Moonspell apresentam Hermitage numa noite épica e para sempre memorável
Lançado a 26 de fevereiro deste ano, o 13.º álbum de estúdio dos Moonspell assinala mais uma viragem no som da banda. Se dúvidas houvesse quanto ao impacto do disco junto dos fãs da banda, todas ficaram dissipadas na noite de ontem, aquando da apresentação de Hermitage no palco do “novo” LAV.
Texto: Sandra Pinto
Fotos: Luís Pissarro
«É o Hermitage que nos escolhe e não nós que escolhemos o Hermitage», afirmou Fernando Ribeiro na última conversa que com ele tivemos, e à qual podem assistir aqui. Na verdade, Fernando respondia assim à questão de como iria o público fiel de Moonspell reagir ao novo disco. Mais de quatro meses depois, será inevitável constatar que muitos foram os escolhidos, sendo que uma parte deles compareceu ontem no LAV e muitos outros assistiram via streaming.
Hermitage é o primeiro registo discográfico da banda sem o baterista, Mike Gaspar. Hugo Ribeiro, o novo elemento da alcateia, mostrou em disco estar mais do que à altura da tarefa, mas a verdadeira prova dos nove teve-a ontem e aqui vos garantimos que passou com distinção, tendo já ganho um espaço no coração dos fãs. Gravado nos Orgone Studios, no Reino Unido, com produção e mixagem de Jaime Gomez Arellano, conhecido pelo seu trabalho com Paradise Lost e Ghost entre outros, Hermitage baseia-se naquilo que a existência humana tem de mais sombrio. Com uma forte componente épica, o álbum mostra uns lobos, simultaneamente, modernos e tradicionais no que diz respeito ao som com o qual nos têm brindado durante estes quase 30 anos de carreira.
O alinhamento do concerto seguiu o disco pelo que a noite teve inicio com “The Greater Good”, à qual se seguiu “Common Prayers” e “All or Nothing”. Ao contrário da noite anterior, Fernando esteve parco de palavras, pelo que além do tradicional «boa noite», nesta primeira fase do concerto só falou para apresentar a música que dá nome ao álbum, «vamos todos a caminho da ermida». Mas, a verdade é que o público de ontem era também ele menos falador do que o público da noite anterior, algo assinalado pelo carismático vocalista. «Podem gritar Portugal, mas o que queriamos ouvir era Moonspell…ontem gritaram bastante mais…nem tive de pedir».
A sequência de músicas que se seguiu começou com “Entitlement”, passou para “Solitarian” e terminou com a épica “The Hermit Saints”, na qual se sente a presença das mais puras influências da banda, como é o caso de Bathory. Ao longo das três décadas de carreira, os Moonspell mantiveram sempre o seu caminho, não se desviando dele um milímetro que fosse. Como que a sublinhar exatamente isso, o Fernando refere «quando temos uma ideia na cabeça é para a levar até ao fim, tal como aconteceu com este concerto», e, acrescentamos nós, com o álbum Hermitage, com o qual surpreenderam muita gente.
Com o fim do concerto a aproximar-se, o set de músicas final teve inicio com “Apophthegmata”, à qual se seguiu “Without Rule”, tendo o concerto terminado com “City Quitter”. «Nunca nos esqueceremos deste concerto nem do concerto de ontem», garante Fernando Ribeiro, ao que alguém responde da plateia, «vocês são enormes». De facto, é esta a força dos Moonspell, a garantia de que para eles os fãs estão em primeiro lugar, é para eles que a banda vive e por eles que a cada álbum dá mais e mais de si enquanto coletivo, enquanto músicos, enquanto artistas.
Como um bom vinho, Hermitage precisa ainda de ganhar corpo, não enquanto disco, pois está perto da perfeição, mas enquanto apresentação ao vivo, altura em que as músicas precisam da energia do público. É precisamente a este que compete agora perceber que este 13.º disco dos Moonspell é para ser degustado com calma, para se ir descobrindo as diferentes camadas que cada música tem para nos mostrar. Ouvir Hermitage é encetar numa viagem épica, revolucionária e memorável, basta que nos deixemos ir, sem medos, receios, pudores ou ideias preconcebidas. No final, temos a certeza que a viagem será deveras compensadora.
Falemos agora do encore. E que encore, senhores! Se o de ontem tinha sido bom, este, confesso, encheu-nos as medidas.
«Nos nossos olhos a sombra do lobo», afirma Fernando Ribeiro, introduzindo desta forma “Wolfshade”, tema do álbum editado em 1995, Wolfheart.
Vinte anos depois, em 2015, era lançado Extinct, um álbum que, temos de confessar, é ainda hoje um dos nossos preferidos, pelo que aos primeiros acordes de “Breathe” saltámos da cadeira e dançámos. Calma, estávamos em casa, era permitido, o que nos faz “tirar o chapéu” ao público presente no LAV que, cumpridor das regras, não se levantou das cadeiras.
«Não há nada como a música», reforça Fernando «é-nos muito difícil ver-vos sentados, mas garanto-vos que a vossa energia chega aqui, acima do palco». Em 2008, era lançado mais um dos marcos da carreira da banda, “Night Eternal”, o oitavo registo de estúdio dos Moonspell. E, foi, precisamente o tema que dá nome ao disco que a banda trouxe para o encore desta noite. Ninguém ficou indiferente, e pelas imagens via streaming que nos iam chegando podemos afirmar que foi, sem dúvida, mais um grande momento de comunhão entre a banda e os seus fãs que se viveu no LAV.
Duas músicas para o fim, e Fernando anuncia que a que se segue nunca foi tocada na capital, «vamos tocar este tema pela primeira vez em Lisboa», referindo-se a “Shadow Sun”, do mesmo disco de 2008. Porque nunca fez parte dos sets apresentados em Lisboa não fazemos ideia, mas que foi muito bem recebida não temos dúvidas.
«Vamos ter de acabar para não sermos todos presos», afirma Fernando Ribeiro, numa clara referência à situação de exceção que se vive em Lisboa. «E vamos fazê-lo da mesma forma como acabámos ontem», revela, acrescentando «obrigado por terem vindo, vocês são a nossa “Alma Mater”». E foi em ambiente de festa que esta segunda apresentação dos Moonspell, numa Lisboa cercada, terminou.
O concerto vai estar disponível durante 96 horas, assim como o concerto de sexta-feira.
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