discos cá fora tendo em conta que não se vendem discos hoje em dia.
Todos os músicos trabalham em conjunto. E o João Vaz Silva (agente) tem sido das pessoas mais incríveis com quem já trabalhei.
Era importante existirem mais “Patacas” para dar voz a novos projetos?
Era sim. E existem, há algumas editoras independentes a mostrar muita música boa. Que venham mais.
Foste Pai há pouco tempo. O que é que esse fato influenciou ou influencia na música que fazes?
Opá… desde que sou Pai ainda não tive tempo para escrever canções…
Voltemos à música…é em palco que tudo ganha sentido, concordas?
Acho que em palco as músicas ganham vida mas também acho que ganham em estúdio e, especialmente, quando acabas de escrever uma canção e a tocas de uma ponta à outra pela primeira vez.
São vidas diferentes. Ao vivo é muito importante porque a partilha do que fizeste é direta para quem te está a ver tocar. Acho que aí é realmente onde percebes se as coisas fazem sentido para as pessoas ou só para ti.
Como funciona o processo criativo nos Tape Junk?
Normalmente escrevo as canções e junto-me com o António para gravarmos um esqueleto das partes instrumentais e do caminho a seguir. Depois trabalhamos a música os quatro no ensaio a partir dessa primeira demo.
Neste disco foi diferente em alguns casos. Houve músicas em que fizémos os arranjos e partes de cada um mesmo antes de gravar.
Gravaram em três dias. Foi um processo intenso?
Foi muito calmo e relaxado. Três dias em casa do Luís a gravar no sótão dele, bons almoços e jantares, bom vinho e aguardente…
Numa música ou outra tivemos o stress normal de achar que a música nunca ia resultar mas foi raro. Mas depois ainda voltei a Alvito para gravar as vozes e o Luís gravou uns teclados. As 8 pistas não chegavam para tudo.
Metade dos temas nunca tinham visto a luz do dia. Como resultam ao vivo?
Ainda não tivemos oportunidade de os rodar ao vivo.
Nos próximos concertos vamos tocar o disco novo na íntegra e ver como resultam os que nunca tocámos. Tendo em conta a maneira como foram gravados acho que vai soar muito semelhante ao que se ouve no disco.
O disco está exatamente como o imaginaram?
Confesso que não imaginei como ia ficar. Fiquei surpreendido com o resultado final.
É como se estivesses naquele sótão a ouvir-nos tocar.
Onde e quando vamos ter ocasião de vos ver tocar ao vivo?
Para já no Festival Lá Fora , Festival Med, Nos Alive e CCBeat.
https://www.facebook.com/TapeJunk?fref=ts
Por: Sandra Pinto