Com uma sonoridade que mistura o peso do doom metal clássico com a grandiosidade melódica do epic metal, On The Loose tem vindo a afirmar-se como um dos projetos mais interessantes e autênticos do panorama nacional. Apesar da sua trajetória ainda recente, a banda apresenta uma identidade musical bem definida e uma abordagem muito própria à composição, profundamente emocional, honesta e livre de fórmulas.
Por Sandra Pinto
Após dois álbuns marcantes, o projeto regressa com Path to Serenity, um trabalho que reflete não apenas uma evolução musical, mas também pessoal: um retrato de equilíbrio e maturidade artística, onde a melodia se alia à introspeção. Nesta conversa, Marco Marouco abre o jogo sobre o processo criativo, as mudanças na formação, a produção e a inspiração por detrás deste novo capítulo da banda. Sem editora e com uma filosofia DIY que espelha a sua autenticidade, On The Loose prova que o epic doom metal continua vivo, intenso e profundamente humano, tal como a jornada que inspira o seu mais recente álbum.
On The Loose tem uma trajetória relativamente recente, mas já apresenta um som bem definido dentro do epic doom metal. Como descreveriam a evolução do som da banda desde o primeiro álbum até ao Path to Serenity?
Boas e obrigado pela ajuda a divulgar uma banda sem editora. A evolução do som de On The Loose, bom o primeiro disco foi algo diferente, compus a musica de forma a que fosse todo instrumental com o apoio de uma orquestra, tem muitas guitarras, há partes de musicas com 8 guitarras diferentes ao mesmo tempo, como não encontrei ninguém para orquestrar o disco perguntei ao Lino se conhecia algum vocalista para este tipo de musica. Ele disse que não mas que podia tentar cantar e assim foi ele e o Alexz Vantrue produziram as vozes. Neste eu gravei o baixo.
No Dark Emotions como o Lino andava muito ocupado com os Airforce não tinha tempo para On The Loose, perguntei ao Ventura se conhecia algum vocalista, ele sugeriu o Pedro Fialho que toca em bares e tem toda a teoria musical e mais alguma. O álbum saiu mais rock porque mentalmente eu já não estava tão mal como no primeiro disco, logo saiu uma coisa mais alegre, com muitas guitarras, e muitas vozes. Algumas musicas com 12 pistas de voz, o Pedro é um excelente compositor e harmonizador. Para o baixo falei com um amigo que não está no meio e fez um bom trabalho.
No Path to Serenity as coisas complicaram porque eu estou 100% bem, ando feliz da vida e alguma coisa estava a atrapalhar as gravações. Cada um tinha o seu programa de gravar, isso complicava e atrasava a forma de trabalhar. Decidi não trabalhar com o Pedro e convidei o Rick para cantar, foi ir de um vocalista completamente profissional para um vocalista amador. Foi a melhor escolha que fiz. O baixo ficou a cargo do Toni que é um gajo 5 estrelas e um excelente baixista, tem muitos anos de bares e concertos. Numa semana gravou 3 versões diferentes.
Em relação ao som em si, o primeiro disco foi a primeira produção do Miguel Fernandes, um amigo de anos logo notas alguma ingenuidade, o segundo disco dei ao Paulão para produzir mas com muitas restrições, o som de bateria foi o que saiu do estúdio e as vozes foram misturadas pelo Pedro. Neste terceiro disco o Paulão teve total liberdade para fazer o que ele quisesse com a musica.
O álbum Path to Serenity traz mudanças significativas na formação da banda. Como é que estas mudanças influenciaram o processo de composição e a direção musical do álbum?
As mudanças nunca alteram a forma de compor uma vez que eu componho tudo. É mais o meu estado de espirito, eu normalmente em duas semanas tenho os riffs para um disco. Depois passo as demos ao Ventura ele faz o famoso djing, estrutura os riffs de forma a fazer uma musica, depois é gravar bateria e baixo. Neste disco a voz foi trabalhada da forma que eu queria, o Rick não faz a mínima do que é cantar, então pedi ao Paulão para ir uns dias para estúdio com o Rick e entre os dois inventarem melodias, tipo quando temos 15 anos e formamos uma banda e cada um dá uma opinião sobre uma possível melodia de voz mesmo sem perceber patavina. Foi isso que resultou neste disco, a ingenuidade e total liberdade para criar o que viesse á cabeça. Sem dobrar a voz 100 vezes.
Qual foi a principal inspiração para o título Path to Serenity e como é que ele se liga à temática do álbum?
A temática do disco é sobre mim, finalmente estou em paz comigo mesmo, por esse motivo escolhi esse titulo, estou feliz a vida corre bem e quando corre menos bem dou a volta por cima em vez de cair na depressão, estou a viver uma nova vida e quis escrever sobre isso. As letras de Path to Serenity têm uma carga emocional profunda, abordando temas como desolação e reflexão pessoal.
Qual é o conceito por trás das letras e como é que elas se conectam com a música?
Sim, o Rick escreve muito bem, aliás o Rick escreveu as letras de todos os discos de On The Loose pedi ao Rick para escrever sobre a luta de sair de uma depressão coisa que ele não sabe o que é porque é um gajo que está sempre contente e fez um excelente trabalho, dei umas dicas os títulos fui eu que fiz e ele através das minhas ideias e do nome de cada musica desenvolveu. Relativamente à forma como se relacionam com a musica, epá não sei, se calhar a grande diferença de On The Loose para todas as outras bandas de doom é que as musicas são todas compostas na melódica menor enquanto as outras bandas juntam a harmónica menor para dar aquele ar mais obscuro e com a afinação em MI em vez de afinações mais graves o som fica mais heavy do que doom…não sei pode ser isto ou outra coisa qualquer.
A banda é conhecida pelas suas interpretações épicas e densas dentro do doom metal. Como foi o processo de composição das músicas deste álbum, no que toca à criação de atmosferas e emoções?
Quando começo a compor começo por um riff, harmonizo o riff, ponho uma melodia e harmonizo a melodia logo ai já estão 4 guitarras, faço isso com uns 4 riffs e tenho uma musica, para mim é um processo rápido, duas semanas consigo fazer umas 12 musicas depois é escolher com o ventura quais os melhores riffs para ele estruturar. Quando a bateria é gravada é quando a musica ganha vida depois com a voz ganha o que vozes chamam alma.
Com a entrada de Rick Thor nos vocais e Toni Cagaita no baixo, como é que a dinâmica interna da banda mudou? Trouxeram novas influências ou ideias para o álbum?
O Rick trouxe a surpresa foi uma lufada de ar fresco e a voz do Rick é o que este tipo de musica precisa, não de vozes ultra agudas, isto é Epic Doom Metal não é power sinfónico. O Toni trouxe experiencia, alegria e imaginação a base rítmica ficou muito potente.
O facto de Rick Thor ter uma carreira em outras bandas renomadas, como Filii Nigrantium Infernalium e Ironsword, influenciou de alguma forma o som da banda em Path to Serenity?
Não porque ele nessas bandas toca baixo (risos), cantou em Ravensire, mas muito pegado ao estilo de Ironsword e em Rage and Fire já se soltou um pouco mais. Mas o que o Rick gosta de cantar é mesmo Thrash Metal violento como Perpetratör. Calhou estar bem disposto e seguir as indicaçoes do Paulão.
Toni Cagaita tem uma origem no punk. Como é que essa influência punk se mistura com o doom metal no álbum? Há algo mais visível ou direto que podemos ouvir nas músicas?
O Toni é um baixista que não complica, toca o que a musica pede e é isso que se quer num baixista, contundência, tempo e alguma improvisação quando o Ventura complica na bateria.
Podes falar um pouco sobre a experiência de gravar no Paulo Vieira Studio, um local associado a bandas como The Limit e Ironsword? Como é que o ambiente de gravação contribuiu para o som final do álbum?
A única coisa que foi gravada no estúdio do Paulão foram as vozes, as guitarras gravo em casa e depois o Paulão faz um reamp com alguns amplificadores diferentes, o baixo foi em casa e a bateria foi gravada nos Coalman Studios do Vitor Bacalhau. Basicamente o Paulão faz magia na mistura e neste disco na produção vocal. Fez uns arranjos de guitarras onde faltavam, por incrível que pareça (risos).
Path to Serenity mantém uma forte identidade dentro do doom metal, mas a banda também explora nuances mais melodiosas, como se pode ouvir na versão de “1977 Simple Man”. Como é que a escolha de covers e interpretações de outras músicas reflete o estilo único de On The Loose?
Sempre que pego na guitarra ponho a tocar a Simple Man para aquecer os dedos e depois de tantas vezes decidi gravar a musica à minha maneira, a guitarra acústica passou a ter distorção e inclui umas nuances no riff principal uns bends doom muito influenciados por Candlemass. O melhor foi ter conhecido no cruzeiro 70000 tons of Metal o Gianni, vocalista dos Victory e de lhe perguntar se estava interessado em gravar a música, ele disse que sim e o resultado está aí.
Que bandas ou álbuns foram influências importantes para a composição de Path to Serenity? Achas que o doom metal português tem uma identidade própria no cenário global?
As minhas influências sempre foram NWOBHM, Candlemass, Warning e Black Sabbath mas quando componho é mesmo o que sai e se gosto fica se não gosto apago se fica ali no meio mostro ao Ventura e ele decide. O Doom Metal português, não sei. Gosto muito de Thugnor mas há pouco Epic Doom Metal, Doom Metal fico pelos Dawnrider, puro Doom Metal, sem ser Death Doom que é o que se faz mais aqui em Portugal.
O epic doom metal é um género que exalta emoções profundas e temáticas sombrias. Como é que lidam com esses temas pesados e intensos nas suas músicas, sem perder a musicalidade e a melodia?
Precisamente sem cair nas influências do death ou funeral ou sludge ou stoner metal. Epic Doom Metal tem muito a ver com Heavy Metal que é o estilo de musica que eu mais gosto e o Heavy Metal é baseado na melodia.
O que é que esperam que os fãs sintam ao ouvir Path to Serenity? Há algo que acham que será uma surpresa para os ouvintes?
Se ainda lerem as letras acho que as mesmas podem ajudar quem esteja um pouco perdido na vida. Musicalmente falando já nada se inventa dentro deste estilo mas a piada é essa, tentar criar musicas que fiquem na memória e que se possam cantar e serem lembradas num futuro.
Quais são os planos da banda para a tour de Path to Serenity? Podemos esperar concertos internacionais ou apresentações especiais em Portugal?
On the Loose é um projeto de estúdio, apesar de vários convites que já tive para alguns festivais, que desde já agradeço é muito complicado ir para a estrada com uma banda em que todos os elementos têm no mínimo mais duas bandas, além de que tínhamos que aprender as músicas e ensaiar. Um de Lisboa e três do Algarve é complicado.
Como é que veem a cena do doom metal em Portugal e, mais especificamente, no Algarve? Existe uma comunidade crescente ou a cena ainda é mais underground?
Doom no Algarve acho que só há Dawnrider mas eu não ligo muito a isso de localmente, se gosto de uma banda da Venezuela vou ouvir essa banda não me sinto na obrigação de apoiar o que é local eu apoio quem eu gosto, se não gosto passo ao lado. Pode ser português e ser uma valente merda, claro que vou passar ao lado a nacionalidade não implica afinidade, não sou um gajo de bandeiras.
Cada membro da banda tem uma bagagem musical única. Como é que as influências pessoais de cada um, desde o metal clássico até ao punk, convergem para criar o som característico de On The Loose?
De nenhuma forma porque só eu é que componho e uma vez a musica composta com uma bateria Doom o coitado do Toni só tem é que fazer o papel de gajo do Heavy Metal (risos).
O que é que, pessoalmente, cada um de vocês traz para a banda, tanto ao nível musical como da atitude ou filosofia?
Neste disco depois das alterações de formação que foram a meio da produção, a nível musical estamos todos a tocar muito melhor, o Rick até canta (risos), em termos de atitude e filosofia, finalmente estamos todos no nível da estabilidade emocional em que queremos é diversão e ser felizes. A filosofia é saber de qual cerveja ou medronho gostamos mais.
WE ARE ALL DEVILS ON THE LOOSE

