Museu do Oriente mostra exemplares raros da cultura timorense
Esta exposição reúne cerca de 70 exemplares, oriundos de Timor Ocidental e Timor-Leste, datados do século XX ou mesmo anteriores, que testemunham um tipo de produção artesanal feita por mulheres em teares tradicionais de madeira.
A maioria das peças pertence à colecção de um dos maiores especialistas na área, Peter ten Hoopen, e algumas são consideradas bastante raras, pela técnica e padrões utilizados, bem como pela sua proveniência de Timor-Leste.
Peter ten Hoopen começou a interessar-se por esta arte timorense no final dos anos 70, mas só a partir de 2010 é que decidiu coleccioná-la e estudá-la activamente. “Quando lidamos com uma cultura que está a desaparecer rapidamente, mais do que coleccionar peças emblemáticas, importa preservar o conhecimento nelas contido. Se a transferência tradicional de conhecimentos saltar uma geração, esse conhecimento perde-se para sempre. É por isso que vejo esta colecção como um projecto de património cultural, e não apenas um somatório de objectos”, explica.
Durante milhares de anos, o ikat, uma das técnicas decorativas mais comuns existente também nos tais futus timorenses, foi um elemento central da cultura austronésia, funcionando como um meio de comunicação e linguagem, transmitindo valores e normas, sentido de pertença, diferenciando classes sociais, testemunhando fenómenos de interculturalidade, de significados, associações, carga simbólica e mitos de origem, materializados nos padrões decorativos, nas cores usadas e na ordem da sua aplicação. Grande parte destes panos, tecidos pelas mulheres de uma linhagem, era guardado, sendo considerado património dessa linhagem e necessário para as trocas rituais em cerimónias de aliança, casamento, nascimento e morte.
O longo período de agitação política vivido por toda a ilha, a partir da década de 70 do século XX, as alterações do estilo de vida das populações e o desinteresse a que este artigo de vestuário foi entretanto votado, por se considerar já não estar ‘na moda’, fez com que grande parte do seu património têxtil fosse destruído.
Após a realização, em 2014, da exposição “Linguagens Tecidas”, dedicada exclusivamente aos ikat indonésios, o Museu do Oriente mostra agora uma tradição que desempenha ainda um papel primordial na sociedade e cultura timorenses, apesar da perda irreversível de exemplares mais antigos que serviam de modelo às novas gerações.
Timor: Totems e Traços
Inauguração | 12 de Dezembro | 18.30
Até 15 de Março 2020
Horário: terça-feira a domingo, 10.00-18.00
(à sexta-feira o horário prolonga-se até às 22.00, com entrada gratuita a partir das 18.00)
Preço: 6 euros
Visita orientada pelo coleccionador Peter ten Hoopen
13 de Dezembro | 11.30 | Entrada gratuita