Foi um Capitólio a rebentar pela costuras aquele que recebeu uns Melvins energicamente incríveis
Velhos são os trapos. Quanto mais para a frente caminhamos na idade mais acreditamos nesta frase. E depois quando nos cruzamos com músicos como os Melvins ficamos absolutamente convictos da sua veracidade. Que energia incrível de uma banda que é um verdadeiro ícone do universo do rock.
Texto: Sandra Pinto
Fotos: Luís Pissarro
Quando vamos a um bom restaurante algo que nos agrada é uma boa entrada, pois, servindo ela como a porta para o prato principal, complementa-o de uma forma harmoniosa. Serve esta apresentação para explicar porque para nós os Vircator foram a melhor entrada que os Melvins poderiam ter tido para a sua apresentação em Lisboa. Praticando um rock cósmico que nos transporta para aquele universo composto por ondas e nuvens pelas quais navegamos sem medo de nos perdermos, a banda portuguesa conseguiu captar (e bem) a atenção do público. Numa velocidade progressiva em direção ao êxtase onde se sente o peso de uma tempestade cheia de riffs, a banda serviu um alinhamento coeso durante o qual demonstrou a sua enorme qualidade de executantes. Oriundos de Viana do Castelo, os Vircator (impulso eletromagnético gerador de micro-ondas que quando disparado deixa a sua marca desligando tudo o que é eletrónico levando-nos para um estado em que só o que é mecânico funciona), deram um espetáculo inteiro e cativante, misturando bem os sons e criando riffs que se pegam ao ouvido. Mais do que uma aposta ganha, servir os Vircator como entrada dos Melvins revelou-se um tiro certeiro.
Entremos numa máquina do tempo e programemos a viagem até ao ano de 1983, tendo como destino a localidade norte-americana de Montesano, no estado de Washington. Foi precisamente naquela data e naquele lugar que nasciam os Melvins, a banda que viria a marcar o universo do rock. Se tal viagem fosse possível, temos a certeza de que muitos daqueles que encheram o Capitólio não teriam hesitado e teriam embarcado na jornada. Quarenta anos depois, os miúdos de então surgem em palco já não tão miúdos, mas com uma energia invejável. Sem tempo para nostalgias, os Melvins souberam dar um concerto incrível onde mostraram que os velhos são os trapos.
Desde sempre donos de uma tremenda vitalidade criativa, os Melvins surgiram nesta vinda a Portugal, a primeira em nome próprio, com Buzz Osborne na guitarra e na voz, Dale Crover na bateria e Steven McDonald no baixo. Excêntricos e inconformados durante os quarenta anos de existência, a banda apresenta-se hoje como uma das mais respeitadas e disso mesmo deram conta em mais de uma hora do mais sludge metal.
“Take on me” dos A-Ha serviu de entrada para a torrente de energia musical que viria a seguir. Buzz Osborne, com o seu característico cabelo (que por vezes parecia nuvens de algodão doce colorido)e vestido com uma túnica, em tudo se assemelhava a um xamã, o que nos pareceu muito bem, uma vez que ali se professou a mais bela das religiões: o amor à música e a veneração a quem a faz.
Sem conseguir conter a emoção, o público, alguns vindos de longe, como a ilha da Madeira, deu tudo. A aura de positividade que trespassava a cara de todos ganhou forma no corpo dos muitos que se atiraram num crowd surfing sentido e vivido com amor e plena paixão pela sua banda. A sério, não há nada mais bonito! Tal passadeira vermelha da entrega dos Óscares, o alinhamento ia sendo servido com a execução de grandes clássicos, como “Boris”, durante o qual a loucura foi incrível!