Moonspell + Rotting Christ + Silver Dust no Capitólio em noite de celebração

Foi uma verdadeira celebração a vinda a Lisboa dos Moonspell. A meio da tour que a banda portuguesa está a realizar pela Europa, a noite de 05 de Novembro foi realmente muito especial. E os motivos foram vários, sendo que os principais recaíram sobre o facto de estarem a tocar em casa e terem por companhia uma das bandas com que os Moonspell sempre tiveram fortes laços de afinidade musical e pessoal, os gregos Rotting Christ. A abrir a noite, os suíços Silver Dust.

Texto: David Pissarro e Sandra Pinto
Fotos: Luís Pissarro

A primeira parte da noite foi da autoria dos Silver Dust, uma banda proveniente da Suíça (país de onde, em termos de metal extremo, apenas conhecemos os Celtic Frost) que pouco tem a ver com as duas bandas principais da noite, mas que apesar de não praticarem tanto metal extremo, conseguiram puxar e aquecer o público lisboeta e é isso que se pede a uma banda de suporte.
O quarteto suíço junta elementos musicais de dark rock e de gótico com algumas nuances de metal moderno e alternativo, sendo que em certas alturas o vocalista (Lord Campbell) canta de um modo particular, muito associado ao vocalista Serj Tankian (System of a Down) com bastantes vibratos e falsettos. Em termos visuais, a banda apresenta-se vestida com uma indumentária vitoriana, proveniente do género de ficção cientifica do qual a banda tem influências, o steampunk. Em geral, um bom concerto apesar de o volume estar bastante reduzido.

Após o concerto de Silver Dust, foi a vez dos Rotting Christ trazerem a palco a sua brutalidade numa atmosfera anti-religiosa e herética. Os gregos estiveram em Lisboa no ano passado, no RCA Club, e fazia todo o sentido voltaram para tocar numa sala maior. Tendo ganho bastante visibilidade com o lançamento de “Kata Ton Daimona Eaytoy”, em 2013, os Rotting Christ têm vindo a ver crescer a sua base de fãs por terras lusas, tendo sido esta noite foi prova disso mesmo, com uma sala inteira a cantar em uníssono “Non Serviam”.

Os gregos vieram apresentar o seu trabalho mais recente, “The Heretics”, um álbum um pouco diferente do habitual black metal de Rotting, muito virado para o melódico, mas com alguns toques atmosféricos e com passagens faladas e cantadas nas mais diversas línguas (grego, russo, latim, entre outras) que ao vivo conseguem dar origem a uma poderosa aura que emana de cima do palco para abraçar toda a plateia.
Os helénicos tocaram também muito material antigo com aquele toque inicial de black metal misturado com thrash metal, como a poderosa “Non Serviam” e com músicas como “Societas Satanas”, “The Forest Of N’Gai” e “Grandis Spiritus Diavolos”.

Grande presença em palco por parte dos guitarristas (Sakis Tolis – membro fundador – e Giannis Kalamatas – guitarrista de sessão) e do baixista (Kostas Spades – baixista de sessão). De referir que estes músicos de sessão se juntaram ao duo de Atenas este ano, conseguindo ampliar e fortalecer a imagem e a presença dos Rotting Christ.
O som tinha uma óptima qualidade e mixagem, mas o volume estava baixíssimo, o que afectou parte da atmosfera que os Rotting Christ criaram no palco do Capitólio. Este é talvez um dos únicos aspectos negativos do concerto deles, pois tirando a questão do volume do som, o concerto dos Rotting Christ foi, sem dúvida, grandioso e muito energético.

Levar a cabo a verdadeira empreitada de realizar uma tour de 52 datas não é para todos. Na verdade é só para alguns. Para aqueles que ao longo dos anos foram cimentando uma carreira coesa baseada em forte alicerces, como a qualidade musical e uma entrega ímpar em palco. Sim, falamos dos Moonspell, a banda portuguesa que se fez à estrada para espalhar a palavra um pouco por toda a Europa em mais de cinco dezenas de concertos. Não sabemos como têm sido os espectáculos lá fora (percebemos apenas pelas redes sociais que o sucesso tem sido uma constante), mas sabemos como foi a passagem dos cinco magníficos pela capital, e, numa palavra, podemos resumir: brutal!

A ideia era trazer a palco pela derradeira vez o álbum “1755” antes da banda se aventurar em novos projectos, mas a verdade é que o concerto foi, e muito além, deste maravilhoso trabalho. Fãs do trabalho dos Moonspell desde sempre, a verdade é que com “1755” nos conseguiram surpreender, desde logo pelo facto de ser todo ele cantado em português, algo que não era hábito neles, e depois pelo tema abordado, uma das datas mais dramáticas e impressionantes da história de Lisboa, o terramoto de 1755. Cada tema do disco conseguiu trazer a aura do que se passou naqueles dias e nos que se seguiram. Ou pelos menos assim somos levados a pensar através das palavras magistralmente bem escritas por Fernando Ribeiro, o vocalista e também compositor da banda.

Em palco, cada tema adquire uma força incrível. Verdadeira torrente de emoções transportadas pela voz de Fernando e pelas notas rasgadas dos instrumentos dos seus companheiros de banda. O resultado não podia ser melhor: canções melodicamente intensas, possuidoras de uma força poética singular. Da plateia ninguém se fez rogado e todos se entregaram nos braços dos Moonspell para serem embalados pela sua banda de eleição. O público mostrou saber de cor cada letra e cada sílaba do novo álbum o que nos deixou particularmente felizes, pois esse facto deu origem a momentos absolutamente arrepiantes com um Capitólio cheio a cantar a plenos pulmões “Em Nome Do Medo”, “1755”, “In Tremor Dei” ou “Todos os Santos”.

Genuinamente contentes por estar a tocar em Lisboa, os Moonspell, «uma banda que veio da Brandoa», como relembrou Fernando Ribeiro, fizeram questão de trazer para o alinhamento algumas das suas composições mais icónicas. Enquanto fãs, só nos resta agradecer essa opção pois foi ela a responsável por termos tantos bons momentos para recordar daquela noite. Num crescendo de intensidade, a noite foi caminhando rumo ao êxtase musical que chegou num encore, a nosso ver, perfeito. Se “Todos os Santos”, de “1755” tem tudo para se tornar em mais um ícone da carreira da banda, a verdade é que “Ataegina”, do incrível “Wolfheart”, e “Full Moon Madness”, do soberbo “Irreligious”, já o são. E isso percebeu-se naquela noite de 5 de Novembro.

Só nos resta agradecer aos Moonspell por mais uma noite memorável e desejar-lhes uma excelente tour, pois, “fortes fortuna adjuvat” ou seja “a sorte favorece os audazes”.

Silver Dust

Rotting Christ

Moonspell

Setlist Rotting Christ
666
Dub-sag-ta-ke
Fire, God and Fear
Kata Ton Daimona Eaytoy
Apage Satana
Dies Irae
The Forest of N’Gai
Societas Satanas
King of a Stellar War
In Yumen-Xibalba
Grandis Spiritus Diavolos
Non Serviam

Setlist Moonspell
Em Nome Do Medo
1755
In Tremor Dei
Desastre
Opium
Awake
Night Eternal
Abysmo
Breathe (Until We Are No More)
Extinct
Everything Invaded
Evento
Mephisto
Vampiria
Alma Mater
Encore
Todos os santos
Ataegina
Full Moon Madness

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