À Conversa com Cowboy Junkies

Formados em 1985 por três irmãos e um amigo de infância, os Cowboy Junkies têm mantido uma carreira coerente. Chegam a Portugal com a missão de encerrar a edição 2012 do Misty Fest com dois concertos, em Lisboa e no Porto. O primeiro é já no sábado, dia 17, e a propósito dele falámos com a banda canadiana.

Contam já com mais de 25 anos de carreira. Como é que tudo começou?
Alan e eu eramos amigos desde a infância e tínhamos feito parte de duas bandas em Londres no início dos anos 80. Quando regressámos a Toronto, “recrutámos” o Pete para tocar bateria e a Margo para cantar.

Porquê o nome Cowboy Junkies?
Na altura estávamos à procura de uma combinação que se destacasse na lista dos concertos apresentados nos cartazes e nos clubes onde pretendíamos vir a tocar. Queríamos um nome que captasse a atenção de toda a gente quando lessem o jornal ou vissem um cartaz com alinhamentos de concertos.

Vêm do Canadá, da cidade de Toronto, esse facto influenciou de alguma forma o vosso som e a vossa forma de encarar e de estar na música?
Certamente que sim, apesar de não saber exatamente como. Provavelmente, não é muito diferente de como o sítio onde cada pessoa vive ou nasceu influência efetivamente a sua vida e a sua forma de pensar.

Gravado em 1986, “Whites Off Earth Now”, o vosso primeiro trabalho, transportava inúmeras influências dos blues. Foram e continuam a ser os blues a vossa grande influência?
Temos sido influenciados por muitos estilos e géneros de música – country, swing, folk e rock das décadas de 60 e 70. Mas sim, quando Whites Off Earth Now foi lançado estávamos muito envolvidos e influenciados por Robert Johnson e os seus Delta blues.

Em 1988 lançaram o álbum “The Trinity Session”, gravado na igreja Trinity, num único dia em redor de um único microfone. Contem-nos como foi.
Foi um dia absolutamente mágico. E, tal como afirmou a nossa Mãe assim que ouviu o trabalho, “as vossas vidas nunca mais serão as mesmas.”

“Misguided Angel”, de “The Trinity Session”, continua a ser ainda hoje o vosso mais conhecido cartão-de-visita. Margo canta-a hoje da mesma forma que naquele dia?
Nem por isso. Vinte e cinco anos depois a forma como hoje canta reflete as experiências de vida pelas quais passou, tal como qualquer um de nós.

Foi com esse segundo trabalho que alcançaram um enorme destaque internacional. Esperavam alcançar o sucesso que efetivamente alcançaram com ele e se nessa altura já sabiam o caminho que queriam seguir?
Não, realmente não fazíamos ideia nenhuma do que ia acontecer a seguir. Qualquer banda que na altura em que nasce, ache que está talhada para o sucesso rápida e obrigatoriamente vai-se dececionar.

Musicalmente “The Trinity Session” apresenta já influências para além dos blues, pois nele sobressai uma mistura de jazz, country, folk e rock. Podemos afirmar que foi um álbum laboratório?
Não foi exatamente fácil fazer um álbum com tantas e tão variadas influências…

Margo, como sente que a sua voz tem evoluído ao longo dos anos?
Ficou mais velha, mais sábia e mais cínica.

Há quem afirme que em “One Soul Now”, de 2004, o vosso som surge mais “dark”…concordam?
“Open”, trabalho lançado em 2001, foi igualmente considerado um registo muito negro… Na verdade, temos sido recorrentemente acusados de fazer quase sempre álbuns muito negros…

No álbum “At the End of Paths Taken” descobrimos como tema chave a família. O facto de na banda estarem três irmãos tem sido um factor importante na evolução da vossa história?
Somos dois irmãos e uma irmã, e o Alan cresceu connosco. Tem razão quando afirma que o tema de “At The End of Paths Taken” é a família: ali falamos sobre ver os nossos pais envelhecerem, sobre o facto de sermos nós próprios pais; e sobre a tentativa constante de tentarmos sempre fazer o melhor para os nossos filhos. Devido ao facto de estarmos todos tão perto, somos efetivamente uma grande família.

Ao contrário de outras bandas, a vossa vida em comum tem sido calma. Qual é o segredo?
Acho que tem muito que ver com o facto de sermos parentes e de o Alan ser praticamente mais um irmão. Sabemos que nos vamos sempre ver em aniversários, casamentos, funerais e dias festivos, logo isso não deixa muito espaço para discussões, guerras ou grandes egos dentro da banda.

O vosso caminho tem sido feito de um sucesso contínuo, sem que tenham abdicado das vossas opções musicais. Esse resultado foi sorte ou trabalho árduo?
Na verdade, acho que foi uma combinação de ambas. Muito provavelmente já não existiríamos se não fosse o sucesso e a repercussão que alcançámos com “The Trinity Session”, mas por outro lado também não estaríamos aqui se não tivéssemos sido persistentes e dedicados.

Ao fim de todos estes anos são os fãs que vos inspiram a escrever e a compor?
Não tenho a certeza se muitos escritores ou músicos trabalham para os seus fãs. No nosso caso, fazê-lo porque é efetivamente isto que fazemos. Ou seja, fazemos música para nós com a esperança que ela toque outros, mas não fazemos música especificamente para os nossos fãs.

O “Volume 1 – Remin Park” de “Nomad Series” (um conjunto de quatro álbuns lançados ao longo de 18 meses) foi muito influenciado por músicos chineses. Porquê?
Eu e a minha mulher temos duas filhas adotadas que nasceram na China e desejámos mostrar-lhes as suas origens, de onde elas vieram, onde nasceram. Assim, em 2008 passei três meses na China com a minha família. Enquanto lá estivemos a minha mulher ensinou inglês numa escola e eu mergulhei, literalmente, nos sons da China e na história do rock chinês.

Já “Volume 2 – Demons” incide sobre grande parte do trabalho do cantor e autor norte-americano Vic Chesnutt, que se suicidou em 2009. O que vos inspirou a fazer as cover das canções dele?
Fizemos duas tournées com o Vic, uma em 1996 e outra em 2003. Ele ajudou-nos quando, em 2007, decidimos fazer o CD e o DVD “Trinity Revisited” numa comemoração do 20.º aniversário do lançamento do álbum “The Trinity Session”. Durante a colaboração nesse projeto começou-se a formar a ideia entre nós e o Vic de juntos gravarmos um álbum. Entretanto Vic morreu e nós sentimos que devíamos homenageá-lo da melhor maneira que podíamos, com música.

Vêm ao nosso país apresentar o “Volume 4” da “Nomad Series”, “The Wilderness”. Em que se inspiraram para dar vida a este último volume?
Na verdade, estamos a apresentar os quatro volumes. Começámos este projeto com a ideia e intenção de produzir quatro volumes, cada um deles com o seu tema distinto. Por norma abordamos cada álbum já com um conceito bem definido em mente.
Com “Renmin Park” queríamos criar um álbum bastante experimental, tanto ao nível dos arranjos como da produção. Já com Demons desejávamos ter a certeza que conseguíamos alcançar uma nova perspetiva sobre as canções de Vic, mas sem nunca perder a essência do original. Com Sing In My Meadow pretendíamos captar a energia de uma atuação ao vivo, e com The Wilderness estávamos mais focados na música, no cantor e no ato de cantar pelo que fizemos um álbum mais calmo.

É a primeira vez que visitam Portugal?
Não, já visitámos Portugal algumas vezes, mas esta é a primeira desde 2001.

O que pode o público esperar dos vossos concertos?
Durante o último ano, todos os nossos concertos têm sido baseados em duas partes: a primeira é totalmente dedicada às canções do projeto “Nomad Series” e a segunda dedicada aos nossos discos mais antigos e às nossas canções preferidas.

Quais são as vossas espectativas relativamente aos concertos de Lisboa e do Porto?
Como costuma dizer Jeff Bird, o nosso “sideman”, nunca devemos criar grandes expectativas e seremos sempre agradavelmente surpreendidos.

Têm influenciado uma quantidade de músicos e artistas ao longo dos anos. Isso deixa-vos orgulhosos?
Obviamente é muito gratificante para nós saber que somos uma influência para uma nova geração de músicos. É muito bom!

Texto: Sandra Pinto

Mais sobre Misty Fest em https://lookmag.pt/blog/misty-fest/

 

You May Also Like

À conversa com Blaze Bayley

9.ª edição do UNDER THE DOOM Festival já tem datas e em breve revela nomes (com o apoio LOOK mag)

LX Extreme Summer Invasion 2025 acontece em julho no RCA Club (com o apoio LOOK mag)

À conversa com Paolo Gregoletto dos Trivium

error: Conteúdo protegido. Partilhe e divulgue o link com o crédito @lookmag.pt