Milagre Metaleiro Open Air 2023 Dia I: A lua brilhou mais forte sob o feitiço dos Moonspell
Na aldeia de Pindelo dos Milagres, a edição 2023 do festival Milagre Metaleiro prometia. Com um cartaz digno de nota, o primeiro dia do evento viu um mar de gente que chegou ao recinto para se deixar enfeitiçar pela música dos Moonspell, que não se fizeram rogados e derem um concerto incrível.
Texto: Sandra Pinto
Fotos: Luís Pissarro
O death metal melódico sueco chegou com Frantic Amber. A banda oriunda da cidade de Estocolmo, fundada em 2008, chegou para arrasar algo que conseguiu na perfeição. A liderar, a dinamarquesa Elizabeth Andrews deu tudo demonstrando ter uma presença forte que agarrou todos os que sob o calor e o poder do sol se juntaram na plateia. Com uma forte presença feminina, estando a bateria entregue ao único elemento do sexo oposto, Mac Dalmanner, a banda apresenta um som brutal pleno de riffs intensos. Mas calma, ali também existe melodia, a qual é pontuada por guturais impactantes. Além dos elementos que já referimos, a banda integra ainda a japonesa Mio Jäger (guitarra), Milla Olsson (guitarra) e Madeleine Gullberg Husberg (baixo). O baixo e a bateria dão a pedra de toque ao som que ganha novos contornos quando Elizabeth abre, literalmente, a boca. Teriam ganho se tivessem atuado a uma hora mais tardia? talvez, mas pela nossa parte ficámos conquistados.
Hadadanza deram a primeira festa do festival. Oriundos de Espanha, mais precisamente da cidade de Alicante, a banda nasceu em 2017 da inspiração do vocalista Dave Simarro e do guitarrista Jose Segura. Praticantes de um folk metal, o coletivo trouxe o mundo do circo ao palco dos Milagre. Cor, animação e muita alegria fizeram da sua atuação um momento de pura partilha. Através de canções muito bem trabalhadas, cheio de calor, garra e muita melodia, a banda espanhola divertiu todos, arrancando constante sorrisos aos festivaleiros. A dança não parou, enquanto em cima do palco os músicos pareciam saídos de uma mundo pleno de magia e imaginação. Mudanças de ritmo bem-sucedidas ao longo do alinhamento, não deixou ninguém descansar o que demonstrou muita inteligência na sua escolha.
O power metal chegou ao Milagre com Angus McSix. Tal power ranger, o vocalista suíço Thomas Winkler (antigo elemento dos Gloryhammer) surge empunhando uma espada, como que a querer defender todos os presentes. Não foi preciso, pois os muitos que ali estavam entregaram-se sem medos à performance que acontecia em cima do palco. Editada pela Napalm Records, a banda formada em 2022 apresenta cada tema como se de uma página de banda desenhada se tratasse. Tendo a fantasia como pano de fundo, Angus McSix, o herói vestido de dourado, é acompanhado por Sebastian “Seeb” Levermann (Orden Ogan), Thalia Bellazecca (ex-Frozen Crown) e Manu Lotter (ex-Rhapsody OF Fire). Todos juntos contam a história do guerreiro Angus e a sua jornada para adquirir o poder da espada Sixcalibur. Não sendo o nosso estilo musical preferido, percebemos que tal não acontecia com os que na grade vibravam com as lutas contra os dinossauros e outros mauzões. No final, o poder da espada lá é conquistado e o herói sai feliz do palco do Milagre.
O ano de 1997 marcou a fundação dos Opera Magna. Defensores do mais puro power metal sinfónico, oriundos da cidade de Valência, têm no vocalista, Jose Vicente Broseta, o seu porta-estandarte que, sem dúvida, é dono de uma das vozes mais poderosas e carismáticas oriundas de Espanha. Sendo uma das bandas do género com maior aceitação no seu país natal, os Opera Magna sentiram-se em casa, uma vez que foram muitos os nuestros hermanos que se deslocaram a Portugal para participar no festival. Em palco F. Javier Nula, na guitarra solo, Enrique Momp, na guitarra rítmica, Rubén Casas, nos teclados, Alejandro Penella, no baixo, e Adrià Romero, na bateria, juntam-se para dar corpo a um alinhamento composto por canções fortes e impactantes que deixaram deliciados os muitos fãs que se encontravam na plateia.
A noite continuou pelo território do power metal, o qual, pela mão dos Orden Ogan, surge pontuado por elementos progressivos e oriundos do folk metal. O quinteto alemão brilhou com um alinhamento repleto de canções donas de melodias cativantes e refrões grandiosos, o que muito agradou aos muitos fãs. Não faltaram os riffs mais agressivos e um andamento acelerado para dar o toque certo à prestação dos germânicos.
Oriundos da cidade Invicta, os Blame Zeus posicionaram-se cheios de garra perante uma plateia repleta. Viajando entre muitas influências, é impossível não fazer desde logo referência à voz (ou melhor vozeirão) de Sandra Oliveira. A qualidade da banda nasce na qualidade de cada um dos músicos que a integra: Ricardo Silveira, Paulo Silva, Tiago Lascasas e Bruno Branco. Canções para onde confluem um sem-número de influências, fizeram do alinhamento dos portugueses algo muito perto da perfeição. Uma apresentação que podia ter acontecido numa sala pequena, pois os Blame Zeus têm essa capacidade, a de nos transportar para ambientes intimistas mesmo que estejamos no meio de uma multidão. Aposta ganha!
Corria o ano de 1987 quando Christofer Johnsson, vocalista e compositor decidiu dar vida a Therion. Oriunda da Suécia, a banda de metal sinfónico foi uma das que grande parte dos festivaleiros queria muito ver no primeiro dia do Milagre. E, se as expetativas estavam em alta antes do concerto, as mesmas foram perfeitamente correspondidas quando o mesmo terminou. Ocultismo, magia e tradições antigas encheram o palco com uma energia forte e intensa. Sendo esses os temas preferidos pela banda para abordar nas letras das suas canções, a verdade é que encaixam na perfeição com a harmoniosa música praticada pelos suecos, a qual pontua a agressividade do metal com a complexidade harmónica da música clássica. O resultado? Algo de único que casa bem como significado do nome do grupo, que, em hebraico significa Dragão, a Grande Besta. Bem cool, não acham?
Vizinhos do festival, os Shutter Down chegaram da cidade de Viseu. Nascida em 2011, aquela que começou como uma banda de covers provou, e bem, que tem um som próprio com um bom caminho pela frente. Jorge Pinto, no baixo, André Zumckeller, na guitarra solo, Carlos Andrade, na guitarra ritmo, Sérgio Maia na voz e André Lázaro na bateria apresentaram-se, sem rodeios, com a clara intenção de tomar de ataque o palco do festival. Aos comandos, Sérgio Maia, dono do microfone, entregou-se de corpo e alma a captar a atenção do público, algo que teve um bom impacto com os festivaleiros a aderirem aos seus apelos. É sempre bom ver bandas nacionais serem assim, bem acolhidas.
O momento grande da noite estava guardado para a entrada em palco dos Moonspell. O que escrever sobre o que ali se passou, quando as palavras não são suficientes para descrever a emoção que tomou conta do recinto do Milagre Metaleiro…Podíamos dizer que a banda de Fernando Ribeiro estava no seu habitat natural, mas isso é demasiado redundante, uma vez que o alinhamento conseguiu surpreender muitos dos presentes. Com os Moonspell em palco nada falha: músicos exímios com anos de comunhão (onde o baterista Hugo se encaixou que nem uma luva), conseguem dar concertos onde a alma de cada um dos elementos do público se sente parte desta tribo: a tribo que, à luz da lua, faz música inspiradora e transcendente. A energia que se sentia no recinto era incrivelmente intensa. Momentos houve em que fechámos os olhos e nos deixámos levar pela voz de Fernando e pelas notas tocadas pelos seus companheiros, deixando-nos transportar para um universo paralelo onde visitamos a Lisboa do terramoto, onde descobrimos o poder e a loucura da lua cheia, onde sentimos a mais pura alma portuguesa, e onde na noite eterna nos cruzamos com Ataegina, a deusa lusitana do renascimento, da fertilidade, da natureza e da cura. Se foi bonito? Não, pois bonito aqui não se aplica. Quando momentos como estes acontecem só podem ser classificados de belos e inesquecíveis para quem teve o privilégio de os viver. E isso, temos a certeza que se passou com Fernando Ribeiro, que teve um Milagre inteiro a cantar-lhe os parabéns por ocasião nessa noite da celebração dos seus 49 anos de vida. Parabéns Fernando, e parabéns Moonspell. Vida longa a ambos (connosco sempre por perto).
Obscuros e místicos, coube aos Graveworm fechar a primeira noite do Milagre Metaleiro Open Air 2023. A verdade é que não podia mesmo ter terminado de melhor maneira. Os italianos encheram o recinto com o seu black metal melódico fazendo felizes os verdadeiros apreciadores do género. Formados em 1992, a banda apresentou-se possuidora de um poder tremendo, muito por culpa de Stefano Fiori, vocalista e um dos fundadores. A energia que carrega no corpo, consegue passá-la para cada um dos temas que interpreta, o que impregna cada uma delas de um poder intenso e carismático.
Frantic Amber
Hadadanza
Angus McSix
Opera Magna
Orden Ogan
Blame Zeus
Therion
Shutter Down
Moonspell
Graveworm