À conversa com Carlão
“Assobia para o Lado” é a nova música e vídeo de Carlão e foi o motivo perfeito para trocarmos “dois dedos de conversa” através de email com o artista.
Por: Sandra Pinto
Comecemos pelo principio. Quem é o Carlão?
Letrista e vocalista, 44 anos. Para mais do que isso têm que perguntar a outra pessoa (risos).
Imaginamos que sejam muitas, mas que diferenças existem entre o Pacman dos Da Weasel e o Carlão de “Assobia para o Lado”?
Sou a mesma pessoa, onze anos depois. As diferenças são algumas, mas na essência continuo o mesmo. Mais tranquilo, mais ponderado, tornei-me pai de duas filhas… menos cabelo e mais peso!
Pelo meio onde ficou o Algodão?
O Algodão estará sempre em stand-by, é daqueles projetos em que me vejo a trabalhar até velhote. A pensar nele respondendo a esta pergunta, vêm-me logo ideias à cabeça, novas abordagens para o mesmo.
A forma de viver hoje a juventude é muito diferente da forma como nós vivemos a nossa juventude… Com as redes sociais muita coisa mudou. Na tua opinião, que alertas devemos deixar às novas gerações?
É difícil alertá-los na mesma medida em que foi difícil para os nossos pais fazer o mesmo connosco. Compete-nos comunicar o máximo possível, fazer com que estejam informados, basicamente que tenham o máximo de ferramentas para fazerem o seu próprio caminho.
Achas que eles têm hoje a vida mais facilitada, nomeadamente, no que diz respeito à música, seja no seu consumo ou na sua divulgação?
Mais facilitada? Sim, sem dúvida. O consumo da música, a sua divulgação, a própria indústria, mudaram muito desde a altura em que era adolescente, por exemplo, e a internet ainda não nascera. Havia coisas melhores naquela altura, há outras melhores agora, mas de uma maneira geral acho que no presente, desde que a maior parte dos processos (gravação, edição e venda) foram democratizados, estamos melhor.
Começaste por tocar baixo, não foi? Por que escolheste o baixo?
O baixo é, para mim, um dos instrumentos com o som mais bonito. É indispensável ao ritmo e balanço, fulcral na sustentação da música sem precisar de se evidenciar demasiado para isso. Discretamente fundamental. Foi por isso tudo que o escolhi.
O que é que te fez querer ser músico?
Fui a reboque do meu irmão. Ele é mais velho, de certa forma foi o meu primeiro ídolo.
Dessa época que memórias musicais guardas? Quais foram as bandas da tua adolescência e juventude?
As minhas memórias dessa altura são algo conturbadas… Mas ouvi muitas bandas, diversas entre si, todas com muita importância na minha escola musical: dos Suicidal Tendencies e Dead Kennedys aos Public Enemy e Beastie Boys, dos Mão Morta aos Ornatos Violeta… Muita coisa.
Lançaste recentemente “Assobia para o Lado”. Como caracterizas esta música?
Acho que é uma “feelgood tune”. É uma canção bem-disposta e de boas vibrações, que apela à relativização de certos aspetos do nosso quotidiano aos quais damos demasiada importância.
Sem querer, acabaste por trazer essa alegria a uma época complicada…. É importante manter a esperança e uma certa leveza?
Sim, sem dúvida. Uma amiga disse-mo quando falei da minha apreensão em relação ao seu lançamento.
É esse também o papel dos músicos. Concordas?
Também é, ou pode ser. A mim custa-me fazer um álbum só de músicas de amor, ou só de músicas de intervenção social, só alegres ou só tristes. A minha é vida é feita de tudo isso, por isso a minha música também.
Pensaste adiar o lançamento?
Sim. Mas ainda bem que não o fiz, o retorno das pessoas em relação a este tema nesta altura que estamos a viver tem sido incrível.
Para o vídeo foste buscar família e amigos. Como te surgiu essa ideia?
Na verdade, a primeira ideia até foi do meu irmão, que fez a música. Disse que seria porreiro ter muita gente diferente, de vários quadrantes, a dar a cara no videoclipe. Concordei e a partir daí falei com família e amigos, gente conhecida e desconhecida, que achei ter a postura descrita na letra.
Que conselhos deixas aos miúdos que hoje querem fazer da música o seu futuro?
Nada é tão forte e apelativo como a individualidade específica de cada um. Apostem naquilo que vos torna únicos.
Como é o teu processo criativo?
Crio de várias formas diferentes. Talvez a maior parte das vezes escreva para uma música em concreto. Tenho um “quartel general” onde componho, gravo e ensaio, é lá que faço a maior parte do trabalho.
Em que te inspiraste para escrever “Assobia para o Lado”?
No quotidiano e num ideal de vida que gostaria eu próprio de alcançar.
Escrever é algo que te dá prazer?
Sim, bastante.
O que estás a ler nestes tempos de quarentena?
O último livro que li foi “Essa Gente”, de Chico Buarque, mas acabei-o antes da quarentena.
Com uma carreira tão longa e consistente, és uma influência para muita gente. Mas quais são as tuas influências?
Músicos e letristas como Gil Scott-Heron, Michael Franti, Jello Biafra, Chico Buarque, Chuck D… Mas há muitos mais.
Se tivesses agora a possibilidade de fazer um dueto quem escolherias?
Felizmente é algo que tenho feito muito, o meu último disco é um exemplo de parcerias/duetos, e depois disso já fiz algumas, sendo que o último que saiu foi com a Marisa Liz em “A Noite”, um tema do Stereossauro, por isso no que toca a colaborações estou bem servido, de momento.
Impossível ter a oportunidade de falar contigo e não te perguntar: como é fazer a doninha voltar? Mesmo que seja por uma única vez…
Está a dar-nos um prazer incrível voltar a tocar aquelas músicas. Acredito que o concerto será mesmo um dos mais memoráveis das nossa vidas.
Perguntas rápidas
Rádio ou TV: Os dois
Vinil ou CD: Vinil
Cinema ou literatura: Os dois
Doces ou salgados: Salgados
Festival ou concerto em sala fechada: Concerto em sala fechada
Verão ou Inverno: Os dois
Almada ou Lisboa: Os dois
Angola ou Cabo Verde: Cabo Verde
Morna ou hip-hop: Os dois
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