Formada em Santarém, Monstru é uma banda de cinco elementos que explora os territórios densos e intensos do doom, sludge e death metal. Com Pedro Oliveira e André Rodrigues nas guitarras, Gonçalo Pereira no baixo, Sérgio Mendes na bateria e Federico Servetti na voz, o grupo lançou recentemente o EP Aos Que Não Acordaram, consolidando uma sonoridade marcada pelo peso, pela atmosfera e pela intensidade emocional. Nascida em 2019 de uma necessidade de dar corpo a ideias que não se enquadravam noutros projetos, Monstru cresceu passo a passo, ultrapassando desafios como a falta de locais de ensaio e a pandemia, até alcançar uma dinâmica completa com todos os membros.
Por Sandra Pinto
Nesta entrevista, a banda fala sobre a génese do projeto, o processo criativo coletivo, as influências que moldam o seu som e a importância da performance ao vivo na experiência e evolução do seu trabalho.
O que nos influencia em Santarém não é o cenário musical, mas a falta dele. Não existem locais para tocar.
Olhando para o futuro, que caminhos ou experimentações gostariam de explorar no vosso som e na evolução da banda?
Para já queremos manter este caminho que traçámos com o EP. Queremos explorar mais as texturas entre guitarras, as vozes cavernosas e o peso dos ambientes.
O vosso som mistura doom, sludge e death metal. Como descreveriam a identidade sonora da banda para alguém que ainda não ouviu o vosso trabalho?
Exatamente dessa maneira, porque, quer queiramos ou não, todos nos regemos por rótulos.
Que elementos musicais ou atmosferas são mais importantes para criar a intensidade e densidade características do vosso som?
O mais importante é o todo. Toda a intensidade e densidade é atingida pela soma dos vários componentes de uma música. E muita dessa intensidade e densidade vem do texto, da palavra e do sentimento que dela advém.
Existe alguma música do EP que represente particularmente bem a essência da banda? Por quê?
As três músicas presentes no EP mostram várias facetas de monstru, quer em termos líricos como musicais. No entanto, e escolhendo só uma, talvez a que mais transmite a nossa essência, seja a Dioltas.
Se pudessem definir o Monstru com três palavras que reflitam a vossa música e identidade, quais seriam?
Escuridão, luta e poesia.
Como funciona o processo de composição no Monstru? É colaborativo entre todos os membros ou há um principal responsável?
Normalmente o processo de composição inicia com as guitarras, ou seja, com o Pedro e o André. Depois de chegarem algo mais concreto, os outros membros vão se juntando, e aí cada um faz a sua parte. Muitas vezes existem alterações à ideia original, porque cinco cabeças a pensar/ouvir, dão-nos um universo muito maior do que só duas.
Qual é o maior desafio ao equilibrar peso, melodia e atmosfera nas vossas composições?
Não cair no esperado, no previsível. E não complicar desnecessariamente. Muitas vezes o mais difícil é fazer o simples tornar-se o estritamente necessário.
Que bandas ou artistas influenciaram mais o vosso estilo e abordagem musical?
Depende do membro da banda, e cada um tem o seu estilo preferido. Penso que aí não haverá consenso. No entanto existem algumas referências para nós enquanto banda. Algumas óbvias, outras nem por isso. Process of Guilt e Phenocryst são alguns exemplos, para nos cingirmos aos nacionais.
Como evoluiu o vosso som desde a demo inicial até ao EP Aos Que Não Acordaram?
De uma forma bastante natural, por vários fatores. Na gravação da demo só havia um guitarrista, o Pedro. E a diferença é enorme, a limitação de criar anula-se pelo fato de as duas guitarras serem compostas por duas cabeças, e não por uma. Acrescentando ainda o fato de cada um ter o seu estilo de tocar e de som, e isso traz mais dimensão e dinamismo. Depois, e não menos importante, a mudança de afinação, que nos trouxe um ambiente mais obscuro e também mudanças rítmicas inerentes à diferença de comportamento das frequências sonoras. Por último, em termos líricos ficámos mais maduros. Os primeiros textos mostravam uma entidade à procura da sua identidade, eram mais crus e menos penetrantes, pelo menos na sua grande maioria. Neste Ep estamos convencidos que fizemos algo para ultrapassar isso.
Que papel a performance ao vivo tem na forma como vocês interpretam e evoluem o vosso som?
É primordial, é-nos necessária pois é a nossa essência. É aí que realmente sentimos a reação do público ao nosso trabalho, onde podemos perceber o que funciona e o que mais os emociona. E estamos realmente a sentir falta desse ambiente, este ano estivemos fechados na nossa caverna a criar e a gravar este EP, e estamos com fome de palco.

