Decapitated e “amigos” no LAV- Lisboa ao Vivo: uma noite para recordar
Quatro bandas; quatro excelentes prestações. Kassogtha, da Suíça, Nervosa, do Brasil, Incantation, dos Estados Unidos da América, e Decapitated, da Polónia, mostraram (e bem) o quanto a paixão e o amor pela música é universal.
Texto: Sandra Pinto
Fotos: Luís Pissarro
A abrir a noite uma banda pela qual temos um carinho especial. Coube aos suíços Kassogtha abrir a noite que se viria a revelar memorável. A banda de death metal apresenta a diferença de surpreender com muitos elementos melódicos e progressivos, sendo que apresentou um alinhamento baseado sobretudo no seu último álbum, rEvolve, lançado em 2022. Com uma voz poderosa, a Stéphanie Huguenin, com sua voz poderosa e corajosa, dominou o palco. Passeando a sua voz por entre padrões graves, com a adição de partes limpas no meio deu um show de voz e presença. A seu lado os guitarristas Mortimer Baud e Martin Burger oferecem ao público riffs cativantes e detalhes técnicos dignos de nota. E o que dizer do nosso querido Dylan Watson? O baterista da banda mais uma vez mostrou toda a sua energia extremamente contagiante e qualidade digna de nota. Uma “aposta” sempre ganha!
Uma atuação de altíssima qualidade: foi assim a apresentação das Nervosa. Mulheres poderosas, praticantes de um thrash metal imparável estiveram como peixe na água. Bem recebidas pelo público, a banda brasileira não se acanhou, bem pelo contrário: arregaçou as mangas (lol) e deu um concerto imparável e pleno de energia. No meio de tantos riffs ainda houve tempo para cantar os parabéns à baterista Gabriela que ainda teve direito a bolo de aniversário (ainda dizem que a malta do metal não é “fofinha”…). A química entre os elementos da banda entre si é tremenda e ganha continuação na química que transborda do palco para a plateia. Há uma envolvimento impressionante da banda com o seu público, algo que certamente faz inveja a muita gente que por aí anda no mainstream. Poderosos riffs de guitarra, linhas de baixo estrondosas e bateria implacável. A juntar tudo a voz de Prika Amaral, a imagem perfeita da mulher com M grande que está ali para ser o que lhe apetecer e para dizer isso mesmo aos outros, desafiando-os e as a fazerem o mesmo! Mais nada!
Verdadeira instituição do death metal norte-americana, os Incantation andam na estrada a celebrar as suas três de existência. Eram muitos os que se tinham deslocado ao LAV com a intensão exclusiva de os ver e isso percebeu-se bem quando a banda subiu ao palco. Demolidores, os norte-americanos não deixarem nenhum ouvido incólume, marcando a “ferro e fogo” o seu som em cada um dos presentes. A verdade é que em nada se notam os 30 anos de vida: apresentando um concerto absolutamente impactante conseguiram uma brutal devastação auditiva que caiu sobre o LAV como uma chuva de meteoritos sonoros.
Com um alinhamento de luxo onde não faltaram temas antigos com mais recentes, os Incantation “mimaram” o seu público com hinos como ‘Deliverance Of Horrific Prophecies’, ‘The Ibex Moon’ e ‘Blasphemous Cremation’, Do material mais recente destacam-se ‘Lead To Desolation’ e ‘Siege Hive’, ou ainda ‘Concordat’ do próximo álbum da banda ‘Unholy Deification’. O único membro original da banda, John McAntee, demonstrou estar numa forma impecável trazendo entregando guturais que faziam tremer a terra e gritos de gelar o sangue. Ao mesmo tempo acompanhava Luke Shively, o outro guitarrista com uma infinidade de riffs sujos o quanto baste. Com a mesma paixão dos inícios dos 90, os Incantation deram a mais pura e verdadeira masterclass de death metal.
A atração principal da noite foram os polacos Decapitated, senhores do death metal. Esta tour surge como sendo algo de especial uma vez que celebra o aniversário do álbum “Nihility”. A banda sobe a palco inundando a sala com um som claro e contundente que garantiu que o poder das suas músicas fosse totalmente interiorizado e vivido de uma forma explosiva por um público desejoso de sentir o som da banda.
“Nihility” foi o pilar do concerto com as músicas do álbum a ganharem ali uma amplitude e impacto ainda maiores. O público que enchia por completo a sala lisboeta mostrava-se absolutamente deleitado com a execução dos músicos participando energicamente de músicas como ‘Eternity Too Short’ e ‘Spheres Of Madness’. Pescoços ao rubro, cabelos a voar, era o death metal a percorrer as veias, os poros e os cérebros de todos. Um dos momentos de ainda maior intensidade (há que dizê-lo sem medos) foi a execução da cover de ‘Suffer The Children’, dos Napalm Death, tema bónus na versão especial de “Nihility”. Ainda houve tempo para apresentar material mais recente, o que nem por isso abrandou o entusiasmo de todos, com grande parte a demonstrar sem conhecedor de “Cancer Culture”, o mais recente registo discográfico dos Decapitated. Os polacos surgem como uma máquina bem treinada e devidamente oleada. Fazendo do death metal a sua bandeira e razão de viver, a banda tem nos riffs de Vogg algo de absolutamente feroz, que ganha a companhia certa no impiedoso ataque vocal de Rasta. No final os sorrisos eram muitas e rasgados, fosse nos rostos dos elementos da banda ou do suado (e feliz) público.